Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Pelo menos 460 personalidades judaicas, incluindo artistas, intelectuais e lideranças políticas, assinaram uma carta aberta às Nações Unidas e aos líderes mundiais pedindo sanções a Israel e a aplicação do direito internacional contra o país.

A campanha “Judeus exigem ação”, divulgada nesta quarta-feira (22/10), conta com assinatura de figuras judaicas proeminentes como o ex-presidente do Knesset Avraham Burg, o ex-negociador israelense Daniel Levy, a escritora canadense Naomi Klein e o autor Peter Beinart.

Os signatários incluem o autor britânico Michael Rosen, o cineasta vencedor do Oscar Jonathan Glazer, o ator americano Wallace Shawn, as vencedoras do Emmy Ilana Glazer e Hannah Einbinder e o vencedor do prêmio Pulitzer, Benjamin Moser.

Também assinam o documento o maestro israelense Ilan Volkov, a dramaturga V (Eve Ensler), o comediante americano Eric André, o romancista sul-africano Damon Galgut, o jornalista e documentarista vencedor do Oscar Yuval Abraham, o vencedor do prêmio Tony Toby Marlow e o filósofo israelense Omri Boehm.

Eles exigem que os Estados respeitem e apliquem as decisões do Tribunal Internacional de Justiça e do Tribunal Penal Internacional, interrompam o fornecimento de armas a Israel e imponham sanções a instituições e indivíduos responsáveis por violações do direito internacional. Também pedem o envio irrestrito de ajuda humanitária a Gaza e a rejeição das “falsas acusações de antissemitismo” contra quem defende a paz.

Endereçada ao Secretário-Geral da ONU e aos chefes de Estado globais, a carta é divulgada em meio à cúpula da União Europeia (UE) em Bruxelas, onde líderes estão avaliando sanções a Israel, e às vésperas da decisão do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) sobre as obrigações de Israel em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental.

Naomi Klein, Benjamin Moser e Jonathan Glazer estão entre os 460 signatários da carta “Judeus Exigem Ação”
Montagem fotos Wikipedia Commons

‘Judeus exigem ação’

A carta ‘Judeus exigem ação’ começa expressando “o grande alívio com o cessar-fogo, a libertação de reféns israelenses e prisioneiros palestinos”, mas alerta que o acordo é “frágil”, pois as “forças israelenses permanecem em Gaza” e as causas profundas — “ocupação, apartheid e negação dos direitos palestinos” — continuam sem solução.

O texto enfatiza que a trégua só será duradoura se acompanhada de pressão internacional e de um compromisso real com a justiça, lembrando que “foi a pressão internacional que ajudou a garantir este cessar-fogo, e ela deve ser mantida para garantir que perdure”.

Eles reiteram que a trégua deve marcar “o começo, não o fim” de um processo político que conduza à paz entre israelenses e palestinos, e alertam contra o risco de retornar “à indiferença à ocupação e ao conflito permanente”. Eles pedem, portanto, a continuidade da mobilização global para instaurar uma “nova era de paz e justiça”.

A carta reconhece os horrores do ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, mas denuncia que “as ações israelenses que se seguiram foram inconcebíveis” e “atenderam à definição legal de genocídio”. Os signatários lamentam as tentativas de restaurar “o mesmo manual quebrado de impunidade” e exige responsabilização por “graves violações do direito internacional pela liderança israelense”.

‘Não em nosso nome’

Como judeus, os signatários rechaçam os ataques israelenses no território. “Não em nosso nome. Não em nome de nossa herança, nossa fé ou nossa tradição moral.” E denunciam que líderes israelenses têm reivindicado cometer tais ações “em nome do povo judeu”, afirmando que “o governo israelense pode alegar falar em nome do coletivo judaico, mas não fala por nós.”

A carta reafirma que a solidariedade com os palestinos “não é uma traição ao judaísmo, mas sua concretização”, evocando o ensinamento de que “destruir uma vida é destruir um mundo inteiro”. O documento encerra com um apelo direto à comunidade internacional.

The Guardian aponta que o apelo ocorre em meio à mudança acentuada na opinião pública dos judeus nos Estados Unidos sobre a guerra. Uma pesquisa, publicada e 8 de outubro no Washington Post revelou que 61 % dos judeus dos EUA acreditam que Israel cometeu crimes de guerra em Gaza e 39 % dizem que está cometendo genocídio.

Entre o público americano em geral, 45 % disseram à Brookings Institution que acreditam que Israel está cometendo genocídio, enquanto uma pesquisa da Quinnipiac em agosto descobriu que metade dos eleitores dos EUA compartilhava a opinião, incluindo 77 % entre os eleitores democratas.