Crianças palestinas feridas por Israel aguardam visto dos EUA 'antes da morte'
Evacuada da zona de guerra, Mariam Sabbah e sua família estão presas em hospital egípcio após governo Trump barrar entradas
Mariam Sabbah, Nasser e Ahmed foram evacuados da zona de guerra, mas agora estão presos em um hospital egípcio que não pode tratar seus ferimentos graves após a proibição repentina de Trump à entrada de palestinos nos EUA.
Em 1º de março, o Exército de Israel atacou uma casa em Deir al-Balah, no centro de Gaza. A ofensiva quase atingiu crianças adormecidas no local. Entretanto, aterrorizada pelo impacto do ataque, uma menina de nove anos correu em direção aos pais, e foi nesse instante que um segundo projétil israelense a atingiu. “Eu a vi vindo em minha direção, mas de repente houve outra explosão e ela desapareceu na fumaça”, conta sua mãe, Fatma Salman, ao jornal britânico The Guardian.
Além de perder o braço, a explosão deixou Mariam com lesões abdominais e pélvicas severas causadas por estilhaços que perfuraram sua bexiga, útero e intestino.
Após conseguir a oferta de tratamento cirúrgico de uma equipe especializada em Ohio, a menina esperou dois meses para receber permissão da Cogat (o departamento do governo israelense responsável por aprovar evacuações médicas) para deixar Gaza. Nesse período, seu estado de saúde já havia se deteriorado. Ela e sua família foram evacuados para o Egito, mas ficaram retidos por meses aguardando o processamento de seus documentos de viagem para os EUA.
Poucos dias antes de sua consulta na embaixada no Cairo para aprovar o visto, os EUA pararam repentinamente de emitir vistos para palestinos — incluindo crianças — que necessitavam de tratamento médico em hospitais norte-americanos.
ONGs médicas afirmam que cerca de 20 crianças gravemente feridas foram afetadas pela proibição de Washington e agora estão retidas em países de trânsito, sem ter para onde ir e sem o tratamento necessário para salvá-las.
Ataques militares repetidos e ofensivas contra hospitais em Gaza, somados ao bloqueio israelense de suprimentos e produtos básicos no território, deixaram o setor de saúde devastado e os médicos sem recursos para tratar doentes, feridos e famintos. Pelo menos 64.000 pessoas morreram no enclave, a maioria mulheres e crianças.

Despedida e funeral de duas crianças que morreram de desnutrição no Hospital Nasser em Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza
WAFA
Tratamentos de saúde e vistos de palestinos
Desde outubro de 2023, 7.672 pacientes, incluindo 5.332 crianças, foram evacuados da Palestina para tratamento urgente no exterior. No entanto, tentar organizar e aprovar uma evacuação médica é um processo lento, árduo e minuciosamente investigado.
Até agora, mais de 700 pacientes, entre eles muitas crianças, morreram aguardando a permissão da Cogat para deixar Gaza, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em paralelo, ao menos 404 dos óbitos no território, sendo 141 crianças, foram por fome. Cerca de 900 mil crianças no território palestino sofrem de fome, das quais 70 mil encontram-se em estado de desnutrição.
Laura Loomer, influenciadora de extrema direita próxima de Donald Trump, intensificou uma campanha xenófoba contra palestinos. Ela publicou fotos e vídeos de pacientes evacuados chegando ao território norte-americano em suas redes sociais e questionou: “Por que invasores islâmicos estão entrando nos EUA sob o governo Trump?”.
Embora os EUA tenham aceito apenas 48 evacuações médicas de Gaza, de acordo com números fornecidos ao Guardian pela OMS, outros países receberam muito mais: 3.995 pessoas gravemente feridas foram evacuadas para o Egito e 1.450 para os Emirados Árabes Unidos.
Já na última segunda-feira (15/09), o primeiro grupo de crianças chegou ao Reino Unido para receber tratamento especializado e vital no Serviço Nacional de Saúde (NHS). É esperado que entre 30 e 50 jovens palestinos sejam atendidos no centro médico.
Em agosto, a Itália também acolheu mais 34 crianças da Faixa de Gaza para receber tratamento médico no país. Segundo nota da Farnesina, Roma já hospitalizou 150 crianças de Gaza e suas famílias – mais de 460 pessoas – em diversas unidades de saúde do país, tornando-se o quarto país do mundo — o primeiro entre os ocidentais — a organizar a transferência de pacientes do enclave palestino para hospitais especializados.























