Ex-procuradora israelense é presa por vazar vídeo de estupro coletivo contra detento palestino
Yifat Tomer-Yeroushalmi deverá responder por ‘abuso de confiança’ após expor, em 2024, imagens de soldados cometendo abusos brutais em prisão perto de Gaza
A ex-procuradora-geral do exército israelense, Yifat Tomer-Yeroushalmi, foi presa na madrugada desta segunda-feira (03/11) após o vazamento de um vídeo, em 2024, que mostra abusos cometidos contra um prisioneiro palestino. A tortura teria ocorrido na prisão de segurança máxima Sdé Teiman, perto da Faixa de Gaza, e resultou no indiciamento de cinco reservistas israelenses, em fevereiro de 2025.
Nesta segunda-feira, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben Gvir, publicou uma mensagem no Telegram anunciando a prisão da procuradora durante a noite de domingo e garantiu que a “vigilância seria reforçada para garantir sua segurança.”
Ben Gvir destacou a importância de “conduzir a investigação de forma profissional para descobrir toda a verdade sobre o caso que levou à acusação” contra os soldados.
Segundo a imprensa israelense, o tribunal de Tel Aviv decidiu prolongar a detenção da ex-procuradora até quarta-feira (05/11), ao meio-dia. De acordo com a emissora pública Kan, Tomer-Yeroushalmi deverá responder por “fraude, abuso de confiança, abuso de função, obstrução da justiça e divulgação de informações por um funcionário público”.
As imagens foram divulgadas em agosto de 2024 pelo canal israelense Channel 12. Captadas por uma câmera de vigilância, elas foram exibidas por diversos meios de comunicação. Em sua carta de demissão publicada na sexta-feira (31/10) pela imprensa, a procuradora, que também é general das Forças Armadas, reconheceu que havia solicitado a divulgação do vídeo à mídia.
This is the video that forced Yifat Tomer‑Yerushalmi to resign. She exposed Israeli soldiers s€xually assaulting Palestinian prisoners, and the government punished her for telling the truth. Courage comes at a cost, but silence protects the guilty! pic.twitter.com/m3nMiWkUJZ
— Halima Khan (@khanhalima12) November 2, 2025
Segundo o Channel 12, a polícia suspeitava que Yifat Tomer-Yeroushalmi, que teria deixado uma carta no domingo sugerindo intenção de suicídio, teria encenado uma situação para se livrar de seu telefone, que poderia conter informações comprometedoras.

Ex-procuradora-geral do exército israelense, Yifat Tomer-Yeroushalmi, foi presa após o vazamento de um vídeo, em 2024, que mostra abusos cometidos contra um prisioneiro palestino
Wikimedia Commons/IDF Spokesperson’s Unit
Extrema violência
O vídeo sugeria, sem mostrar claramente, abusos cometidos por soldados israelenses contra um prisioneiro palestino. Em um comunicado, o exército informou que os soldados foram acusados de ter “agido contra o prisioneiro com extrema violência, inclusive perfurando suas nádegas com um objeto pontiagudo, que penetrou próximo ao reto”.
“Os atos de violência causaram ferimentos físicos graves ao prisioneiro, incluindo costelas fraturadas, pulmão perfurado e laceração interna do reto”, acrescenta o texto. O texto menciona diversas provas reunidas durante a investigação, como imagens extraídas das câmeras de vigilância e documentos médicos.
As agressões ocorreram em 5 de julho de 2024 durante uma revista ao prisioneiro, conduzido a uma área adjacente à prisão. Ele teria tido os olhos vendados e algemas nas mãos e nos tornozelos, segundo a mesma fonte.
Relatório
O caso provocou indignação internacional e aumentou a pressão sobre os líderes políticos e militares israelenses. “As revelações sobre os abusos brutais (…) no centro de detenção de Sdé Teiman prejudicaram não apenas a imagem pública de Israel, mas sobretudo a legitimidade do Estado e das Forças de Defesa de Israel (Tsahal)”, citou o jornal Yedioth Ahronoth em um editorial publicado na semana passada.
O centro de detenção de Sdé Teiman foi instalado em uma base militar para encarcerar palestinos detidos, especialmente em Gaza, após o início da guerra no enclave, em 7 de outubro de 2023. Segundo um relatório publicado pelo Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, em 2024, muitos palestinos foram presos em segredo e, em alguns casos, tratados de forma que poderia ser considerada como tortura.























