Catar continuará mediação do conflito em Gaza após ataque israelense
Segundo declaração de primeiro-ministro na ONU, Doha prosseguirá com ‘papel humanitário e diplomático’, mas ‘não tolerará’ violação de sua soberania
O primeiro-ministro do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al-Thani, declarou nesta sexta-feira (12/09) que seu país “continuará o papel humanitário e diplomático” para mediar o conflito na Faixa de Gaza, apesar do ataque promovido por Israel contra seu território nesta semana.
Segundo declarações durante uma sessão de emergência do Conselho de Segurança da ONU, o mandatário alertou que o ataque promovido por Israel na terça-feira (09/09) “também foi um ataque a todos os esforços diplomáticos que visam soluções pacíficas” com o Hamas, incluindo cessar-fogo, libertação dos reféns e prisioneiros e entrada de ajuda humanitária em Gaza.
Mesmo assim, garantiu que o país permanecerá na decisão “que ofereça um caminho para salvar vidas”, mas “não tolerará qualquer violação de sua soberania ou segurança”. Ao lado do Egito e dos Estados Unidos, Doha media negociações para um cessar-fogo entre Israel e o grupo palestino Hamas na Faixa de Gaza.
O mandatário catari disse ainda que seu governo “reserva o direito legítimo de responder em conformidade com o direito internacional” ao enfatizar que o Catar “é uma nação de paz, não de guerra, e escolheu a paz como princípio orientador, apesar das provocações daqueles que buscam conflito e destruição”.
Por outro lado, alertou que a ação israelense indica sua intenção de “sabotar qualquer esforço de paz e prolongar o sofrimento do povo palestino”. “Os extremistas que agora governam Israel não se importam com as vidas dos reféns ou com sua libertação”, acrescentou.
Catar denuncia ataque
Na reunião, convocada pela Argélia, Somália, Paquistão, França e Reino Unido, em resposta ao ataque israelense ao Catar, Al-Thani classificou a situação como “uma escalada extremamente perigosa que ameaça diretamente a paz e a segurança regionais”.
O líder catari lembrou que a região alvo da ofensiva israelense era um “complexo residencial designado pelo Estado, usado para abrigar delegações de negociação”.
“O complexo era conhecido por todas as partes envolvidas no processo de mediação, e até mesmo pela mídia e diplomatas que se encontraram com membros da delegação do Hamas no local, como a residência de negociadores do Hamas e suas famílias”, afirmou Al-Thani.
O objetivo do ataque israelense, que deixou “múltiplas mortes” e desaparecidos segundo o governo catari, foi justamente atingir líderes do Hamas que estavam no país para as negociações de cessar-fogo.
O primeiro-ministro denunciou que o ataque “constituiu uma flagrante violação da soberania de um Estado-membro pleno da ONU [o Catar], perpetrada por uma liderança extremista [governo Netanyahu]” e acusou Israel de ter um comportamento “distante de nações civilizadas comprometidas com a paz”.

Posição do Catar na ONU ocorreu após organismo emitir declaração sobre o ataque, mas evitar condenar Israel diretamente
@MBA_AlThani_/X
“Violar a soberania de um país que trabalha ativamente para intermediar um cessar-fogo e salvar vidas coloca todo o sistema internacional sob um sério teste”, afirmou ao acusar Israel de “ultrapassar todos os limites estabelecidos pelo direito internacional, pelas normas diplomáticas e até mesmo pela ética humana básica”.
Al-Thani questionou como as autoridades israelenses “puderam visitar o Catar para negociações” enquanto sua liderança planejava e executava um ataque aéreo no próprio local das negociações, “apenas alguns dias depois”.
Durante sua fala ainda disse que o mundo nunca havia testemunhado “um Estado atacando o território mediador durante uma negociação ativa e tentando matar membros da delegação adversária no local de sua reunião”.
Para o governo catari, os consecutivos acontecimentos no Oriente Médio provocados por Israel “revelam apenas uma conclusão: a de que a atual liderança israelense está intoxicada pelo poder e pela arrogância, pois acredita poder agir com total impunidade”.
O mandatário chamou atenção para a comunidade internacional, que além de não conseguir impedir o genocídio em Gaza, também não tem agido contra “a mão destrutiva israelense agora atinge Estados soberanos e desestabiliza a região sem responsabilização”.
Al-Thani instou que “as nações e povos” árabes “jamais aceitarão” a “arrogância, remodelamento do Oriente Médio pela força, motivos messiânicos e a ideologia extremista” de Israel.
O governante lembrou o Conselho de Segurança do papel do Catar na negociação de outros conflitos, como a guerra entre os Estados Unidos e o Afeganistão, e que seu trabalho diplomático para o conflito em Gaza “já havia produzido resultados tangíveis, incluindo a libertação de 148 reféns israelenses e estrangeiros, centenas de prisioneiros palestinos e a entrega de ajuda humanitária” no enclave palestino.
Al-Thani afirmou ao Conselho de Segurança da ONU que o ataque israelense “mina os fundamentos da ordem internacional e ameaça o futuro de qualquer processo de paz na região”. “Esses ataques não visam apenas o Estado do Catar, mas representam uma ameaça direta a todos os Estados que trabalham pela paz, minando a confiança no próprio sistema da ONU”, afirmou.
Por fim, ainda instou toda a comunidade internacional a “não ceder à arrogância dos extremistas e a continuar lutando por uma paz duradoura baseada em uma solução de dois Estados, estabelecendo um Estado palestino independente e totalmente soberano”.
A posição do Catar no Conselho de Segurança da ONU ocorreu após o organismo emitir uma declaração sobre o ataque, que lamentou o ocorrido, identificado que “abre um novo e perigoso capítulo neste conflito devastador, ameaçando seriamente a paz e a estabilidade” no Oriente Médio, mas evitando condenar diretamente Israel ou emitir sanções práticas.























