Ativistas da Flotilha receberam demonstração do terrorismo israelense, diz participante
Mariana Conti conversou com Opera Mundi após prisão e deportação por ter participado da iniciativa que tentou levar ajuda humanitária para Gaza
Após ficar cinco dias detida em uma prisão de Israel, a vereadora de Campinas Mariana Conti, (PSOL), umas das brasileiras que integraram a recente missão da Global Sumud Flotilha, regressou ao Brasil na manhã desta quinta-feira (09/10) e contou sua experiência na embarcação que levava ajuda humanitária e que foi interceptada ilegalmente em águas internacionais.
A vereadora afirma que a prisão foi uma demonstração de “desrespeito total aos direitos humanos” contra todos que se solidarizam com a população palestina. “Fomos submetidos à violência psicológica, deixados ao sol, ficamos dois dias sem comida, não tínhamos acesso à água potável”.
Apesar do horror, Conti reitera que “não chega nem perto do horror que é a forma como Israel trata a própria população da Palestina”.
Nesta sexta-feira (10/10) entrou em vigor a primeira fase do acordo de cessar-fogo da guerra de Israel em Gaza. Segundo o acordo, as forças israelenses devem dar início à retirada das suas tropas em um prazo de 24 horas, que começou a ser contado ao meio dia desta sexta (pela hora local), mas não se tratará de uma retirada completa, e sim parcial.
Confira a entrevista completa:
Opera Mundi: Mariana, essa Flotilha foi uma das maiores e mais destacadas, e que também teve um maior número de brasileiros. Como foi a experiência de participar dessa missão humanitária?
Mariana Conti: A Global Sumud Flotilla (GSF) foi a maior missão humanitária de solidariedade internacional já realizada. Eu devo dizer que participar dela foi uma honra e um aprendizado muito grande, porque estar com pessoas de diferentes países, culturas, línguas, religiões, histórias, idades, foi uma experiência fascinante. E sobretudo porque eram ativistas que estavam com muita firmeza e convicção da necessidade de cumprir com o objetivo da missão, de levar ajuda humanitária para Gaza, para a população da Palestina e de derrotar esse projeto imperialista do sionismo, que hoje promove o genocídio na Palestina. Então, essa convicção, firmeza e objetivo comum foram forças determinante para que pudéssemos impulsionar uma rede de solidariedade internacional. Foi uma experiência que vai ficar marcada, e tenho certeza que vai servir como aprendizado para outras experiências de solidariedade internacional, que serão necessárias e que com certeza irão acontecer contra o avanço sem medida do imperialismo sobre os povos do mundo.
Você avalia que essa missão, em relação a outra também foi interceptada, houve uma maior solidariedade?
A Global Summud Flotilla foi uma missão que envolveu quase 500 ativistas de 44 países, então pela sua diversidade e pela sua força numérica, foi uma missão que conseguiu uma repercussão muito maior. Por isso entendo que foi uma uma missão que foi extremamente vitoriosa, que conseguiu colocar os olhos do mundo sobre o genocídio em Gaza, impulsionar mobilizações e uma rede de solidariedade internacional nunca antes vista, pressionar governos que até então tinham uma postura cúmplice com o genocídio. Isso, com certeza, foi uma grande vitória, ainda que o objetivo de levar medicamentos, remédios, alimentos e próteses para a Cidade de Gaza não tenha sido alcançado, porque nós fomos interceptados e sequestrados em águas internacionais pelas forças israelenses.

A Opera Mundi, Mariana Conti considerou que, apesar de sequestro israelense, Flotilha foi ‘vitoriosa’
marianaconti_psol / Instagram
Como foi desde a interceptação de Israel até a deportação para o Brasil?
Nossos barcos foram interceptados em águas internacionais, o que é um crime – dentre tantos outros crimes que Israel comete – fomos sequestrados e levados para uma prisão israelense, onde ficamos cinco dias em uma experiência horrorosa. Foi um horror, fomos tratados com extrema truculência, submetidos a situações limites, deixados ao sol, ficamos dois dias sem comida, não tínhamos acesso à água potável, aos remédios que as pessoas precisavam, fomos submetidos à violência psicológica, a privações de sono. Ou seja, desrespeito total aos direitos humanos, o que mostra uma demonstração do método terrorista que Israel aplica contra todos aqueles que se solidarizam com a população da Palestina. Mas isso não chega nem perto do horror que é a forma como Israel trata a própria população da Palestina, seja no território palestino, seja nas prisões e nas masmorras israelenses.
Como você responde quem critica a Flotilha? Muitos questionam a eficácia da missão, de ser “caça likes” do que de fato uma ajuda.
A missão fala por si mesma. Criticar uma missão de ajuda humanitária para uma população que passa por um genocídio, por violências e fome extrema é de uma desumanidade sem tamanho. Além disso, a eficácia da Global Summud Flotilla já está demonstrada na forma que impulsionou uma rede de solidariedade internacional, colocou luz no genocídio, pressionou os governos e movimentou a geopolítica internacional. Então, quem critica e fala que é só uma uma missão de “caça likes” está desinformado e perdeu todo o senso de humanidade.
Seu mandato de vereadora está sendo alvo de uma possível cassação pela oposição conservadora de Campinas devido sua participação na Flotilha. Como avalia essa perseguição? E também, Campinas é majoritariamente conservadora. Como você vê o desenrolar da pauta palestina na cidade?
Esse pedido de cassação do meu mandato, além de não ter nenhum fundamento legal, é uma verdadeira falta do que fazer desses vereadores da extrema-direita que só querem espaço de mídia frente a enorme repercussão que a causa Palestina teve. E são sempre os mesmos vereadores que defendem todo e qualquer projeto de genocídio e morte da população, do povo pobre e dos povos do mundo.
Campinas tem uma história muito bonita de solidariedade à luta Palestina e eu sei que a grande maioria das pessoas são generosas e sentem orgulho de ver sua cidade representada nessa nessa grande rede internacional de solidariedade contra genocídio. Então, eu vejo que a minha presença na Global Summud Flotilla foi uma ponte da nossa cidade com esse grande esforço humanitário internacional.
Como avalia a postura do governo Lula em todo o período em que participaram da missão humanitária? Sabemos da importância da mediação do embaixador brasileiro na Jordânia, mas ao mesmo tempo, o governo não se dispôs a atuar no retorno de vocês.
A postura do governo Lula com relação à missão humanitária é a mesma postura que o presidente adota com relação à causa Palestina como um todo. A crítica ao genocídio na Assembleia Geral da ONU tem uma importância, afinal Lula tem uma relevância internacional. Mas é extremamente insuficiente, uma vez que o Brasil continua exportando petróleo para Israel e continua abastecendo os aviões que carregam as bombas que atacam a Cidade de Gaza e que matam crianças.
Da mesma forma, a posição pública de Lula com relação a defesa dos ativistas brasileiros que participaram na missão humanitária tem uma importância, mas também é insuficiente. Nós tivemos o apoio da Embaixada brasileira na Jordânia, que foi muito importante, mas o governo atuou muito pouco para nos trazer de volta, e isso é uma questão de segurança. O governo sequer se dispôs a financiar o retorno desses ativistas. Então, é uma postura pública que tem importância, mas uma insuficiência em termos de ações concretas de apoio com relação à causa Palestina.























