Gaza: trabalhadores humanitários relatam ‘vítimas em massa’ em meio a distribuição de alimentos
Segundo Guardian, hospitais recebem baleados em áreas de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza; número de mortos chega a 640, de acordo com autoridades locais
Desde quando a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), organização norte-americana e apoiada por Israel, começou a atuar no enclave palestino, em maio passado, 640 pessoas foram mortas e mais de 4.500 feridas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Em meio à crescente violência contra palestinos famintos, trabalhadores humanitários na Faixa de Gaza denunciaram que estão sobrecarregados por “incidentes com vítimas em massa” causados pelos disparos israelenses contra palestinos que buscam ajuda nos centros de distribuição. As declarações foram feitas ao The Guardian.
Profissionais da saúde também relataram ao jornal britânico que muitos de seus pacientes descreveram terem sido baleados enquanto tentavam chegar aos locais de distribuição de alimentos da GHF, instituição que Tel Aviv e Washington insistem em ser necessário para que o Hamas não desvie ajuda humanitária.
“As cenas são realmente chocantes – assemelham-se aos horrores do dia do juízo final. Às vezes, em apenas meia hora, recebemos mais de 100 a 150 casos, variando de ferimentos graves a mortes”, declarou Mohammed Saqr, diretor de enfermagem do Complexo Médico Nasser de Gaza, em Khan Younis.
Segundo Saqr, 95% dos ferimentos e mortes que recebe no hospital, já sobrecarregado por vítimas dos bombardeios, ocorreram nos centros de distribuição do GHF. Os ferimentos se caracterizam por tiros na área do peito e da cabeça dos palestinos.
“Cada leito é ocupado por um paciente, e esses ferimentos adicionais representam um fardo inimaginável para nós. Somos forçados a tratar pacientes no andar do pronto-socorro”, relata.

Cruz Vermelha informou que seu hospital de campanha tratou mais de 2.200 pacientes feridos por armas desde o início da atuação do GHF
PRCS/X
Similar ao relato de Saqr, Clare Jeffrys, a especialista britânica em medicina de emergência que atua em um hospital de campanha administrado pela UK-Med em al-Mawasi, declara que seus pacientes informam terem sido baleados nos “locais de distribuição de alimentos ou perto deles”.
Além dos testemunhos dos profissionais de saúde do enclave, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) informou na última terça-feira (08/07) que seu hospital de campanha tratou mais de 2.200 pacientes feridos por armas e registrou mais de 200 mortes desde o início da atuação do GHF.
De acordo com o CICV, as principais vítimas são homens e meninos jovens que estavam em busca de alimento para suas famílias.
Por sua vez, a GHF nega veemente que os ferimentos nos palestinos tenham ocorrido em seus locais de distribuição. Além disso, ainda culpam as tropas das Forças de Defesa Israelenses (IDF, na sigla em inglês) pelos disparos.
“Até o momento, não houve incidentes ou fatalidades em ou nas imediações de nenhum de nossos locais de distribuição durante nosso horário de funcionamento”, afirma um comunicado da organização resgatado pelo Guardian.
Já as IDF dizem “não ter como alvo os civis”, e que “tomam todas as precauções possíveis para evitar danos a não combatentes”. Contudo, seu posicionamento é contradito por relatos dos próprios soldados israelenses, que relatam ser orientados para atirar nos civis que buscam ajuda, de acordo com uma reportagem do Haaretz.
(*) Com informações de The Guardian























