Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Um inquérito das Nações Unidas concluiu que a guerra de Israel em Gaza constitui genocídio, um marco significativo após quase dois anos de conflito. De acordo com a presidente da Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU sobre os Territórios Palestinos Ocupados, Navi Pillay, o “Estado de Israel é considerado responsável e cometeu genocídio”.

“Identificamos o presidente, Isaac Herzog; o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu; e o ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, com base em suas declarações e nas ordens que emitiram. Como esses três indivíduos eram agentes do Estado, perante a lei, o Estado é considerado responsável. Portanto, afirmamos que foi o Estado de Israel que cometeu genocídio”, declarou Pillay à emissora catariana Al Jazeera nesta terça-feira (16/09).

Conforme o relatório, a comissão descobriu que, somadas às declarações proferidas pelas autoridades israelenses, havia “evidências circunstanciais” que levaram à conclusão de intenção genocida. “A Comissão conclui que as autoridades e as forças de segurança israelenses têm a intenção genocida de destruir, no todo ou em parte, os palestinos na Faixa de Gaza”, finaliza o documento.

Os investigadores da ONU também citaram exemplos da escala dos assassinatos, bloqueios de ajuda humanitária, deslocamento forçado e destruição de uma clínica de fertilidade para fundamentar a conclusão de genocídio.

A Convenção da ONU sobre Genocídio de 1948 define o crime como atos cometidos “com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”. Para ser configurado, pelo menos um de cinco atos específicos deve ter ocorrido.

Moradores da Cidade de Gaza afirmam estar sendo submetidos a bombardeios, pelo menos 68 pessoas foram mortas por ataques aéreos israelenses em Gaza desde o amanhecer desta terça-feira (16)

Moradores da Cidade de Gaza afirmam estar sendo submetidos a bombardeios, pelo menos 68 pessoas foram mortas por ataques aéreos israelenses em Gaza desde o amanhecer desta terça-feira (16)
WAFA

A comissão das Nações Unidas concluiu que Israel cometeu quatro deles: homicídio; inflição de danos físicos ou mentais graves; imposição deliberada de condições de vida calculadas para causar a destruição física total ou parcial; e imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos.

Como evidência, foram citados depoimentos de vítimas, testemunhas, profissionais de saúde, documentos de código aberto verificados e análises de imagens de satélite compiladas desde o início do conflito, há dois anos.

O relatório também solicitou que a comissão obtivesse acesso a Israel e aos territórios palestinos ocupados, incluindo Jerusalém Oriental, para dar continuidade às investigações.

Entretanto, o Ministério das Relações Exteriores de Israel criticou as conclusões do inquérito, classificando-as como “falsas”. “O relatório baseia-se inteiramente em falsidades do Hamas, lavadas e repetidas por outros”, afirmou a pasta. “Israel rejeita categoricamente este relatório distorcido e falso e pede a abolição imediata desta Comissão de Inquérito”, alegou em uma publicação no X.

O representante permanente de Israel na ONU, Daniel Meron, também condenou as conclusões, referindo-se a elas como “escandalosas”, “falsas” e um “discurso difamatório”.

O governo de Netanyahu igualmente negou a acusação de genocídio, que também está sob análise pela Corte Internacional de Justiça. O premiê intensificou ainda mais o conflito ao ordenar uma ofensiva na Cidade de Gaza na manhã desta terça (16), onde pelo menos 68 palestinos morreram.

A guerra de Israel em Gaza teve início em 7 de outubro de 2023, os bombardeios israelenses e as operações terrestres no enclave desde então mataram pelo menos 64.871 pessoas e feriram outras 164.610, conforme informou o Ministério da Saúde de Gaza na segunda-feira (15/09).