Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Líderes de 22 grandes agências humanitárias que atuam na Faixa de Gaza, incluindo a Oxfam, Islamic Relief e Médicos Sem Fronteiras, divulgaram uma declaração conjunta pedindo intervenção imediata dos Estados-membros da ONU contra o genocídio perpetrado por Israel há quase dois anos.

A declaração ocorre após a Comissão de Inquérito das Nações Unidas concluir, pela primeira vez, que um genocídio está em curso na Faixa de Gaza; e o governo israelense decretar o deslocamento em massa da Cidade de Gaza. às vésperas da Assembleia Geral da ONU.

“Agora, com o governo israelense ordenando o deslocamento em massa da Cidade de Gaza – lar de quase um milhão de pessoas –, estamos à beira de um período ainda mais mortal na história de Gaza, se nenhuma ação for tomada. Gaza foi deliberadamente tornada inabitável”, diz o texto.

O apelo é feito às vésperas da reunião de líderes mundiais nas Nações Unidas, que ocorrerá entre 22 e 24 de setembro em Nova York. “Enquanto os líderes mundiais se reúnem na próxima semana nas Nações Unidas, pedimos a todos os Estados-membros que ajam de acordo com o mandato que foi confiado à ONU há 80 anos”, diz o documento.

Genocídio

“O que estamos testemunhando em Gaza não é apenas uma catástrofe humanitária sem precedentes, mas o que a Comissão de Inquérito da ONU concluiu ser um genocídio”, frisam as entidades, ao relatarem o cenário de desumanidade extrema, com mortes em massa, deslocamentos forçados e a destruição sistemática de infraestruturas essenciais.

A desumanidade da situação em Gaza é inconcebível. Como líderes humanitários, testemunhamos diretamente as mortes horríveis e o sofrimento do povo de Gaza. Nossos alertas foram ignorados e milhares de vidas ainda estão em risco”, afirmam.

‘Crianças traumatizadas não conseguem dormir; outras não conseguem falar”, relatam entidades humanitárias
Jaber Jehad Badwan/Wikipedia Commons

A resolução lembra que desde outubro de 2023, cerca de 65 mil palestinos foram mortos, “incluindo mais de 20 mil crianças, enquanto nove em cada dez pessoas da população de 2,1 milhões foram deslocadas à força, muitas repetidamente, para áreas cada vez menores e incapazes de sustentar a vida humana”.

Diz ainda que “mais de meio milhão de pessoas enfrentam fome severa e o bloqueio israelense impede a entrada de alimentos, combustível e medicamentos“.

Crianças não conseguem falar

As entidades descrevem histórias de famílias que cozinham folhas para alimentar crianças e de crianças traumatizadas pelos bombardeios diários. “Conhecemos pessoalmente crianças tão traumatizadas pelos ataques aéreos diários que não conseguem dormir. Algumas não conseguem falar. Outras nos disseram que querem morrer para se juntar aos pais no céu”, relatam.

Além do sofrimento humano, as agências denunciam a destruição deliberada de hospitais, estações de tratamento de água e terras agrícolas, bem como a militarização da ajuda humanitária. “O acesso foi negado, e a militarização do sistema de ajuda humanitária se mostrou mortal. Milhares de pessoas foram alvejadas enquanto tentavam chegar aos poucos locais onde a comida é distribuída sob vigilância armada”, destacam.

O apelo exige que “os governos ajam para impedir a destruição da vida na Faixa de Gaza e pôr fim à violência e à ocupação”. Os signatários pedem que todos os Estados utilizem “todas as ferramentas políticas, econômicas e jurídicas disponíveis para intervir”, alertando que “retórica e meias-medidas não bastam. Este momento exige uma ação decisiva”.

A declaração conclui com uma advertência: “a ONU consagrou o direito internacional como a pedra angular da paz e da segurança globais. Se os Estados-Membros continuarem a tratar essas obrigações legais como opcionais, não só serão cúmplices como também estarão a estabelecer um precedente perigoso para o futuro”.

“A história, sem dúvida, julgará este momento como um teste à humanidade. E estamos falhando. Falhando com o povo de Gaza, com os reféns e com o nosso próprio imperativo moral coletivo”, afirmam as entidades.

Leia a íntegra do documento