Ex-premiês israelenses repudiam plano de Netanyahu: 'novo campo de concentração'
Ehud Olmert e Yair Lapid comentaram planos do ministro da Defesa, Israel Katz, de instalar palestinos em área confinada
Os ex-premiês de Israel Ehud Olmert e Yair Lapid criticaram enfaticamente, neste domingo (13/07), o projeto israelense de criar o que chamam de “cidade humanitária” sobre as ruínas de Rafah, no sul da Faixa de Gaza.
Em longa entrevista ao The Guardian, o ex-primeiro-ministro Ehud Olmert afirmou que a proposta seria, na prática, construir um campo de concentração. Segundo ele, forçar os palestinos a viverem nesse local configuraria uma tentativa de limpeza étnica.
“É um campo de concentração. Me desculpe”, declarou Olmert, ao comentar os planos do ministro da Defesa, Israel Katz, de instalar centenas de milhares de palestinos em uma área fechada, sem direito de sair, exceto para outros países.
A iniciativa representa uma escalada no que ele qualificou de “crimes de guerra” cometidos por Israel em Gaza e na Cisjordânia. “Se eles [os palestinos] forem deportados para essa nova ‘cidade humanitária’, então pode-se dizer que isso faz parte de uma limpeza étnica. Ainda não aconteceu, mas essa seria a interpretação inevitável de qualquer tentativa de criar um campo para centenas de milhares de pessoas”, frisou.
A proposta
Segundo o governo israelense, a “cidade humanitária” abrigaria inicialmente 600 mil palestinos deslocados, atualmente vivendo em condições precárias na região de al-Mawasi, próximo à costa sul de Gaza. No entanto, o objetivo final seria transferir toda a população de Gaza, mais de dois milhões de pessoas, para a área confinada em Rafah.
Olmert disse que a justificativa humanitária dada pelo governo israelense não é crível, principalmente após meses de retórica violenta e declarações de ministros sobre a necessidade de “limpar” Gaza.
“Quando eles constroem um campo onde planejam ‘limpar’ mais da metade de Gaza, o entendimento inevitável dessa estratégia não é salvar os palestinos. É deportá-los, empurrá-los, jogá-los fora. Não tenho outra compreensão possível”.

Israel propõe deslocar palestinos para área confinada em Rafah
Jaber Jehad Badwan / Wikipedia Commons
Crimes de guerra
Olmert também criticou a conivência das autoridades israelenses com os chamados “jovens dos topos das colinas”, responsáveis por atos sistemáticos de violência contra palestinos.
“Não há como operarem de maneira tão consistente, massiva e ampla sem um arcabouço de apoio e proteção provido pelas autoridades israelenses nos territórios ocupados”, afirmou. A entrevista aconteceu no mesmo dia do enterro de dois palestinos, entre eles um cidadão norte-americano, mortos por colonos israelenses.
O ex-primeiro ministro israelense denunciou a atuação de ministros extremistas que, segundo ele, representam uma ameaça maior à segurança de Israel do que qualquer inimigo externo. “Esses caras são o inimigo interno”, afirmou.
Ele segue defendendo a solução negociada de dois Estados e acredita que uma paz duradoura poderia ser alcançada com o apoio internacional. Olmert também lamentou que Netanyahu, acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional, tenha preferido indicar Donald Trump ao Prêmio Nobel da Paz. “É por isso que não posso me abster de acusar este governo de ser responsável por crimes de guerra cometidos”, afirmou.
Yair Lapid
O ex-premiêr de Israel, Yair Lapid também condenou o plano do governo de Netanyahu neste domingo. Atual líder da oposição, ele foi primeiro-ministro do país em 2022. Em entrevista à Rádio do Exército de Israel, Lapid afirmou que o plano “é uma má ideia em todos os aspectos possíveis — segurança, política, economia, logística”.
Em sua avaliação “nada de bom” sairia dos planos de estabelecer a “cidade humanitária” sobre as ruínas da cidade de Rafah. “Não gosto de descrever uma cidade humanitária como campo de concentração, mas se sair dela for proibido, então é um campo de concentração”, frisou.
O repúdio dos ex-premiês ocorre em um momento de agravamento da crise humanitária na região. No mesmo dia das declarações, ataques israelenses mataram 95 pessoas. Entre elas, 12 foram mortas em um mercado de alimentos na Cidade de Gaza.
A ofensiva militar já deixou, segundo números oficiais, mais de 58 mil mortos desde outubro de 2023. Estudos, no entanto, apontam que o número de vítimas fatais pode ter ultrapassado 90 mil pessoas.























