Venezuelanos deportados por Trump sofreram torturas em prisão de El Salvador, diz ONG
Organização de direitos humanos identificou que pessoas foram submetidas a diversos tipos de abuso, incluindo violência sexual
A Human Rights Watch (HRW) denunciou, nesta quarta-feira (12/11) que os cidadãos venezuelanos deportados pelos Estados Unidos a El Salvador entre março e abril passado “foram torturados e submetidos a outros abusos, incluindo violência sexual”.
Segundo um relatório da organização de direitos humanos em parceria com a Cristosal, entidade parceira em El Salvador, os casos de tortura e maus-tratos contra as pessoas deportadas pelo governo de Donald Trump “não foram incidentes isolados, mas sim violações sistemáticas”.
O documento de 81 páginas, intitulado “Vocês Chegaram ao Inferno”: Tortura e Outros Abusos Contra Venezuelanos na Mega Prisão de El Salvador”, detalha o tratamento dispensado aos 252 venezuelanos, incluindo dezenas de solicitantes de asilo que já haviam passado pelas exigências norte-americanas, que Washington enviou ao Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), uma mega prisão em El Salvador.
A HRW lembra a existência de “relatos confiáveis de graves violações de direitos humanos nas prisões salvadorenhas” quando o governo Trump decidiu deportar os cidadãos venezuelanos para o Cecot.
“Os venezuelanos foram submetidos a repressão — sendo enviados para locais onde enfrentariam tortura ou perseguição —, detenção arbitrária, desaparecimento forçado, tortura, condições de detenção desumanas e, em alguns casos, violência sexual”, denunciou a organização.
A HRW detalhou que os venezuelanos detidos no Cecot “foram submetidos a abusos físicos, verbais e psicológicos regulares e severos por parte dos guardas prisionais e da polícia de choque salvadorenha”.
“Os venezuelanos foram mantidos em condições desumanas, com escassez e insuficiência de alimentos, higiene e saneamento precários, acesso limitado a cuidados de saúde e medicamentos, e sem acesso a atividades recreativas ou educacionais”, acrescentou o documento.
“Os guardas prisionais e a polícia de choque agrediam regularmente os venezuelanos, inclusive durante as revistas diárias nas celas, por infrações menores — como falar alto ou tomar banho na hora errada — ou por solicitarem assistência médica”, afirmou o documento.
“Eles nos tiraram de nossas celas, nos fizeram ajoelhar, algemaram nossas mãos atrás das costas e colocaram nossos braços sobre a cabeça, e nos bateram com cassetetes, chutes e socos…e depois nos deixaram ajoelhados por 30 ou 40 minutos”, afirmou um dos venezuelanos à HRW.
Outro detido relatou que os guardas “continuavam me batendo na barriga e, quando eu tentava respirar, começava a me engasgar com o sangue”. A agressão teria ocorrido após uma visita do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, em maio.
Um dos detidos que foi vítima de abuso sexual relatou ter sido forçado a praticar sexo oral em um dos guardas.
“Os abusos parecem ter feito parte de uma prática destinada a subjugar, humilhar e disciplinar os detidos”, concluíram as organizações de direitos humanos. A brutalidade e a natureza repetida dos abusos também parecem indicar que os guardas e policiais de choque agiram acreditando que seus superiores apoiavam ou, no mínimo, toleravam seus atos abusivos.

Washington enviou ao Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot) 252 cidadãos venezuelanos deportados
La Prensa Gráfica Noticias de El Salvador/Wikicommons
Governo Trump como cúmplice
O relatório foi baseado em entrevistas de 40 venezuelanos detidos no Cecot e 150 de seus familiares, concedidas a pesquisadores entre março e setembro de 2025. Foram analisadas fotografias de ferimentos, bancos de dados de antecedentes criminais, documentos relacionados à situação imigratória dessas pessoas nos EUA e dados divulgados pelo Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) sobre suas deportações.
A análise descobriu que “aproximadamente metade dos venezuelanos enviados para a Cecot não tinha antecedentes criminais e apenas 3% haviam sido condenados nos EUA por crimes violentos ou potencialmente violentos”.
Além disso, “muitos não haviam sido condenados por crimes na Venezuela ou em outros países da América Latina onde haviam residido”.
Com a denúncia, Juanita Goebertus, diretora para as Américas da HRW, aponta o governo Trump como “cúmplice da tortura, desaparecimento forçado e outras violações graves” por ter pagado “milhões de dólares a El Salvador para deter arbitrariamente venezuelanos, que foram então abusados pelas forças de segurança salvadorenhas quase diariamente”.
Goebertus cobrou que o governo republicano pare “de enviar pessoas para El Salvador ou qualquer outro país onde elas corram riscos”. A organização ainda lembrou que “os abusos constituíram tratamento cruel, desumano ou degradante e, em muitos casos, tortura”, de acordo com o direito internacional dos direitos humanos.
A recusa dos governos dos EUA e de El Salvador em divulgar informações sobre o destino e o paradeiro dos venezuelanos ainda configura-se como desaparecimento forçado segundo o direito internacional, afirmou.
Após a publicação do relatório, a HRW e a Cristosal solicitaram o posicionamento dos governo norte-americano e salvadorenho, mas não obtiveram resposta.























