Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Funcionários e ex-funcionários da Microsoft ocuparam a sede da empresa de tecnologia em Redmond, Washington, nesta terça-feira (19/08), em um dos protestos mais significativos após a revelação de que militares israelenses têm usado seu software para espionar palestinos e facilitar a preparação de ataques aéreos em Gaza e na Cisjordânia.

Dezenas de manifestantes declararam a área do protesto uma “Zona Livre” e exigiram que a corporação norte-americana se desvincule completamente de Israel.

O ato, organizado pelo grupo No Azure for Genocide (“Nada de Azure para o Genocídio”, pela tradução em português), ocorre menos de uma semana após a Microsoft anunciar uma investigação independente sobre o uso de sua plataforma de nuvem, o Azure, por forças israelenses. Os cartazes exibiam frases como “Junte-se à Intifada dos Trabalhadores – Sem Trabalho para o Genocídio” e “Praça das Crianças Palestinas Martirizadas”.

A motivação dos manifestantes foi amplificada por reportagens recentes. No início do mês, uma apuração conjunta do jornal The Guardian, da +972 Magazine e do Local Call revelou que a agência de vigilância militar de Israel, a Unit 8200, estaria usando o Azure para armazenar gravações de chamadas de celular de palestinos com o objetivo de seguir promovendo o genocídio.

A Microsoft afirmou não ter conhecimento dessa coleta de dados. Entretanto, documentos internos mostram que os executivos sabiam, desde 2021, sobre a transferência sigilosa de informações entre Unit 8200 e Azure. Já as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) negaram qualquer parceria com a gigante norte-americana para “armazenamento ou processamento de dados”.

Funcionários e ex-funcionários da Microsoft protestam na sede da empresa, em Redmond, no Washington, contra laços com Israel
X/No Azure for Apartheid

O The Guardian ouviu Hossam Nasr, um ex-funcionário que foi demitido no ano passado após organizar uma vigília pela Palestina. À reportagem, citou a morte do jornalista da Al Jazeera, Anas al-Sharif – um de cinco profissionais de mídia mortos no início do mês em um ataque deliberado do regime sionista. 

“Eu o vi reportar sobre Gaza implacavelmente… Ele foi intencionalmente alvejado. Aconteceu na mesma semana em que saiu a notícia de que a Microsoft está armazenando dados de vigilância em massa”, disse Nasr.

“A cada segundo que esperamos, as coisas estão cada vez piores na Palestina. As pessoas estão ficando cada vez mais famintas. Mais e mais pessoas estão sendo bombardeadas e mutiladas. É hora de escalarmos, da maneira que pudermos”, disse Nasreen Jaradat, uma funcionária ativa na Microsoft.

O protesto acontece em um momento de alertas crescentes de fome e crise humanitária em Gaza, onde autoridades de saúde locais estimam que mais de 62 mil palestinos tenham sido assassinados desde 7 de outubro de 2023. O ato também marca uma onda de dissidência interna. No início deste ano, o funcionário Joe Lopez interrompeu um discurso do diretor executivo Satya Nadella, ao dizer: “Satya, que tal você mostrar como a Microsoft está matando palestinos?”.

O protesto durou aproximadamente duas horas antes que a polícia fosse acionada e alertasse os manifestantes de que seriam presos por invasão caso não deixassem o local. Um porta-voz da Microsoft disse que o grupo foi “convidado a sair”.