Dependência dos EUA limita críticas de países árabes a Israel, aponta especialista
Rodrigo Ayupe aponta que relação econômica e militar com Washington impede 'postura mais concreta' para frear genocídio em Gaza
A dependência econômica e militar de países árabes em relação aos Estados Unidos limita as atuações de criticar e denunciar o genocídio perpetrado por Israel contra os palestinos em Gaza. O pesquisador do Núcleo de Estudos do Oriente Médio da Universidade Federal Fluminense (UFF) Rodrigo Ayupe compreende que essa relação impede uma “postura mais concreta” para frear o governo de Benjamin Netanyahu.
A Opera Mundi, Ayupe recordou que a Liga Árabe convocou uma cúpula e condenou a postura genocida do Estado israelense, mas que isso não é o suficiente, já que “medidas atuais ainda se limitam ao discurso”.
“É preciso pressão direta sobre Israel e maior articulação com a União Europeia — o que ficou aquém”, disse. Para o também professor de Relações Internacionais da PUC Minas, a identidade árabe é “central” no posicionamento dos países do Oriente Médio sobre a Palestina, “mas as relações com os EUA criam contradições”.
O especialista destacou, por exemplo, a Arábia Saudita, que é aliada de Washington e foi persuadida por Donald Trump em 2020 a normalizar relações com Israel. O rei saudita condenou o uso da fome como arma de guerra e rejeitou a anexação da Palestina. Porém, apontou que o país mantém uma posição ambígua: ao mesmo tempo que busca mediação regional, aproxima-se do Ocidente.
Para ele, países petroleiros, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, poderiam exercer maior pressão sobre os Estados Unidos e Israel. “Obviamente espera mais deles para colocar mais pressão, talvez sanções econômicas, em relação ao petróleo”, disse.

Mais de 60 mil palestinos morreram e milhares foram deslocados
© 2024 UNRWA / Ashraf Amra
Além dos sauditas, Ayupe também citou o Egito, que se reaproximou do governo norte-americano sob Abdel Fattah el-Sisi, e faz fronteira com Gaza. “O Egito em janeiro de 2025 pouco fez. Não obtiveram ações muito efetivas, como era esperado”.
Fome em Gaza
Ayupe avalia que era esperado que a população palestina chegasse a uma situação de extrema fome devido às medidas impostas pelo governo israelense. “A guerra foi escalando e configurou um cenário de genocídio, de eliminação total da população palestina — e isso passa também pela fome. Não é só bombardeio, mas a fome como tática de terror”, explicou.
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, o número total de mortes relacionadas à fome subiu para 193, incluindo 96 crianças. Os ataques de Israel contra o enclave já mataram pelo menos 61.020 pessoas e feriram 150.671.
No final de julho, o Brasil assinou a Declaração de Nova Iorque sobre a Solução Pacífica da Questão Palestina, pedindo o fim imediato da guerra em Gaza e propondo um roteiro para a solução de dois Estados. Entre os signatários estão Egito, Japão, Irlanda e União Europeia.























