Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A proposta da Israel de retomar o envio de ajuda a partir de lançamentos aéreos foi duramente criticada neste sábado (26/07) pelas Nações Unidas e entidades humanitárias. O chefe da Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, chamou a proposta de “ineficiente” e uma “distração” para lidar com as causas profundas da crise.

A decisão foi anunciada nesta sexta-feira (25/07) e autoridades de Israel afirmaram que a Jordânia deve realizar o primeiro lançamento aéreo, possivelmente neste fim de semana. Para Lazzarini, na prática, “os lançamentos aéreos não reverterão o agravamento da fome (…) Eles são caros, ineficientes e podem até matar civis famintos. São uma distração e uma cortina de fumaça”, afirmou.

A proposta foi condenada por outros representantes da ONU e de entidades humanitárias. Segundo a Al Jazeera, Jan Eliasson, ex-vice-secretário-geral da ONU afirmou que “jogar comida do ar em Gaza é um espetáculo secundário ineficaz”. Ele afirmou que durante seu tempo como chefe de ajuda humanitária da ONU, eles tiveram de interromper ajuda. “Quantidades mínimas foram entregues e caos e acidentes ocorreram no solo. Todas as entradas em Gaza devem ser abertas e a distribuição devolvida à ONU”, cobrou.

Kenneth Roth, ex-diretor executivo da Human Rights Watch, também se manifestou. Ele frisou que o lançamento aéreo de alimentos em Gaza “é apenas um espetáculo” e que “os airdrops são notoriamente caros e ineficientes. Eles não são maneira de alimentar dois milhões de palestinos famintos. Somente o fim do bloqueio efetivo de Israel fará isso – e interromperá o genocídio”.

A diretora executiva da Oxfam da Grã Bretanha, Halima Begum, também criticou a medida neste sábado. Ela afirmou que “o lançamento aéreo de ajuda humanitária é totalmente inadequado, perigoso e desumanizador, um gesto e uma distração que não contribuem em nada para garantir que Israel cumpra suas obrigações de evitar a fome”.

Toneladas de alimentos aguardam liberação

The Guardian informa que a declaração foi dada após o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, confirmar que o governo seguirá com os planos de enviar suprimentos por via aérea. Apesar da pressão de 221 parlamentares, Starmer os rejeitou apelos para o reconhecimento imediato de um Estado palestino.

Lançamentos aéreos de ajuda são ‘cortina de fumaça’, afirma comissário-geral da UNRWA
Jaber Jehad Badwan / Wikipedia Commons

“Israel vem bloqueando a ajuda humanitária há meses, e é profundamente angustiante saber que centenas de toneladas de alimentos estão esperando para serem entregues a poucos quilômetros de campos onde dezenas de milhares de pessoas, incluindo bebês e crianças, estão morrendo de fome”, afirmou Begum.

Ela disse que apesar de Stamer ter “finalmente reconhecido a escala devastadora das ações de Israel nesta semana, a retórica por si só não fará diferença” e só agravará a “incoerência intelectual e moral das contínuas vendas de armas do Reino Unido para Israel”. E apontou que o país deve pressionar o governo israelense a permitir o livre fluxo de ajuda para dentro e por toda Gaza.

Ataques continuam

Neste sábado (26/07), ataques aéreos e tiros israelenses mataram pelo menos 71 pessoas, incluindo 42 em busca de ajuda, informaram autoridades de saúde local.

Segundo a Healthcare Workers Watch (HWW), 28 médicos de Gaza estão detidos em prisões israelenses, oito entre eles são especialistas em cirurgia, ortopedia, terapia intensiva, cardiologia e pediatria. Entre eles, 21  foram detidos há mais de 400 dias, sem acusações formais, aponta o jornal britânico. Entre os médicos presos pelas forças israelenses está Marwan al-Hams, chefe do hospital Abu Youssef al-Najjar, em Rafah. Seu paradeiro é desconhecido.

Nos últimos 20 meses, as forças israelenses mataram pelo quase 60.000 palestinos na Faixa de Gaza, enquanto deslocaram à força 2 milhões de sobreviventes em meio à escassez generalizada de alimentos, água, combustível e suprimentos médicos devido às restrições de ajuda israelense.