Casa Branca apoia plano para Tony Blair liderar autoridade interina em Gaza
Proposta visa criação de organismo internacional para supervisionar o território por até cinco anos contrariando projeto da ONU por transição mais rápida para Estado palestino
A Casa Branca está apoiando um plano que prevê o ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, liderando uma administração temporária da Faixa de Gaza — inicialmente sem a participação direta da Autoridade Palestina (AP), de acordo com o jornal israelense Haaretz. A proposta também conta com o apoio de figuras influentes, desde líderes do Golfo até Jared Kushner, genro de Donald Trump, que anteriormente expressou interesse em desenvolver um resort na Faixa de Gaza.
De acordo com fontes envolvidas na proposta, Blair chefiaria um órgão denominado Autoridade Internacional de Transição de Gaza (GITA). Conforme relatado pelo Haaretz e pelo Times of Israel, o plano se inspira nos modelos que supervisionaram a transição de Timor-Leste e Kosovo para a condição de Estado.
O objetivo seria obter um mandato da ONU para atuar como a “autoridade política e legal suprema” de Gaza por um período de cinco anos. Se aprovada, a estrutura teria um secretariado de até 25 pessoas e um conselho de sete membros para supervisionar um órgão executivo responsável pela administração do território, com financiamento dos estados do Golfo. “Ele está disposto a sacrificar seu tempo. Ele realmente quer acabar com a guerra”, afirmou uma fonte próxima a Blair ao The Economist.
Inicialmente, a base de operações seria el-Arish, capital provincial egípcia próxima à fronteira sul de Gaza. A intervenção na Palestina, acompanhada por uma força multinacional, ocorreria assim que o enclave estivesse estável, e os palestinos não seriam incentivados a deixar o território. Segundo a proposta, Gaza e a Cisjordânia seriam reunificadas e gradualmente transferidas para o controle palestino.
A divulgação do plano ocorreu poucos dias após a Assembleia Geral da ONU aprovar uma proposta diferente para uma administração tecnocrática assumir o controle de Gaza. Conhecida como Declaração de Nova York, essa iniciativa previ uma administração interina de apenas um ano, com o claro entendimento de que, posteriormente, o poder seria entregue a uma Autoridade Palestina reformada, sob uma Constituição revisada e após eleições para um novo presidente e parlamento.
Os estados árabes afirmaram que só contribuirão para uma força internacional de manutenção da paz mandatada pela ONU se houver um cronograma político claro para a formação de um Estado palestino. Alguns podem argumentar que o plano de Blair não estabelece um caminho irreversível para a criação desse Estado, representando antes uma ocupação distinta e mais branda do que a exercida por Israel.

Envolvimento de Blair é polêmico devido a seu histórico: apoiou invasão do Iraque e, como enviado do Quarteto, viu Israel atacar Gaza quatro vezes
Gage Skidmore, Flickr / @institutegc Instagram
Tony Blair possui um histórico complexo na região. Durante seu mandato como primeiro-ministro, aliou-se aos Estados Unidos na invasão do Iraque em 2003. Além disso, em seus oito anos como enviado do Quarteto (grupo composto por EUA, UE, Rússia e ONU — encarregado de implementar um roteiro para a criação de um Estado palestino), Israel atacou Gaza quatro vezes e reforçou seu controle sobre os territórios.
Poucas semanas após o início da guerra em Gaza, o ex-premiê britânico realizou visitas a Jerusalém e encarregou sua fundação sediada em Londres de elaborar um plano para um mandato pós-guerra.
Segundo o The Economist, Blair, Kushner e Steve Wittkoff, o enviado do presidente norte-americano para o Oriente Médio, discutiram o assunto em uma reunião com Trump em 27 de agosto. Ron Dermer, confidente do primeiro-ministro israelense e ministro de Assuntos Estratégicos, participou por telefone. Em 23 de setembro, Trump teria apresentado a ideia aos líderes da Turquia, Paquistão, Indonésia e cinco países árabes. “Talvez possamos acabar com isso [a guerra de Gaza] agora mesmo”, disse Trump a eles.
Total responsabilidade pela Palestina
Por ter seu visto negado pelo governo dos Estados Unidos, o presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, garantiu que a AP está pronta para “assumir total responsabilidade pela governança e segurança da região” e afirmou que “a Faixa de Gaza é uma parte integral do Estado da Palestina”.
Ele também destacou que povo palestino vive “uma guerra de genocídio, destruição, fome e deslocamento” travada pelas forças de ocupação israelenses, durante seu discurso nesta quinta-feira (25/09) na 80ª Assembleia-Geral da ONU, em Nova York.
“O que Israel está fazendo não é sequer uma agressão, é um crime de guerra e um crime contra a humanidade que será lembrado nos livros de história e nas páginas da consciência internacional como um dos capítulos mais horríveis de tragédia humanitária do século 21”, afirmou.
O líder palestino também denunciou a expansão ilegal de assentamentos na Cisjordânia ocupada. “Eles queimam casas e campos, arrancam árvores, atacam aldeias e civis palestinos desarmados. Na verdade, eles os matam em plena luz do dia, sob a proteção do exército de ocupação israelense”, relatou. E condenou o “ataque brutal contra o Estado irmão do Qatar”, apontando-o como “uma escalada e uma violação grave e clara do direito internacional, que exige uma intervenção decisiva e procedimentos de contenção”.
Antecipando o discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, nesta sexta-feira (26/09), Donald Trump declarou que não permitirá que Israel anexe a Cisjordânia. “Não, eu não vou permitir. Isso não vai acontecer. Já houve o suficiente. É hora de parar agora”, disse a repórteres no Salão Oval nesta quinta-feira (25/09).























