Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Um dos problemas da Coreia do Sul no que diz respeito ao genocídio israelense na Palestina é a falta de atividades que promovam a conscientização e a fraca cobertura midiática sobre o assunto, de acordo com o ativista palestino Nassem Albakri, de 30 anos, que atualmente reside em Seul. Para ele, “se os sul-coreanos realmente entendessem a causa, muitos a apoiariam naturalmente”.

Nascido e crescido na Cisjordânia ocupada, na cidade de Hebron, Albakri migrou para a capital sul-coreana há três anos para concluir seu curso de doutorado em biomedicina e, desta forma, realizar o sonho de se tornar professor. Seus pais, que sobreviveram à Nakba, em 1948, e à Guerra dos Seis Dias, em 1967, permanecem lá e ligam a cada dois dias para atualizá-lo sobre o cenário na região.

“Eles me contam como a situação vem piorando e quantos novos postos de controle foram estabelecidos [por Israel]. A ocupação não parou de criar novos assentamentos desde 1948, mas agora o ritmo está se acelerando. Eles têm sinal verde para fazer o que quiserem”, denunciou a Opera Mundi.

No fim de maio, o governo de Israel aprovou a construção de 22 assentamentos ilegais na Cisjordânia ocupada, incluindo a legalização de alguns dos chamados “postos avançados”, que são colônias instaladas sem autorização da própria gestão.

Quem anunciou essa decisão, na ocasião, foram os ministros da Defesa, Israel Katz, e das Finanças, Bezazel Smotrich, ambos membros da coalizão de extrema direita que sustenta o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

A expansão de assentamentos tem sido condenada pela comunidade internacional, configurando motivo de sanções por parte de países, inclusive alguns membros da União Europeia. Um exemplo recente é a Holanda, que declarou ministros israelenses como “personas non grata” e proibiu seu ingresso ao país.

À reportagem, Albakri contou que ficou surpreso ao chegar na Coreia do Sul e notar que muitos cidadãos confundiam “Palestina” com “Paquistão” sempre que se apresentava. Embora na língua coreana “Palestina” (“팔레스타인”) e “Paquistão” (“파키스탄”) tenham grafia e fonética muito próximas, a confusão envolvendo os países evidencia ainda mais que não se trata de uma questão comumente debatida no cotidiano, levando em consideração que o massacre televisionado é manchete diária no noticiário internacional. 

“Foi aí que percebi que muitos aqui não entendem ou simplesmente não sabem que a Palestina é um país”, indicou. O ativista também mencionou “a forte relação entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos” como um dos fatores que justificam a ausência da pauta na sociedade sul-coreana. Para ele, este ponto também explica a “rara cobertura” jornalística do país sobre as hostilidades cometidas diariamente pelo regime sionista no enclave.

O ativista palestino Nassem Albakri, de 30 anos, reside na capital sul-coreana de Seul e luta em prol dos direitos do povo palestino
Instagram/@nassemalbakri

O militante reiterou que a luta pela conscientização na Coreia do Sul se faz mais urgente à medida que cresce a preocupação dos países sobre Gaza e chefes de Estado expressam rechaços mais contundentes contra o genocídio no território ocupado e contra os crimes que ferem o direito internacional como uso da fome como “arma de guerra”, prisões arbitrárias e bombardeios constantes desde 7 de outubro de 2023.

“Quando as pessoas entendem que a Palestina existe, fica mais fácil obter apoio”, disse.

Grupos de ativismo na Coreia do Sul

Apesar de seu ativismo independente, Albakri apontou que recentemente tem crescido o número de grupos pró-Palestina que semanalmente realizam marchas, protestos e eventos em diversas cidades sul-coreanas.

“O movimento [pró-Palestina] tem crescido dia após dia. Senti essa mudança nas ruas. As coisas definitivamente não são as mesmas de tempos atrás”, afirmou. “Claro, ainda precisamos fazer mais. Porém, honestamente, levando em consideração que estamos na Coreia do Sul, e não na Europa nem nos Estados Unidos, acredito que chegamos a um ponto positivo do ativismo”.

Em 11 de outubro de 2023 ocorreu o ato “Pessoas em Solidariedade com os Palestinos”, que combate o genocídio israelense, primeiro protesto pró-Palestina foi realizado no país. A partir daí, as marchas foram se espalhando para cidades como Busan, Daegu, Ulsan, Incheon, Suwon e Wonju.

Em seu site oficial, a entidade informa que, no decorrer do tempo, passou-se a formar uma comunidade solidária mais consolidada e diversificada, reunindo não apenas o povo palestino que reside na Coreia do Sul, como também organizações da sociedade civil sul-coreana, universidades, sindicatos, imigrantes em geral, incluindo provenientes dos países do Oriente Médio e da África do Norte.

“O que está acontecendo na Palestina é muito claro, e a verdade toda está sendo documentada, visível para quem quer ver”, enfatizou Albakri, que segue firme na sua missão de “representar a Palestina por onde quer que vá”.