Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

O genocídio de Israel em Gaza, que já matou ao menos 67.160 pessoas e feriu 169.679 desde outubro de 2023, representa “um legado de destruição da população palestina, dos direitos humanos e da dignidade humana deles”. É o que avalia o pesquisador do Núcleo de Estudos do Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense (UFF), Rodrigo Ayupe, após os dois anos de ataques contra o enclave.

“Não colocamos uma vida mais importante do que a outra, sobretudo quando falamos de vidas civis, mas estamos falando de um número exorbitante, mais de 66 mil pessoas, destruição da cidade, da infraestrutura, muitas pessoas morrendo de fome e uma violação de um cessar-fogo que foi acordado no final de janeiro de 2025 e que, em março, já foi violado. Então, já há números altos de morte de palestinos depois que o cessar-fogo entrou em vigor”, disse.

A ação militar de Israel no território palestino é história, mas escalou em 7 de outubro de 2023 após uma ofensiva do Hamas. A resposta israelense está sendo diária contra o enclave e é constantemente denunciada por líderes políticos, organizações sociais e de direitos humanos, além de Cortes Internacionais.

Devido à ocupação ilegal das Forças de Defesa de Israel (IDF) no território, alimentos, medicamentos e itens de necessidade básica não chegam aos civis. Da mesma forma, os centros de ajuda humanitária se tornaram alvos de bombardeios, tornando ainda mais escasso e difícil o acesso. Para o especialista, a população palestina em Gaza vive uma “situação dramática e de apartheid”.

Apesar desse cenário, Ayupe enxerga, após esses dois anos, “um momento importante da história”, pois, segundo ele, “nunca a questão palestina conseguiu tanta visibilidade”.

Roberto Parizotti/ Fotos Publicas

Ativista do mundo inteiro denunciam Israel por crimes contra a humanidade
Roberto Parizotti/ Fotos Publicas

Pressão global

Para o pesquisador, esse visibilidade são “medidas simbólicas” que exercem uma pressão global sobre as lideranças que culminou na onda de reconhecimento do Estado palestino. “Isso se deve a debates, protestos e ao fato de que líderes que jamais reconheceram o Estado Palestino agora o reconhecem. Até mesmo a França e o Reino Unido, que muitas vezes foram coniventes com o genocídio, reconheceram o Estado, talvez por um alívio de consciência”, disse.

Porém, apesar do reconhecimento, “até então nenhuma medida direta foi tomada” para combater os ataques militares de Israel.

Ayupe entende que “há uma conscientização do que está acontecendo em Gaza”, com ações de países, como a África do Sul que acusou Israel de violar os direitos humanos no Tribunal Penal Internacional (TPI), e a Eslovênia, que impôs sanções impedindo a entrada de diplomatas israelenses em seu território. Da mesma forma como o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, está se posicionando. Para ele, o Brasil, por outro lado, demonstra um posicionamento “equilibrado e sóbrio”.

“É um momento relevante da política externa brasileira, uma vez que a denúncia, que já era discursiva, agora se tornou mais prática. E o que era político agora também se torna jurídico. A postura do Lula é adequada no sentido de defender os direitos humanos e de reconhecer o genocídio no território. Participar da ação da África do Sul é importante para responsabilizar Israel por violar a Convenção de 48 da ONU”, afirmou.

Segundo ele, a “ONU continua ineficiente, na verdade, em fazer o seu papel” de garantir o direito internacional, sobretudo porque “Israel continua tendo o apoio dos Estados Unidos, do governo Trump, e sua ofensiva em Gaza parece não ter fim”.

A Flotilha da Liberdade, por exemplo, faz parte de um movimento internacional em prol da causa da resistência palestina e envolve ativistas, intelectuais, médicos e outros profissionais de diversos países. O bloqueio de Israel não é só terrestre, mas também aéreo e marítimo. “Essa iniciativa de levar ajuda já aconteceu em outros contextos da história recente de Gaza, sempre sendo interceptada por Israel, que realiza esse bloqueio marítimo”, representando, mais uma vez, o genocídio cometido em Gaza.
“Outro exemplo é o movimento de Boicote, Investimento e Sanções (BDS), que possui um efeito simbólico e uma expansão que garantiu a adesão de países. Apesar de Israel continuar os ataques, há iniciativas de empresas para limitar suas ações e cortar laços com o regime sionista”.