Autoridades diplomáticas do Brasil encontram ativistas da Flotilha em Israel; brasileiros 'estão bem'
GSF informa que dos 14 participantes da missão humanitária pelo país, apenas quatro concordaram com deportação; ainda não há informações sobre retorno
Em comunicado à imprensa, a Global Sumud Flotilha informou que os 14 integrantes da delegação brasileira da missão humanitária receberam nesta sexta-feira (03/10), a visita de autoridades diplomáticas do Brasil em Israel. “Todos afirmaram estar bem e demonstraram resiliência emocional diante da situação”, diz a nota.
“Dos 14 integrantes da delegação brasileira presos ilegalmente, em situações, conforme relatadas, de abuso de direitos humanos e privação de água e alimentação, 4 assinaram os papéis de deportação, mas não temos ainda informações sobre quando irão regressar ao Brasil. O documento previamente preenchido, implica no reconhecimento de que entraram ilegalmente em Israel, e ficam impedidos de adentrarem novamente por 100 anos”, informa a Flotilha.
Neste momento, eles se encontram na prisão de segurança máxima de Ktzi’ot, em Israel, onde seguem submetidos aos trâmites jurídicos e aguardam a deportação. A Embaixada brasileira afirmou que continuará acompanhando o caso e informando os familiares.
A Flotilha, composta por mais de 40 embarcações de 47 países, levava ajuda humanitária a Gaza em mais uma tentativa de romper o bloqueio ilegal imposto por Israel ao enclave palestino. A missão, interrompida pelas forças israelenses na última quarta-feira (02/10), começou em Barcelona, na Espanha, em 31 de agosto.
Advogados da organização Adalah informaram nesta sexta-feira (03/10) que conseguiram se reunir com 331 dos 461 integrantes da Global Sumud Flotilla (GSF), detidos ilegalmente pelas autoridades israelenses após a interceptação das embarcações em águas internacionais, na última quarta-feira (01/10).
Os encontros ocorreram no Porto de Ashdod, onde os ativistas enfrentam audiências perante as autoridades de imigração de Israel. Segundo os advogados, muitos deles passaram por procedimentos sem acesso à defesa legal, pois os advogados foram inicialmente impedidos de contato com os detidos.

Ativistas da Flotilha Global Sumud
Wikimedia Commons
Abusos e humilhações
Segundo o comunicado, os advogados tiveram de aguardar nove horas do lado de fora do Porto de Ashdod até entrarem em contato com os ativistas. Eles denunciaram que os participantes da Flotilha foram submetidos a humilhações, obrigados a se ajoelhar com as mãos presas por enforca-gatos por mais de cinco horas, além de terem sido filmados e expostos publicamente em uma tentativa de intimidação. “Vários relataram ter sido vítimas de agressões, ameaças e assédio, incluindo serem acordados de forma violenta sempre que tentavam dormir”, diz o texto.
Durante as visitas jurídicas, o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, apareceu no local em uma ação descrita como “claramente humilhante e provocatória”. Em paralelo, informa a GSF, “os ativistas estão sendo falsamente rotulados como ‘terroristas’, numa tentativa de deslegitimar sua missão pacífica e justificar as táticas repressivas utilizadas contra eles”.
A Adalah afirmou que todo o processo, desde a interceptação até as detenções, é ilegal e que as autoridades israelenses violaram sistematicamente os direitos dos voluntários, negando-lhes acesso à água, alimentação, medicamentos e assistência jurídica. A GSF informa que os detidos foram transferidos para a prisão de Ktzi’ot, no deserto do Naqab (Neguev), onde continuam enfrentando audiências sem representação legal plena.
A Adalah está tomando medidas para localizar todos os participantes, exigir sua libertação imediata e garantir a restituição de seus pertences e da carga humanitária. A transferência para Ktzi’ot, uma unidade prisional remota, é vista como uma tentativa deliberada de isolar os ativistas e dificultar o acompanhamento diplomático por parte das embaixadas de seus países.
Brasileiros na Flotilha
Participam da delegação brasileira detida em Israel os ativistas: Thiago Ávila (internacionalista e socioambientalista), Bruno Gilga Rocha (trabalhador da USP e sindicalista), Lucas Farias Gusmão (ativista internacionalista), João Aguiar (assistente social e integrante do Núcleo Palestina do PT/SP), Mohamad El Kadri – (presidente do Fórum Latino-Palestino), Mariana Conti (vereadora do PSOL/SP), Gabrielle Tolotti (presidenta do PSOL/RS), Ariadne Telles (advogada de direitos humanos), Lisiane Proença (comunicadora popular), Magno Carvalho Costa (sindicalista da USP e da CSP-Conlutas), Victor Nascimento Peixoto (professor e pesquisador), Nico Calabrese (professor de Educação Física); Luizianne Lins (deputada federal do PT-CE) e Miguel Viveiros de Castro (documentarista e comunicador).























