Israel: familiares de reféns pedem plano de resgate ao invés de ocupação em Gaza
Parentes denunciam que governo Netanyahu opta por ‘sacrificar os reféns’ e alertam para perigos de ofensiva militar no enclave palestino
Familiares de reféns apelaram nesta quinta-feira (21/08) que governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, aceite o acordo com o grupo palestino Hamas em vez de lançar uma operação militar para ocupar a Cidade de Gaza.
Bar Godard, filha de Manny Godard, um dos reféns mortos no enclave palestino denunciou que o governo israelense “se recusou a responder a proposta” e “na prática” isso significa que “optaram por sacrificar os reféns”. “Esta é uma ação deliberada, planejada e organizada”, acrescentou.
Lishay Miran-Lavi, cujo marido Omri está detido em Gaza, afirmou que o acordo aprovado pelo Hamas e que ainda não foi abordado pelo governo Netanyahu “poderia salvar a vida de reféns e devolver os mortos para um enterro digno”.
“O Hamas concordou, mas o gabinete do primeiro-ministro está trabalhando para sabotá-lo, o que condenaria os reféns vivos à morte e os mortos ao desaparecimento. Sim, este acordo não é perfeito, mas é responsabilidade do governo israelense garantir que seja totalmente executado até que o último refém seja libertado de Gaza”, disse ela.
Miran-Lavi ainda denunciou que a guerra “perdeu todo o sentido” uma vez que “seu único propósito é preservar o poder político” de Netanyahu.
Já Yehuda Cohen, pai do refém Nimrod, afirmou que o plano enviar tropas das Forças de Defesa Israelenses (IDF, na sigla em inglês) para ocupar a Cidade de Gaza, uma área com reféns que ainda estão vivos, “pode representar o risco de assassinato, o que é mais conveniente para Netanyahu porque serão mais baratos e será mais fácil ‘resgatá-los’”.
Cohen ainda lembrou da morte dos reféns Hersh, Eden, Uri Danino, Alex, Almog e Carmel, em agosto de 2024, também em meio a uma ofensiva militar das IDF onde estavam sendo mantidos na Faixa de Gaza.
“A operação ocorreria exatamente um ano após o assassinato deles, o que poderia levar à morte dos reféns restantes”, declarou.
Ora Zalmanovich, nora de Aryeh Zalmanovich, refém que foi morta no enclave palestino e seu corpo ainda não retornou para Israel, declarou que o projeto de ocupação de Netanyahu mostra como “a terra é mais valorizada do que a vida humana”
“Os atrasos, a paralisação, a sabotagem – tudo isso leva à morte dos reféns. Eles não estão apenas sofrendo, estão morrendo”, afirmou.

Familiares de reféns afirmam que guerra “perdeu todo o sentido” uma vez que “seu único propósito é preservar o poder político” de Netanyahu
RS/Fotos Publicas
O que prevê o acordo?
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed al-Ansari, confirmou na última terça-feira (19/08) que seu país e o Egito receberam uma resposta positiva do Hamas a uma proposta de cessar-fogo que tem como objetivo “chegar a um acordo abrangente para acabar com a guerra”.
Durante uma coletiva em Doha, o representante da chancelaria catari destacou não haver prazo para o recebimento da resposta de Tel Aviv, embora duas fontes israelenses tenham relatado, conforme o jornal The Times of Israel, que as autoridades locais estudam a proposta árabe e que Netanyahu deveria convocar discussões sobre o assunto “em breve”. Por outro lado, o jornal britânico The Guardian apurou que “Israel responderá até sexta-feira (22/08) sobre o plano de trégua em Gaza”
A proposta de cessar-fogo na Faixa de Gaza aceita pelo Hamas prevê uma trégua inicial de 60 dias. Esse período será contemplado por troca de reféns e retirada gradual das tropas de ocupação israelenses de partes do enclave. Passada a etapa, serão negociadas o fim das agressões de Israel contra os palestinos – o genocídio em Gaza já deixou mais de 62 mil mortos na região, segundo o Ministério da Saúde local.
À agência Reuters, um líder sênior do Hamas e duas fontes de segurança egípcias forneceram os principais detalhes sobre a proposta.
– Dez prisioneiros israelenses mantidos em Gaza serão devolvidos junto com os corpos de outros 18, durante os 60 dias. O governo de Israel acredita que, do total de 50 pessoas retidas no enclave, 20 estejam vivas.
– Em troca, Israel libertará 150 reféns palestinos que estão detidos e condenados à prisão perpétua, e outros 50 condenados a mais de 15 anos.
– Para cada corpo que o Hamas devolver, Israel devolverá, em troca, os corpos de 10 militantes palestinos.
– Durante esse período, Israel deverá desbloquear a entrada de ajuda humanitária em Gaza com o envolvimento das Nações Unidas (ONU) e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
– O Exército israelense permanecerá em Gaza, mas deverá se retirar para uma área mais afastada, com uma distância de aproximadamente um quilômetro de largura ao longo das fronteiras norte e leste do enclave, que incluem as áreas de Beit Lahiya e Shejaia.
– Assim que o acordo de cessar-fogo entrar em vigor, o Hamas e o governo de Israel deverão prontamente iniciar as negociações sobre um cessar-fogo permanente.
(*) Colaborou Rocio Paik e com informações de Haaretz























