Conheça o tatreez: bordado que Janja vestiu na ONU é símbolo da resistência palestina
Primeira-dama do Brasil recordou em Nova York as 28 mil mulheres e meninas mortas desde outubro de 2023: ‘trago elas junto a mim’
Colorido, simétrico e minucioso. Assim é o tatreez, tipo de bordado que é muito mais do que um enfeite, é um símbolo da identidade palestina. Nesta terça-feira (23/09), a primeira-dama do Brasil, Janja da Silva, vestiu um casaco vermelho feito com essa técnica durante a abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
A palavra “tatreez” significa literalmente bordado em árabe. As peças podem ser usadas para decorar vestidos, roupa de cama, lenços, livros e até mesmo em obras de arte.
Através das redes sociais, Janja fez uma postagem do traje e explicou os motivos por ter escolhido essa peça para o evento.
“Trago as mulheres palestinas junto a mim na Abertura da Assembleia Geral da ONU. Me visto com o tradicional bordado tatreez, feito por mãos majoritariamente femininas, ao logo dos séculos”, comentou a primeira-dama.
Esses pontos geométricos coloridos contam a história de luta e resistência de um povo que vem sofrendo reiterados ataques desde o início dos conflitos na Faixa de Gaza, atingindo em sua maioria mulheres e crianças.
“Em maio de 2025 a ONU Mulheres estimou que, desde o início do conflito em 2023, mais de 28 mil mulheres e meninas foram mortas em Gaza”, escreveu a primeira-dama.

Primeira-dama Janja Lula da Silva com casaco bordado em tatreez
Reprodução
Técnica ancestral
Em 2021, esse bordado recebeu o reconhecimento da Unesco que declarou o tatreez como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. A entidade disse que essa é uma prática social e intergeracional generalizada na Palestina.
Para a palestina Dalia Kayed, refugiada que chegou à Espanha há poucos meses, o tatreez é parte da sua identidade.
“Significa muito pra mim. Sinto que assim estou salvando a minha cultura. Israel tenta roubar a nossa história com a ocupação e esta é uma maneira de mantê-la viva. Quando termino um bordado, fico muito orgulhosa”, explica emocionada a jovem de 20 anos.
Há um ano, a Casa Árabe de Madri abriu cursos de tatreez para divulgar essa técnica. A coordenadora de formação e economia do instituto, Olivia Orozco, explica que se surpreendeu com a grande procura pelas aulas sobre o bordado palestino.
“Em dois dias as inscrições estavam encerradas. Tivemos mulheres de todas as idades interessadas em aprender e até mesmo alguns homens. Esse bordado é ensinado de avós a filhas e, de certa maneira, a gente quis replicar esses círculos sociais de intercâmbio entre mulheres neste espaço”, conta a coordenadora a Opera Mundi.

Modelos de tatreez
Lucila Runnacles
Resistência cultural
Quem também está ensinando essa técnica artesanal a mulheres espanholas é a imigrante palestina Avvo Zoughbi, de 40 anos.
“Quando estou bordando vejo a minha mãe, minha avó, minha tia e até a minha bisavó. Minhas filhas sabem fazer, até mesmo a de 12 anos borda. Eu lembro muito bem do primeiro tatreez que fiz, quando tinha só 4 anos de idade”, relembra.
Esse símbolo de resistência cultural e luta palestina é motivo de orgulho para essas mulheres, algumas delas afirmam que é possível ver e sentir a Palestina e sua cultura através do tatreez.
“Normalmente, o que você sente, você replica através dos fios. Nos bordados colocamos objetos que usamos em nosso dia a dia, por isso é possível ver a nossa história através dessa arte. Eu não esperava ensinar o nosso bordado a outras mulheres em outros países. Por isso estou muito feliz de poder mostrar e preservar a nossa cultura dessa maneira”, sorri Dalia.

Imigrantes palestinas, Dalia Kayed e Avvo Zoughbi ensinam técnica de tatreez a mulheres em Madri
Lucila Runnacles
Os cursos de bordado palestino fizeram tanto sucesso que a Casa Árabe decidiu abrir mais uma oficina em Madri nas próximas semanas.
“Neste momento de tanta destruição é bonito criar e fazer alguma coisa pelo povo palestino. A arte também é terapia”, diz Orozco.























