Alunos da USP denunciam uso de ‘liberdade acadêmica’ para legitimar palestras pró-Israel
Centro Acadêmico XI de Agosto critica evento com André Lajst e acusa Faculdade de Direito de não oferecer debate equilibrado
Alunos do curso de Direito da Universidade de São Paulo (USP) rejeitaram nesta terça-feira (18/11) que a faculdade use “um discurso abstrato sobre ‘liberdade acadêmica’ para legitimar” narrativas pró-Israel e contrárias à luta palestina. A denúncia é em referência ao protesto contra o evento intitulado “Conversas sobre o mundo”, que teve a participação de André Lajst, presidente no Brasil da organização sionista StandWithUs e ex-integrante do Exército israelense.
A mesa foi organizada pela professora Maristela Basso, que visitou Israel em fevereiro passado em uma viagem organizada e patrocinada pela entidade. A nota do Centro Acadêmico XI de Agosto enviada a Opera Mundi repudiou que a faculdade permita “vozes comprometidas com a manutenção de violações graves de direitos humanos em seus espaços institucionais”.
Segundo o coletivo acadêmico, Lajst criticou os estudantes pró-Palestina, acusando-os de “interromper o Estado Democrático de Direito”. “Ao invés de responder às críticas políticas feitas por estudantes, ele tentou enquadrar a manifestação — um direito constitucional — como ameaça à democracia. É exatamente o contrário: contestar discursos opressores é exercício democrático, não sua negação”, diz a nota.
O centro também classificou como “preocupante” a postura do diretor da SanFran, Celso Campilongo. Segundo os alunos, ele desconsiderou a gravidade do evento e afirmou que haveria preocupação caso o palestrante fosse “impedido de falar”. Campilongo ainda acusou os estudantes de não apresentarem uma “postura democrática” e de interromperem o diálogo.
Porém, o coletivo criticou, na realidade, a ausência de vozes comprometidas com a defesa dos direitos do povo palestino. “Não existe ‘debate equilibrado’ quando um dos lados é a normalização de crimes internacionais. Não existe neutralidade possível diante de um projeto político que sustenta expulsões forçadas, bombardeios sistemáticos e o apagamento histórico e cultural de um povo inteiro. Apartheid, genocídio e limpeza étnica não se debate, se combate”, afirmou a gestão Candeia do centro acadêmico.
Os alunos também questionaram a “pertinência acadêmica” da atividade, uma vez que ela não “promove pluralidade”, mas sim “reforça um único enquadramento político, desconsiderando a gravidade da situação na Palestina e as demandas por um debate equilibrado e comprometido com os direitos humanos”.
A entidade justificou sua manifestação pela falta de posicionamento da USP. “As Arcadas — local em que o evento foi realizado — não podem servir de palco para a normalização do colonialismo, do apartheid e da violência contra o povo palestino. Seguimos na luta pela Palestina livre e por uma São Francisco verdadeiramente comprometida com justiça, dignidade e direitos humanos”.

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O evento “Conversas sobre o mundo”, organizado por Basso e com presença de Lajst, também recebeu Flávio Leão Bastos, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e membro da “List of Counsels” para as vítimas do Tribunal Penal Internacional (TPI). Outra convidada foi a vereadora Cris Monteiro (NOVO-SP).
A palestra estava marcada para ocorrer na última quinta-feira (13/11), mas foi adiada para esta segunda-feira (17/11). A gestão Candeia acredita que a mudança ocorreu em razão da mobilização estudantil. Na inscrição para participação no evento, havia uma cláusula afirmando: “estou ciente de que não serão toleradas quaisquer formas de discriminação, discursos de ódio e/ou conduta imprópria para com palestrantes e/ou demais participantes do curso”.
O centro acadêmico considera que a diretoria estabeleceu a exigência por já esperar algum tipo de mobilização. Por outro lado, avaliou o artigo como “um tipo de armadilha”.
“Há uma tentativa de enquadramento para tratar qualquer manifestação pró-Palestina ou crítica à política do Estado de Israel como antissemita”, afirmou Gabriel Rabah, secretário de juventude da Federação Árabe Palestina (Fepal) e tesoureiro da gestão Candeia.
Segundo Rabah, os alunos que se manifestaram contra a presença de Lajst não se inscreveram sob a cláusula, mas a participação deles foi permitida mesmo assim.























