Flotilha denuncia desaparecimento de brasileiros após interceptação israelense
João Aguiar e Miguel de Castro estão incomunicáveis; Itamaraty cobra responsabilidade por segurança de cidadãos detidos
Os ativistas brasileiros João Aguiar e Miguel de Castro, integrantes da delegação nacional da Global Sumud Flotilha (GSF), permanecem desaparecidos e incomunicáveis desde a noite de quarta-feira (01/10).
O barco Mikeno, onde Aguiar estava, conseguiu romper o cerco e atingiu as águas territoriais de Gaza, segundo dados de rastreamento. “Não houve mais sinais de navegação e, até o momento, não sabemos seu paradeiro”, afirmou Samir Oliveira, assessor da delegação brasileira da GSF.
De acordo com a assessoria, o contato e o acesso às câmeras da embarcação foram perdidos após as 19h34 (CEST). “Isso ocorreu logo após um ataque israelense, no qual jatos de água com odor fétido foram lançados diretamente contra os participantes. As câmeras foram atingidas, o que impossibilitou qualquer nova comunicação desde então”, acrescentou Oliveira.
O Catalina, navio do qual Miguel de Castro faz parte da tripulação, aparece como “possivelmente interceptado” no sistema de rastreamento da flotilha. Os pais do ativista contactaram o Itamaraty e outras autoridades em busca de informações concretas, exigindo o “reconhecimento oficial do desaparecimento” e a atuação das forças para “esclarecer seu paradeiro”.
“Exigimos ação, denúncia e verdade. Miguel está desaparecido. E o Brasil, junto à comunidade internacional, tem o dever de certificar o que aconteceu com ele e lutar para trazê-lo de volta”, declararam os pais de Castro, Marta Viveiros de Castro e Luiz Rodolfo, em nota.
A embaixada brasileira em Tel Aviv informou que, devido ao feriado de Yom Kippur, o atendimento consular seria retomado após sexta-feira (03/10). O grupo de advogados da Adalah relatou ter recebido ligações de participantes, informando que as autoridades de imigração israelenses já iniciaram audiências preliminares de deportação e emitiram ordens de prisão no porto de Ashdod.
“É inadmissível que as forças israelenses realizem esses procedimentos — deportação e aprisionamento de nossos ativistas — sem permitir aos cidadãos brasileiros o contato consular prévio e a assistência jurídica de seus advogados. O governo brasileiro deve se posicionar frente às inúmeras violações dos direitos de seus cidadãos, levados ilegalmente para o território da Palestina ocupada”, declarou a delegação brasileira da GSF em nota oficial.
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Interceptação
O Itamaraty condenou a interceptação da Flotilha Global Sumud (GSF) por Israel, expressando “preocupação com a presença de cidadãs e cidadãos brasileiros, incluindo parlamentares”. A frota humanitária pretendia romper o bloqueio marítimo imposto por Israel sobre a Faixa de Gaza.
“O governo brasileiro deplora a ação militar israelense, que viola direitos e coloca em risco a integridade física de manifestantes em uma ação pacífica. No contexto dessa operação militar condenável, passa a ser de responsabilidade de Israel a segurança das pessoas detidas”, afirmou a nota oficial.
Os ativistas da missão humanitária, que buscava romper o cerco israelense a Gaza, foram levados pelo navio de guerra MSC Johannesburg na quarta-feira (01/10). De acordo com imagens, a embarcação militar e os barcos interceptados chegaram ao porto de Ashdod, em Israel.
Confirmou-se a interceptação e a detenção de doze membros da delegação brasileira: Thiago Ávila, a bordo do Alma; Bruno Gilga, Lisiane Proença, Magno Costa, a vereadora Mariana Conti e Nicolas Calabrese, no Sirius; Ariadne Telles e Mansur Peixoto, no Adara; Gabriele Tolotti (presidente do PSOL-RS) e Mohamad El Kadri, no The Spectre; Lucas Gusmão, no Yulara; e a deputada federal Luizianne Lins, no Grand Blue.
Hamas condena ‘terrorismo marítimo’
O Hamas apelou nesta quinta-feira (02/10) para que cidadãos de diferentes países organizem protestos contra a interceptação da Flotilha Global Sumud, que transportava ajuda humanitária para Gaza, ocorrida na noite de quarta-feira (01/10).
Em comunicado repercutido pela agência espanhola EFE, o grupo afirmou que “a interceptação dos barcos da Flotilha em águas internacionais e a detenção dos ativistas e jornalistas a bordo constitui um ataque traiçoeiro e um ato de pirataria e terrorismo marítimo contra civis”.
A organização destacou que os voluntários detidos eram “ativistas internacionais em missão humanitária urgente para entregar ajuda” à população de Gaza, “submetida ao genocídio e à fome sistemática durante dois anos”, e complementou: “saudamos a coragem dos ativistas e a determinação em romper o cerco contra o nosso povo”.
O Hamas também pediu que a ONU e a comunidade internacional assumam “responsabilidades legais e morais”, unindo-se à condenação do ataque e adotando “medidas urgentes” para proteger os ativistas e as embarcações.























