‘Guerra em Gaza foi tiro no pé do sionismo’, afirma deputado após evento internacional pela Palestina
João Daniel (PT-SE) compareceu ao Fórum Global Anti-Apartheid na Palestina e considerou ser ‘evidente que plano de Israel fracassou’
Considerando que “as ações genocidas do governo Netanyahu levaram ao mundo o debate da causa palestina”, o deputado federal João Daniel (PT-SE) avaliou que apesar do conflito na Faixa de Gaza não ter chegado ao fim “não é preciso ser vidente para saber que seu plano fracassou”.
A Opera Mundi, o único político brasileiro que compareceu ao Fórum Global Anti-Apartheid na Palestina, realizado na África do Sul, entre os dias 10 e 12 de maio, usou como argumento para sustentar sua tese o fato de que o governo Netanyahu e Israel “perdem cada vez mais países ocidentais aliados”, que aderem ao reconhecimento da Palestina.
Para Daniel, o Fórum representou um “marco histórico na luta pela justiça na Palestina” e reconheceu o avanço da pauta palestina no Brasil, com as duras declarações do presidente Lula contra a ofensiva de Israel na Faixa de Gaza.
Após a reunião em prol da paz no Oriente Médio, motivo pelo qual o deputado sofreu ataques por suposto antissemitismo, Daniel aponta para um novo norte na luta pró-Palestina: a reconstrução do enclave.
“Nossa luta agora será debater uma das propostas que saíram da audiência pública e foi apresentada pelas entidades palestinas que lá estiveram: propor aos países que lideram Brics, com apoio da Liga Árabe, um plano de reconstrução da Faixa de Gaza, porque os palestinos certamente não confiam nas intenções norte-americanas e muito menos nas israelenses, quando propuseram seu plano mal intencionado de reconstruir aquele local”, afirmou.

JBouchez/Wikicommons
Para João Daniel (PT-SE), o Fórum Global Anti-Apartheid na Palestina representou um “marco histórico na luta pela justiça na Palestina”
Confira na íntegra a entrevista do deputado João Daniel (PT-SE) a Opera Mundi:
Opera Mundi: Como o senhor vê a luta pela Palestina e o fim do genocídio no Brasil?
João Daniel (PT-SE): Netanyahu mostrou ao mundo um mapa em que Israel ocupa este território hoje em conflito, a Faixa de Gaza, como se este território fosse israelense. O conflito não acabou, mas não é preciso ser vidente para saber que este plano fracassou.
Não apenas isso, as ações genocidas do governo Netanyahu levaram ao mundo o debate da causa palestina. Cada vez mais países ocidentais “aliados” ao governo israelense estão aderindo ao reconhecimento da Palestina. Diversas são as manifestações pró-Palestina em todo planeta. Ou seja, em médio prazo esta guerra foi um tiro no pé da ideologia sionista.
No que se refere ao Brasil, o presidente Lula já deu importantes demonstrações verbais e diplomáticas sobre o conflito. Nossa luta agora será debater uma das propostas que saíram da audiência pública e foi apresentada pelas entidades palestinas que lá estiveram: propor aos países que lideram o Brics, com apoio da Liga Árabe, um plano de reconstrução da Faixa de Gaza, porque os palestinos certamente não confiam nas intenções norte-americanas e muito menos nas israelenses quando propuseram seu plano mal intencionado de reconstruir aquele local.
Como foi o Fórum Global Anti-Apartheid na Palestina, realizado em Joanesburgo, na África do Sul, entre os dias 10 e 12 de maio?
A Conferência Global Anti-Apartheid pela Palestina representou um marco histórico na luta pela justiça na Palestina. Ela evidenciou o crescente apoio internacional à causa palestina e fortaleceu a resistência contra a ocupação israelense. A conferência também serviu como um lembrete de que a luta pela liberdade e pela autodeterminação do povo palestino ainda está em curso. A situação na Palestina foi descrita como pior do que o apartheid africano pelo organizador da conferência.
Qual era o objetivo do evento e quais foram os resultados?
