Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Os candidatos à Presidência dos Estados Unidos, Kamala Harris, do Partido Democrata, e Donald Trump, do Republicano, se enfrentaram em um debate na noite desta terça-feira (10/09). Os principais jornais norte-americanos repercutem na manhã desta quarta (11/09) os resultados do confronto político e as perspectivas para a disputa para as eleições em novembro. 

O Philadelphia Inquirer, principal jornal da cidade que recebeu o debate, na Pensilvânia, resumiu o evento em: “ela [Harris]  acertou socos e ele [Trump] mordeu a isca”. 

Ao lembrar que esta foi a primeira e possivelmente única discussão entre os dois presidenciáveis, já que anteriormente ocorreu um debate entre Trump e o atual presidente dos EUA, Joe Biden, que desistiu da corrida eleitoral pelo Partido Democrata, o Inquirer classificou a noite como “uma ofensiva de Harris do início ao fim que provocou respostas muitas vezes raivosas e sem sentido” de seu oponente. 

A imprensa local destacou que “Harris enfrentou Trump diretamente desde o começo da noite”, classificando-o como extremista. 

O Inquirer também analisou que Harris “provocou” o republicano ao “falar sobre questões que sabidamente o irritam, como apoiadores saindo de seus comícios mais cedo, líderes mundiais o chamando de “vergonha” e os processos criminais contra ele”, além de chamá-lo de fraco e dizer que 81 milhões de eleitores o demitiram, referindo-se às eleições que deram vitória a Biden, em 2020. 

Por sua vez, o jornal relata que “em diversas ocasiões, Trump mordeu a isca e atacou, mesmo com o microfone mudo”, além de “passar muito tempo tentando vincular Harris a Biden”. 

O Philadelphia Inquirer também relatou um protesto pró-Palestina nos arredores do National Constitution Center – onde ocorreu o encontro, pedindo um cessar-fogo na Faixa de Gaza, um dos principais temas eleitorais, uma vez que os EUA são os principais aliados de Israel. 

Debate definiu curso da eleição

O Boston Globe, no estado de Massachusetts, resgatou o primeiro debate entre Biden e Trump, em junho passado, para falar sobre o evento da última noite. “O primeiro debate presidencial virou a disputa completamente de cabeça para baixo. O segundo definiu o curso da eleição”, destaca a manchete da principal matéria em seu site. 

“O segundo debate presidencial pode não ter virado a disputa completamente da mesma forma que o primeiro, mas gerou uma série de momentos e frases de efeito memoráveis, definindo o curso desta disputa remodelada e solidificando o quão amarga, feia e árdua será esta disputa”, analisou. 

Ao comparar propostas de ambos os candidatos para problemas em comum no país, como economia, o jornal de Boston avaliou que essa “pode ter sido a tática de Harris que definiu esse debate”. 

“A vice-presidente [de Biden] provou ser hábil em irritar o ex-presidente de uma forma que talvez nenhum de seus adversários tenha feito antes”, classificou. 

Em balanço final, o jornal concluiu que o confronto “cristalizou por que os democratas estão em uma posição muito mais forte para derrotar Trump com Harris do que com Biden”. 

O Washington Post também ressaltou as estratégias da democrata no debate, ao afirmar que “Harris atacou Trump com firmeza” e ele “respondeu com uma retórica inflamada”.

O jornal avaliou que a atual vice-presidente “provocou” o republicano e identificou que o confronto “mostrou como a dinâmica da disputa mudou desde a saída de Biden”. 

“As farpas de Harris atingiram nitidamente, enquanto Trump frequentemente se desviava da mensagem em resposta às tentativas dela de provocá-lo em tópicos delicados”, escreveu. 

Da Virginia, o USA Today fez uma avaliação semelhante. Ao questionar-se sobre “quem venceu o debate”, o jornal trouxe sua resposta logo em seguida, ao definir que Harris teve uma “performance contundente” que “abalou um Trump defensivo”. 

“Harris entrou tentando abalar e provocar Trump, e muitas vezes teve sucesso, levando a respostas defensivas, raivosas e desconexas”. Já o republicano voltou-se bastante ao tema da imigração e “lutou para sustentar uma linha de ataque consistente”. 

