Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Alunos, funcionários e pessoas de fora da Universidade de São Paulo (USP) deram continuidade com as manifestações de solidariedade aos palestinos nesta quarta-feira (08/05) no acampamento montado no pátio da faculdade de História e Geografia da instituição.

Um desses manifestantes era Noah Seligmann Silva Brandsch. Estudante de história da universidade e integrante do movimento Faísca Revolucionária, estava desde o primeiro dia do acampamento ajudando na mobilização e minimizou as provocações sionistas que a manifestação recebeu, afirmando que elas fazem parte de uma aliança de grupos de extrema direita e sionistas que querem “destruir” o ato.

“Para evitar esse tipo de ataque, nos articulamos para fazer uma auto-organização em aliança com os trabalhadores aqui no acampamento com missões para garantir a segurança da mobilização”, disse.

De família judaica, Brandsch afirmou que é contra a ideologia sionista ao se juntar em defesa da Palestina, mas argumenta que na comunidade judaica há a “sensibilidade” de entender que os ataques do governo de Benjamin Netanyahu fazem parte de um “projeto político do imperialismo”.

Na mesma linha que o estudante, por exemplo, o Coletivo Vozes Judaicas por Libertação marcou presença no acampamento, sendo um dos movimentos que apoiaram a realização do ato.

Brandsch declarou que está ali por também não acreditar no que a mídia hegemônica “propaga sobre a guerra” e que faz parte do acampamento por isso, mesmo “colocando minha vida pessoal e acadêmica em risco” para “poder defender o povo palestino”.

“Temos o acampamento que foi bastante inspirado nos atos de fora, principalmente nos Estados Unidos, para justamente exigir esse rompimento [das universidades com instituições israelenses] e também se conectar com a causa palestina”, declarou.

Acampamento na USP

O ato na Universidade de São Paulo teve início após a ação semelhante que ocorreu em diversas universidades nos Estados Unidos e também na Europa. No caso brasileiro, além das demandas de solidariedade e cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, os estudantes exigem o fim das parceiras acadêmicas das faculdades do país, com a USP inclusa, com programas estudantis israelenses.

Nesse sentido, cartazes expostos durante o acampamento pedem o fim da relação com Israel, falando em uma USP “livre de apartheid e genocídio”, “liberdade para os palestinos presos”, “pelo fim do genocídio palestino” e ainda a exigência que o governo Lula deixe de “alimentar” a guerra ao comprar armas de Tel Aviv.

Por mais que o ato de quarta-feira tenha sido pacífico, com mesa de debate e apresentação artística, um receio de novas provocações pró-Israel rondava o espaço. Isso por que, no dia anterior, que marcou a primeira noite do acampamento, um aluno contrário à manifestação foi retirado do local aos gritos de “fora sionista”.

Fernanda Forgerini
Alunos acamparam no pátio da faculdade de História e Geografia em defesa da Palestina

O episódio resultou em um esquema mais sólido de segurança, com os próprios alunos ali presentes realizando escoltas durante a programação, que contou inclusive com a participação do jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi.

Fernanda Forgerini
Estudantes pedem cessar-fogo e rompimento de relações de universidades do Brasil com Israel

Fernanda Forgerini
Cartazes em defesa da Palestina

Já para Adriana *, que faz parte da comunidade libanesa palestina, a mobilização na USP é uma forma de “expor a necessidade de cortar relações com Israel”.

A Opera Mundi, a ativista, que não é estudante da USP mas acompanhava o ato, fez questão de corroborar que o acampamento era uma espaço “pacífico” com o intuito somente de somar forças para prestar solidariedade aos palestinos e pedir o corte com Tel Aviv.

“O objetivo é educar as pessoas para que elas saibam a verdade desta guerra de Israel contra os palestinos”, disse.

Ato como propulsar de novas mobilizações

O fundador de Opera Mundi, Breno Altman, foi um dos convidados a participar da mesa de debates que ocorreu na noite de quarta no acampamento. O jornalista expressou sua solidariedade aos estudantes que realizam a mobilização, incentivando que o ato seja o primeiro de outros nas universidades brasileiras.

Altman disse que as manifestações fazem parte de uma pressão para que o governo Lula rompa relações com Israel. Para ele, uma decisão do mandatário brasileiro pode “impulsionar a América Latina a colocar Israel como párea na comunidade internacional”.

“Cada um tem sua responsabilidade para que a adesão da causa palestina aumente. Há risco de repressão, mas tem que estar pronto para não cair nas armadilhas que tentam colocar, como relacionar antissionismo com antissemitismo”, afirmou.

Fernanda Forgerini
Breno Altman durante fala no ato pró-Palestina no acampamento estudantil na USP

(*) Nome fictício para preservar a imagem da entrevistada.