Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O ex-presidente do Knesset (Parlamento de Israel) Avraham Burg, assinante da declaração que pede sanções contra o país devido ao genocídio em Gaza, reiterou sua defesa por punições contra a administração do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu porque lidera “um governo de criminosos”.

“Para que os reféns retornem e essa guerra acabe, coisas que a maioria do eleitorado israelense defende, são necessárias sanções contra o governo, porque ele é um governo de criminosos. A maioria dos israelenses não entende que Israel se tornou um Estado pária por causa desse governo [de Benjamin Netanyahu]”, declarou em entrevista exclusiva ao El País.

Para Burg, Israel “entrou para o clube iliberal de má reputação”, formado por países de democracias liberais caminhando para políticas não liberais. Segundo a autoridade, essa mudança ocorreu porque “os colonos assumiram o controle e sequestraram o sistema político do país”.

“Eles são uma minoria em termos de população e presença política, mas têm um enorme impacto sobre o exército e o sistema político. Eles não acreditam em democracia e paz, mas em uma política messiânica escatológica”, afirma.

Em sua análise, Netanyahu “é o pior líder” que Israel já teve. “É um prisioneiro fraco nas mãos de extremistas em seu próprio executivo, e não governa no interesse do bem comum. Ele é movido pelo interesse próprio e pela ganância”.

Burg reconhece que nenhum primeiro-ministro israelense se opôs aos colonos e que “não há dúvida de que todos são 50 tons diferentes da mesma ocupação de direita”, mas ao mesmo tempo, “é a primeira vez que um governo tem apenas elementos fanáticos de extrema direita”.

“Não há moderados. De repente, tudo o que era um problema se tornou um desastre. Tudo o que era solucionável, que estava sob controle, tornou-se maligno”, afirmou.

Ex-presidente do Parlamento de Israel Avraham Burg 
Yossi Gurvitz

Ao falar sobre a declaração que pede sanções da comunidade internacional contra Israel, Burg explica que esse movimento ainda é minoria dentro do país porque o governo de extrema direita de Netanyahu conta “com pouco mais de 50% de apoio” popular.

“Não há nenhuma organização por trás da declaração. Somos um grupo de indivíduos que compartilha o mesmo sistema de valores baseado na humanidade, na oposição à guerra e na resistência à política do atual governo israelense em Gaza”, argumenta.

“Me pergunto se Israel ainda merece existir”

O ex-presidente do Knesset disse refletir sobre a existência de Israel em meio a destruição da Faixa de Gaza: “eu me pergunto se Israel ainda merece sua existência. A destruição em Gaza demonstra a falência moral de Israel”.

Para ele, “um Estado que nega sistematicamente os direitos de milhões de pessoas, justifica o assassinato em massa como estratégia de segurança e eleva a supremacia judaica ao nível de ideologia não pode reivindicar legitimidade moral”.

“Talvez o Israel que se distanciou de seus valores fundamentais e agora desafia as próprias normas internacionais que o criaram tenha perdido o direito de existir”, conclui.

Questionado pelo El País na solução de dois Estados, Burg disse que essas são apenas “estruturas institucionais”. “Eu conto os direitos. Acredito e luto por uma realidade em que cada indivíduo e cada comunidade entre o rio e o mar tenha os mesmos direitos”.

“Não quero um supremacismo judaico que tenha todos os privilégios sobre os palestinos desprivilegiados. Fazer isso não é possível, é necessário”, concluiu.