The Democrats/Instagram
Única análise pró-Trump pós debate contra Kamala Harris veio de jornal em cidade com tradições racistas

Assim, avaliou que o debate “marcou o maior momento na corrida para Harris” desde a desistência de Biden. O USA Today também destacou a verificação de fatos em tempo real pelos moderadores da ABC News. 

A CNN também seguiu a linha, e destacou que Harris “provocou Trump durante quase toda a 1 hora e 45 minutos” de confronto. “A vice-presidente havia se preparado extensivamente para o debate e salpicado quase todas as respostas com um comentário projetado para enfurecer o ex-presidente”, avaliou. 

Segundo o canal de notícias ainda, “Trump estava frequentemente fora de controle”, ao insistir em declarações falsas como suposta fraude nas eleições de 2020, teorias de conspiração sobre imigrantes e aborto.

Expressões faciais de Kamala Harris

Na análise do New York Times (NYT), Harris usou suas expressões faciais e linguagem corporal “como uma arma” contra Trump. 

Destacando “uma sobrancelha arqueada, um suspiro silencioso, uma mão no queixo, uma risada, um olhar lamentável e um balançar de cabeça desdenhoso”, o jornal nova-iorquino avaliou que Harris “explorou astutamente a maior fraqueza de seu oponente, o ego”. 

“A mulher que nunca o havia conhecido antes conseguiu, aos poucos, perfurar seu casulo confortável e desencadear sua irritação e raiva”, destacou a análise, em especial com a presença de seus apoiadores em seus comícios políticos. 

Para o NYT, Trump trouxe ao debate seu papel em assuntos que “lembraram os [norte-]americanos de eventos que muitos prefeririam esquecer”, como a pandemia de covid-19, a invasão ao Capitólio em 2021, e a queda da lei sobre aborto seguro e legal no país, a Roe v. Wade.

O jornal concluiu que “em um país tão fraturado e polarizado, ainda não está claro como o debate desequilibrado pode alterar a corrida presidencial de 2024”, mas que “a reação imediata foi reveladora”. 

Apoio de Taylor Swift

O destaque de muitos outros jornais dos Estados Unidos foi centrado no apoio da cantora Taylor Swift à chapa Kamala Harris e Tim Walz, declarado logo após o fim do debate, por meio das redes sociais. 

Esse foi o caso do The Denver Post, que teve como sua principal manchete sobre o debate a declaração da artista. O jornal no estado do Colorado classificou o apoio como um “momento significativo”. 

“Swift tem um público fiel entre as mulheres jovens, um grupo demográfico que Harris precisa apresentar em grandes números”, avaliou. 

O The Arizona Republic, também realçou a declaração da artista, mas criticou a organização do debate em si: “foi uma confusão, com moderadores se escondendo e regras acordadas jogadas pela janela, mesmo com algumas das mentiras mais flagrantes sendo denunciadas”. 

Avaliação pró-Trump em cidade racista

Já a imprensa de locais com tendências republicanas ou conservadoras, como Houston, no Texas, noticiou o debate sem destacar a performance de Harris sobre Trump. 

Por outro lado, o San Francisco Chronicle, que apesar da sede na Califórnia, governada pelo democrata Gavin Newsom, viveu décadas de políticas racistas, foi o único jornal que noticiou o confronto político de forma positiva a Trump: “Donald Trump ataca com frequência em um feroz debate presidencial”. 

O periódico também abandonou a estrutura noticiosa comum na imprensa norte-americana que começaria o texto com as principais informações da noite, em favor de algumas falas intolerantes do republicano sobre imigração, comunidade LGBTQIA + e supostas afirmações de que Harris seria marxista. 

“A noite não teve escassez de momentos explosivos, interrupções e insultos — a maioria deles vindo de Trump”, avaliou o Houston Chronicle. O jornal também avaliou que Harris “frequentemente respondia sem falar”, com expressões faciais e linguagem corporal. 

Contudo, o periódico reconheceu que Harris ”conseguiu provocar Trump com sucesso em algumas das questões às quais ele é mais sensível” e “provocou respostas raivosas e confusas”.