Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Diversos confrontos entre hooligans [termo comumente atribuído a torcidas esportivas com atitudes desorganizadas e violentas] do time israelense Maccabi Tel Aviv e de torcedores do Ajax foram registrados na noite de quinta-feira (07/11) em Amsterdã, na Holanda. Os episódios ocorreram antes e depois de uma partida entre os clubes válida pela Liga Europa, com vitória do time da casa.

A rivalidade aumentou quando os torcedores do Maccabi Tel Aviv realizaram agressões contra símbolos de apoio aos palestinos, que estão sendo massacrados diariamente em Gaza por militares de Israel. Segundo publicações divulgadas nas redes sociais, grupos da torcida vandalizaram uma bandeira da Palestina, gritaram slogans islamofóbicos e atacaram torcedores palestinos antes da partida.

A emissora catari Al Jazeera informou que os torcedores do time israelense agiram de forma “desrespeitosa” na capital holandesa ao longo dos dias que antecediam a partida de quinta. “Centenas de apoiadores do Maccabi Tel Aviv foram a Amsterdã, fizeram uma manifestação muito barulhenta na praça principal antes do incidente, agitando bandeiras israelenses e também retiraram uma bandeira palestina”, reportou a correspondente do canal.

Um membro do Conselho Municipal de Amsterdã, o vereador Jazie Veldhuyzen, declarou à Al Jazeera que os torcedores do Maccabi Tel Aviv “instigaram a violência depois de chegarem à cidade e atacaram torcedores palestinos antes da partida”. O representante da cidade também adicionou que os cidadãos locais reagiram aos ataques.

Assim, as provocações levaram à agressão entre os torcedores após a partida finalizada em 5 x 0 para Ajax na Johan Cruyff Arena. Um vídeo de seis segundos divulgado pelo Globo Esporte mostra um homem no chão, sem movimentar-se, e outros dois dando chutes em seu corpo enquanto um terceiro grava a agressão. Logo após, todos saem correndo. Não há indicativos se o torcedor agredido é israelense ou holandês.

O vereador Veldhuyzen denunciou que, apesar da polícia local ter agido, “não agiu nos momentos certos”. “Eles agiram apenas para proteger os hooligans do Maccabi quando os moradores de Amsterdã se levantaram para defender seu próprio povo e defender suas próprias casas. E foi quando a polícia apareceu para proteger os fãs do Maccabi quando eles fugiram após atacar as pessoas”, declarou à Al Jazeera.

Um ativista pró-Palestina de Amsterdã chamou os torcedores do Maccabi Tel Aviv de “provocadores”. “Foi um erro deixar que milhares de hooligans de Israel viessem para Amsterdã”. “Essa partida não poderia ter sido jogada sabendo o quão alta era a tensão em certos bairros e sabendo o modo como essas pessoas se comportam”, declarou à agência italiana ANSA Jesse Sep Van Aalderen, membro do grupo Pal Action Amsterdam.

“Eles [torcedores do Maccabi Tel Aviv] são provocadores. Há vídeos que os mostram arrancando bandeiras da Palestina das janelas. Eles cuspiram em mulheres que usavam o hijab [véu islâmico]”, denunciou ainda.

Segundo a polícia de Amsterdã, 62 pessoas foram presas após as brigas, que ocorreram mesmo após a prefeita Femke Halsema proibir uma manifestação pró-Palestina no evento, com temores de gerar mais confusão.

Israel fala em ataque antissemita

Segundo o Ministério das Relações Exteriores de Israel, 10 cidadãos israelenses ficaram feridos, o que levou o gabinete do primeiro-ministro, Benjamim Netanyahu, a classificar a situação como um “incidente muito violento contra cidadãos israelenses” e um “ataque antissemita planejado”.

Logo após tomar conhecimento do caso, o mandatário de Tel Aviv mobilizou dois aviões de resgate para trazer de volta os israelenses da Holanda, afirmando que as imagens de agressão após a partida são “duras e nunca serão esquecidas”, sem mencionar as provocações anteriores à partida.

@MaccabiTLVFC/X
Torcida do Maccabi Tel Aviv durante jogo em outubro passado

Por uma solicitação do ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, os torcedores do Maccabi Tel Aviv foram escoltados pela chancelaria holandesa até o aeroporto de Amsterdã. Os voos subsidiados pelo governo israelense saíram de Amsterdã às 14h no horário local (10h no horário de Brasília).

Netanyahu conversou com seu homólogo holandês Dick Schoof e instou que o governo holandês e as forças de segurança do país tomassem “medidas vigorosas e rápidas contra os manifestantes” do Ajax, além de que “a segurança da comunidade judaica holandesa fosse aumentada”.

A narrativa de um ataque antissemita foi concordada por Schoof, que também não mencionou as ações desrespeitosas que os torcedores do Maccabi Tel Aviv promoveram contra os cidadãos holandeses.

“Estou horrorizado com os ataques antissemitas a cidadãos israelenses. Isso é completamente inaceitável. Estou em contato próximo com todas as partes envolvidas e acabei de falar com o primeiro-ministro Netanyahu para enfatizar que os perpetradores serão identificados e processados. A situação em Amsterdã está calma novamente”, declarou por meio das redes sociais.

Declarações oficiais

Após os confrontos, a diretoria do Ajax condenou “veemente essa violência”, afirmando que o clube ficou “horrorizado ao saber o que aconteceu no centro de Amsterdã” na última noite. O posicionamento do clube não mencionou as provocações anteriores à partida e as manifestações racistas dos israelenses contra os palestinos.

Por sua vez, o Maccabi Tel Aviv publicou um comunicado que informa seu contato com os Ministérios das Relações Exteriores, da Cultura e Esporte de Israel para lidar com a situação e ajustar o retorno dos torcedores a Tel Aviv.

Chamando o ocorrido de “grave incidente”, o clube orientou que os fãs do time evitassem andar nas ruas de Amsterdã e externalizar “símbolos israelitas/judaicos”.

(*) Com Ansa.