Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O embaixador dos EUA em Israel, Mike Huckabee, fez uma declaração na segunda-feira (11/08), alegando que o Hamas, Movimento de Resistência Islâmica, “não se importa com as pessoas comendo”. Acrescentou: “Nenhum deles está com fome, posso garantir isso. Olhe para seus rostos, olhe para seus corpos. Em vez de comida, eles poderiam usar um pouco de Ozempic”, disse durante uma entrevista ao jornalista britânico Piers Morgan, referindo-se ao medicamento usado para tratar diabetes tipo 2 e reduzir a obesidade.

Sua afirmação ignora o bloqueio sionista à entrada de mais de 430 itens de alimentação na Faixa de Gaza — mesmo após uma flexibilização parcial anunciada em 27 de julho, conforme denunciou o Escritório de Mídia do Governo de Gaza.

Entre os produtos barrados estão carnes e peixes congelados, laticínios, frutas, vegetais e inúmeros outros itens essenciais para a população faminta. Quarenta e quatro bancos de alimentos foram bombardeados, dezenas de trabalhadores mortos e cinquenta e sete centros de distribuição destruídos, caracterizando uma “fome sistemática” contra a população da Faixa.

O diplomata americano também defendeu o trabalho realizado pela controversa Fundação Humanitária de Gaza (GHF), organização privada apoiada pelos governos de Donald Trump e Benjamin Netanyahu, criada em fevereiro de 2025 para distribuir alimentos no enclave palestino.

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“Por que o Hamas iria querer fechá-la? Vou te dizer o porquê: porque o método de entrega de alimentos da GHF prejudicou seriamente a capacidade do Hamas de controlar o mercado de alimentos e está custando dinheiro a eles. Caso contrário, eles diriam: ‘Claro, vá em frente, traga a comida. Nós só nos importamos em fazer as pessoas comerem’”, disse Huckabee, que afirma que a fundação não é responsável por nenhuma morte em Gaza.

Entretanto, segundo a ONU, o número total de pessoas que buscavam ajuda humanitária mortas desde 27 de maio, quando Israel introduziu um novo mecanismo de distribuição de ajuda por meio da GHF, sediada nos EUA, chegou a 1.838, com mais de 13.409 feridos, segundo o comunicado.

Israel mantém bloqueio a 430 itens essenciais, 1.838 palestinos já morreram em filas por comida e 57 centros de distribuição destruídos por ataques israelenses

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Wafa News Agency

Médicos e civis palestinos disseram à emissora catari Al Jazeera que a GHF e as tropas israelenses têm atirado rotineiramente contra os solicitantes de ajuda, matando dezenas de pessoas de uma só vez.

Um oficial aposentado das forças especiais dos Estados Unidos, Anthony Aguilar, que trabalhou anteriormente para a GHF, revelou recentemente alguns dos tratamentos brutais que os palestinos enfrentam em locais de ajuda humanitária.

“Sem dúvida, testemunhei crimes de guerra cometidos pelos [militares israelenses]”, disse Aguilar à BBC, em uma entrevista exclusiva.

No final de maio, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu negou que houvesse “fome em massa” em Gaza e chamou de “mentira” a afirmação de que Tel Aviv estava usando a fome como arma de guerra no enclave palestino. O presidente norte-americano Donald Trump rebateu o premiê dizendo ter visto imagens de crianças “com muita fome” em Gaza e que havia “uma fome real” ali, que “não pode ser fingida”.

A ONU alertou que os 2,1 milhões de habitantes de Gaza sofrem de grave insegurança alimentar. Segundo o Ministério da Saúde palestino, cerca de 900 mil crianças sofrem de fome e outras 70 mil apresentam sintomas de desnutrição. Além disso, quase mil crianças foram mortas pelo exército israelense enquanto tentavam obter alimentos.

O órgão acrescentou que Israel tinha como alvo direto as fontes de alimentos, não apenas impedindo a ajuda, mas bombardeando deliberadamente quarenta e quatro bancos de alimentos, matando dezenas de trabalhadores e destruindo cinquenta e sete centros de distribuição de alimentos.

Mais duas pessoas morreram de desnutrição — um menino de seis anos e um homem de 30 anos — de acordo com fontes médicas locais. O Ministério da Saúde de Gaza diz que 227 pessoas morreram de desnutrição desde o início da guerra.