Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A mais recente proposta de cessar-fogo em Gaza, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na sexta-feira (31/05), causou uma crise interna no gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, com dois de seus ministros de extrema direita ameaçando abandonar seus cargos e colapsar a coalizão de governo caso o plano seja aceito.

Enquanto os ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, rechaçaram a formalização de qualquer acordo por parte de Israel antes da “eliminação do Hamas”, familiares de reféns israelenses e figuras da oposição, como o líder Yair Lapid, declararam apoio à proposta.

No sábado (01/06), Netanyahu insistiu que não haveria cessar-fogo permanente até que as capacidades militares e de governança do Hamas fossem totalmente destruídas. No entanto, a postura israelense se contradisse com a declaração dada pela Casa Branca no dia seguinte, quando falou sobre a expectativa de que Israel concorde com o plano.

“Esta foi uma proposta israelense. Temos todas as expectativas de que, se o Hamas concordar com a proposta – como lhes foi transmitida, uma proposta israelense – Israel dirá sim”, disse o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, à emissora norte-americana ABC News, o que levou as figuras de extrema direita de Tel Aviv a ameaçarem a renúncia.

Um dos conselheiros de Netanyahu relatou ao jornal Sunday Times que muitos tópicos do plano ainda precisavam ser elaborados, reiterando a impossibilidade de um cessar-fogo permanente “até que todos os nossos objetivos sejam alcançados”. Estes objetivos consistem na destruição das capacidades de governança militar e civil do Hamas, a libertação de todos os reféns e a garantia que Gaza não represente mais uma “ameaça” para Israel.

Já segundo o jornal The Times of Israel, na segunda-feira (03/06), o governo de Israel negou que o plano de acordo tenha sido concluído por Tel Aviv, uma vez que “o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu insistiu que haviam lacunas entre a proposta e a posição de Israel”.

“A alegação de que concordamos com um cessar-fogo sem que nossas condições fossem cumpridas é incorreta […] A proposta que Biden apresentou está incompleta”, disse o premiê aos parlamentares, durante uma reunião fechada no Knesset. 

Wikimedia Commons/Avi Ohayon/אלון נוריאל
Ministro das Finanças, Bezalel Smotrich (à esquerda); ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir (à direita)

Ministros de extrema direita contra cessar-fogo

No sábado, por meio de rede social, Smotrich revelou ter dito a Netanyahu que “não faria parte de um governo que concordasse com o esboço proposto e terminasse a guerra sem destruir o Hamas e trazer de volta todos os reféns”.

Nessa mesma linha, Ben-Gvir classificou o acordo como “imprudente” e “uma ameaça à segurança do Estado de Israel”, ao afirmar que ele “significa o fim da guerra e o abandono do objetivo de destruir o Hamas”.

A coalizão de direita de Netanyahu detém uma pequena maioria no Parlamento, e conta com uma série de grupos, incluindo o partido Otzma Yehudit (Poder Judeu), de Ben-Gvir — com seis assentos — e o partido Sionismo Religioso, de Smotrich — com sete assentos — para manter o poder.

Por outro lado, Yair Lapid, um dos políticos de oposição mais influentes de Israel, imediatamente ofereceu seu apoio a Netanyahu para que concorde com a proposta. Seu partido Yesh Atid (Há um futuro) detém 24 cadeiras.

Pressão popular contra Netanyahu

Após o anúncio proferido por Biden na sexta-feira, milhares de pessoas se reuniram na cidade israelense de Tel Aviv pressionando o governo para o avanço do acordo de cessar-fogo. Muitos, inclusive, exigiram a renúncia de Netanyahu, segundo a rede britânica BBC.

Ainda de acordo com o veículo, houve registro de confrontos entre manifestantes e policiais, que chegaram a usar canhões de água para dispersar a multidão. Alguns civis acabaram detidos.

Os últimos meses em Israel foram marcados por protestos mobilizados principalmente por famílias de reféns e ativistas antigoverno, que exigem do governo a aprovação de um acordo para libertação de reféns, assim como a renúncia de Netanyahu e a convocação de novas eleições.