Aliados extremistas de Netanyahu ameaçam romper coalizão caso governo aprove cessar-fogo em Gaza
Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir rechaçam acordo antes da 'eliminação do Hamas', enquanto premiê é pressionado para que acabe com guerra
A mais recente proposta de cessar-fogo em Gaza, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na sexta-feira (31/05), causou uma crise interna no gabinete do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, com dois de seus ministros de extrema direita ameaçando abandonar seus cargos e colapsar a coalizão de governo caso o plano seja aceito.
Enquanto os ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, rechaçaram a formalização de qualquer acordo por parte de Israel antes da “eliminação do Hamas”, familiares de reféns israelenses e figuras da oposição, como o líder Yair Lapid, declararam apoio à proposta.
No sábado (01/06), Netanyahu insistiu que não haveria cessar-fogo permanente até que as capacidades militares e de governança do Hamas fossem totalmente destruídas. No entanto, a postura israelense se contradisse com a declaração dada pela Casa Branca no dia seguinte, quando falou sobre a expectativa de que Israel concorde com o plano.
“Esta foi uma proposta israelense. Temos todas as expectativas de que, se o Hamas concordar com a proposta – como lhes foi transmitida, uma proposta israelense – Israel dirá sim”, disse o porta-voz de segurança nacional da Casa Branca, John Kirby, à emissora norte-americana ABC News, o que levou as figuras de extrema direita de Tel Aviv a ameaçarem a renúncia.
Um dos conselheiros de Netanyahu relatou ao jornal Sunday Times que muitos tópicos do plano ainda precisavam ser elaborados, reiterando a impossibilidade de um cessar-fogo permanente “até que todos os nossos objetivos sejam alcançados”. Estes objetivos consistem na destruição das capacidades de governança militar e civil do Hamas, a libertação de todos os reféns e a garantia que Gaza não represente mais uma “ameaça” para Israel.
Já segundo o jornal The Times of Israel, na segunda-feira (03/06), o governo de Israel negou que o plano de acordo tenha sido concluído por Tel Aviv, uma vez que “o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu insistiu que haviam lacunas entre a proposta e a posição de Israel”.
“A alegação de que concordamos com um cessar-fogo sem que nossas condições fossem cumpridas é incorreta […] A proposta que Biden apresentou está incompleta”, disse o premiê aos parlamentares, durante uma reunião fechada no Knesset.

Wikimedia Commons/Avi Ohayon/אלון נוריאל
Ministro das Finanças, Bezalel Smotrich (à esquerda); ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir (à direita)
Ministros de extrema direita contra cessar-fogo
No sábado, por meio de rede social, Smotrich revelou ter dito a Netanyahu que “não faria parte de um governo que concordasse com o esboço proposto e terminasse a guerra sem destruir o Hamas e trazer de volta todos os reféns”.
שוחחתי כעת עם ראש הממשלה והבהרתי לו שלא אהיה חלק ממשלה שתסכים למתווה המוצע ותסיים את המלחמה ללא השמדת חמאס והשבת כל החטופים.
לא נסכים להפסקת המלחמה לפני השמדת חמאס, לא לפגיעה קשה בהישגי המלחמה עד כה באמצעות נסיגת צה”ל וחזרת עזתים לצפון הרצועה, ולא לשחרור סיטונאי של מחבלים שישובו…
— בצלאל סמוטריץ’ (@bezalelsm) June 1, 2024
Nessa mesma linha, Ben-Gvir classificou o acordo como “imprudente” e “uma ameaça à segurança do Estado de Israel”, ao afirmar que ele “significa o fim da guerra e o abandono do objetivo de destruir o Hamas”.
העסקה כפי שפרטיה פורסמו היום – משמעותה סיום המלחמה וויתור על מיטוט חמאס. זו עסקה מופקרת, שמהווה ניצחון לטרור וסכנה ביטחונית למדינת ישראל. הסכמה לעסקה כזו איננה הניצחון המוחלט – אלא התבוסה המוחלטת.
לא נאפשר את סיום המלחמה ללא חיסולו המוחלט של חמאס.במידה וראש הממשלה יוציא לפועל…
— איתמר בן גביר (@itamarbengvir) June 1, 2024
A coalizão de direita de Netanyahu detém uma pequena maioria no Parlamento, e conta com uma série de grupos, incluindo o partido Otzma Yehudit (Poder Judeu), de Ben-Gvir — com seis assentos — e o partido Sionismo Religioso, de Smotrich — com sete assentos — para manter o poder.
Por outro lado, Yair Lapid, um dos políticos de oposição mais influentes de Israel, imediatamente ofereceu seu apoio a Netanyahu para que concorde com a proposta. Seu partido Yesh Atid (Há um futuro) detém 24 cadeiras.
Pressão popular contra Netanyahu
Após o anúncio proferido por Biden na sexta-feira, milhares de pessoas se reuniram na cidade israelense de Tel Aviv pressionando o governo para o avanço do acordo de cessar-fogo. Muitos, inclusive, exigiram a renúncia de Netanyahu, segundo a rede britânica BBC.
Ainda de acordo com o veículo, houve registro de confrontos entre manifestantes e policiais, que chegaram a usar canhões de água para dispersar a multidão. Alguns civis acabaram detidos.
Os últimos meses em Israel foram marcados por protestos mobilizados principalmente por famílias de reféns e ativistas antigoverno, que exigem do governo a aprovação de um acordo para libertação de reféns, assim como a renúncia de Netanyahu e a convocação de novas eleições.























