Gangue de motoqueiros anti-Islã é contratada como 'segurança' para locais de ajuda em Gaza
Apuração da BBC revela identidade dos integrantes do Infidels MC, criado por veteranos da Guerra do Iraque; desde maio, 1.135 palestinos foram mortos nos centros da GHF
Uma investigação da BBC divulgada nesta quarta-feira (10/09) revelou a identidade de dez integrantes do Infidels MC, uma gangue de motoqueiros norte-americana com histórico anti-islâmico. Eles foram contratados para atuar nos centros de distribuição de alimentos da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês).
O Infidels MC, fundado em 2006 por militares veteranos dos Estados Unidos da Guerra do Iraque, mantém uma página no Facebook com discursos de ódio contra muçulmanos e já realizou um assado de porco “em desafio” ao mês sagrado do Ramadã.
Segundo a apuração da BBC, sete membros do grupo ocupam cargos de chefia na UG Solutions, responsável pela contratação para a GHF. Pelo menos 40 dos cerca de 320 contratados pela empresa para fazer a ‘segurança’ dos centros de ajuda à população palestina são membros da gangue anti-islâmica.
A BBC conta que um e-mail enviado por engano pela empresa acabou expondo a identidade de alguns integrantes. Eles ganham US$ 980 (cerca de R$ 5.000) por dia, incluindo despesas, enquanto líderes de equipe chegam a US$ 1.580 (cerca de R$ 8.000).
O líder da gangue, Johnny “Taz” Mulford é “chefe da equipe local” em Gaza e tem o número “1095” tatuado no peito, em referência ao início da Primeira Cruzada cristã contra os mulçumanos. Ele teria recrutado, entre outros integrantes do grupo, Josh Miller, que tem o mesmo número tatuado nos dedos, ressalta a reportagem.

Membros de gangue anti-Islã atuam nos centros de distribuição da GHF em Gaza
Reprodução Facebook
Edward Ahmed Mitchell, vice-diretor do Council on American-Islamic Relations (CAIR), ouvido pelo veículo britânico, compara colocar os motoqueiros da Infidels MC como responsáveis pela ajuda humanitária a “colocar a Ku Klux Klan para distribuir ajuda humanitária no Sudão. Não faz sentido algum. […] É certo que isso levaria à violência, e é exatamente o que vimos acontecer em Gaza”.
A GHF afirmou que Mulford não atua mais na organização desde agosto e disse à BBC que está “revisando as novas denúncias”.
GHF
A Fundação Humanitária de Gaza é apoiada por Israel e pelos Estados Unidos. A entidade substituiu o sistema de ajuda humanitária das Nações Unidas no território. Segundo a reportagem, já foram transferidos para a entidade, ao menos US$ 30 milhões em repasses de Washington.
Ela é presidida, desde 4 de junho, pelo líder evangélico Johnnie Moore, conselheiro de Donald Trump para assuntos inter-religiosos e membro da Comissão dos EUA para a Liberdade Religiosa Internacional. Ele assumiu o cargo após Jake Wood, ex-fuzileiro naval dos EUA, renunciar alegando não poder garantir a independência da Fundação em relação aos interesses israelenses.
Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), desde maio, quando a GHF passou a atuar no território, 1.135 palestinos foram mortos próximos aos centros de ajuda. Ex-funcionários da UG Solutions disseram à BBC, que contratados pela empresa disparam sobre palestinos famintos, sem qualquer ameaça direta.
Confira a íntegra da reportagem na BBC.