O resultado não é apenas simbólico, mas político, porque mostra ao mundo que o humanismo e a solidariedade podem ser mais fortes que a frieza da narrativa ocidental, com seu apoio cego e acrítico às atividades cruéis do governo israelense. Nem o próprio povo de Israel apoia esse massacre, isso demonstra que o apartheid e a limpeza étnica praticada nas últimas décadas contra palestinos é uma política de governo israelense, mas não é compartilhada pelo povo judeu.
Como foi a participação brasileira no evento? Outros políticos ou organizações brasileiras estavam presentes?
Não tenho certeza do número exato de brasileiros, ou de representações. Os organizadores do evento me fizeram o convite e custearam minha participação. Fui o único parlamentar brasileiro lá e, no avião, reconheci mais dois convidados que também saíram de Brasília.
Em sua avaliação, por que o senhor sofreu ataques por sua ida ao fórum?
O ataque é previsível e tem duas fontes: o interesse israelense em abafar o debate que tem mudado a percepção da opinião pública, ao mostrar um massacre que já matou mais de 35 mil pessoas, a maioria delas crianças e mulheres, e também da direita bolsonarista, que abraçou a causa sionista e faz o que mais sabem fazer: mentir e distorcer.
O melhor exemplo foi esta Conferência, ao invés de debater o que ela significou e fazer uma reflexão disso, preferiram mentir falando de antissemitismo e apoio ao Hamas. Isso não é cruel comigo, que pela origem do campo, sobretudo no MST, enfrentei e resisti a adversidades em minha vida inteira. Isso é cruel com a população civil em Gaza, que está morrendo, pessoas inocentes, crianças que não fizeram nada e estão morrendo de fome porque as tropas israelenses não permitem a entrada de ajuda humanitária.
Artificializar o genocídio que ocorre lá a uma “resposta necessária” ou resumir, o debate chamando aquele povo de terrorista é em si uma forma de terrorismo, o que acontece ali só é ignorado e manipulado pela psicopatia que não tem nenhuma empatia. Quando o debate for sério, os fatos demonstrarão que estamos diante de um genocídio em curso.
Como recebeu o apoio do Instituto Brasil-Palestina, com assinaturas de mais de 70 entidades sociais e políticas do Brasil em solidariedade ao senhor?
Como eu disse, não é sobre mim, é sobre a causa. Fui autor de duas audiências públicas sobre este conflito em Gaza, que debateu, entre outras coisas, a causa palestina na Câmara dos Deputados. Nas duas ocasiões, a direita invadiu nosso espaço para tumultuar.
O que se viu na maioria das manchetes, mais uma vez, não foram notícias sobre o que se debateu ali, os dados apresentados e testemunhos de palestinos que perderam suas famílias. Infelizmente, o que se viu foi a repercussão e o engajamento que essas matérias deram a esses parlamentares agressores. Portanto, a agressão foi à causa, porque ela foi minimizada, ignorada por estes setores da imprensa alinhadas a essas atrocidades e que deram “ibope” a esses parlamentares. Isso acaba incentivando outros.
Nosso requerimento para realizar uma sessão solene sobre Nakba, o êxodo palestino, expulsos do que hoje é Israel. Essa sessão solene é feita todos os anos, foi recusado pela primeira vez, e ao mesmo tempo, a sessão solene sobre a “criação” de Israel aconteceu livremente. O que explica isso? Pode um lado e não pode o outro?
A verdade é que este é um ato de censura sobre os assuntos que demonstram dados, fatos históricos e documentos que incomodam setores conservadores, que por sua vez usam a direita oportunista para construir narrativas fantasiosas e mentirosas. Obviamente, não miram pessoas, miram a causa!
O sionismo prega a destruição da causa palestina e é isso que eles querem fazer no Brasil e no mundo. Eles podem estar sendo incentivados pelo retorno midiático quando nos atacam, mas nós jamais nos desestimularemos pelas agressões e cerceamentos, muito pelo contrário, quem é verdadeiramente forjado na militância sabe que o desafio nos impulsiona. Não nos calaremos!























