Escritor israelense David Grossman classifica Israel como ‘Estado genocida’
Autor lamentou situação catastrófica em Gaza, condenando bombardeios e política de fome de Tel Aviv: 'genocídio diante dos meus olhos'
Considerado um dos escritores mais importantes de Israel, David Grossman reconheceu que o governo de Benjamin Netanyahu realiza um genocídio na Faixa de Gaza. A posição foi dada em uma entrevista publicada na sexta-feira (01/08) pelo jornal italiano La Repubblica.
Ao veículo, Grossman revelou que, por muito tempo, tem evitado classificar Israel como um Estado genocida, mas que diante do massacre televisionado, não tem como negar a realidade.
“Durante anos, recusei-me a usar o termo ‘genocídio’. Mas agora não consigo evitar, não depois do que li nos jornais, não depois das imagens que vi, não depois de falar com pessoas que lá estiveram, não posso evitar usá-lo”, disse o escritor.
A declaração foi feita na semana em que duas organizações de defesa de direitos humanos israelenses, a B’Tselem e a Médicos pelos Direitos Humanos, também reconheceram, por meio de extensos relatórios, que o regime sionista comete genocídio em Gaza.
“Quero falar como alguém que fez todo o possível para evitar chamar Israel de Estado genocida – e agora, com imensa dor e coração partido, tenho que enfrentar o que está acontecendo diante dos meus olhos. ‘Genocídio’. É uma avalanche: uma vez que dita, torna-se maior. E traz ainda mais destruição e sofrimento”, acrescentou.
Grossman também lamentou o número de fatalidades que decorrem de ataques e a política de fome implementada por Israel no enclave. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza neste sábado (02/08), pelo menos 98 palestinos foram assassinados em bombardeios israelenses nas últimas 24 horas, enquanto mais de mil ficaram feridos. Desse número, 39 eram requerentes de ajuda.
As últimas mortes elevam o número total de palestinos mortos desde 7 de outubro de 2023, para ao menos 60,430, com 148.722 feridos. Vale ressaltar que algumas mortes são resultado do bloqueio humanitário de Tel Aviv. O ministério contabilizou ao menos 169 mortes por fome e desnutrição, sendo que desse total, 93 são crianças.

David Grossman, escritor e jornalista israelense
Wikimedia Commons/Heinrich-Böll-Stiftung
De acordo com Grossman, as cenas de fome e matança em Gaza tiveram uma ressonância particular para ele.
“Colocar as palavras ‘Israel’ e ‘fome’ juntas, fazendo-o com base em nossa história, nossa suposta sensibilidade ao sofrimento da humanidade, a responsabilidade moral que sempre dissemos ter em relação a todos os seres humanos, não apenas aos judeus… tudo isso é devastador”, afirmou.
O escritor também defendeu a solução de dois Estados como alternativa para acabar com o genocídio na Faixa de Gaza.
“Pergunto-me: como chegámos aqui? Como é que chegámos a ser acusados de genocídio? Basta pronunciar essa palavra — “genocídio” — em referência a Israel, ao povo judeu: só isso, o fato de que essa associação possa sequer ser feita, já deveria ser suficiente para dizer que está acontecendo conosco algo muito errado”, declarou. “Estou absolutamente convencido de que a maldição de Israel começou com a ocupação dos territórios palestinos em 1967”, em referência à Guerra dos Seis Dias.























