Protesto número 1.000: ‘Mães de Sábado’ exigem justiça sobre parentes desaparecidos na Turquia
Familiares reivindicam notícias sobre paradeiro de entes queridos que foram levados pela polícia turca nas décadas de 80 e 90; atos ocorrem desde 27 de maio de 1995
Pela milésima vez desde 27 de maio de 1995, parentes de pessoas que desapareceram enquanto estavam sob custódia policial na Turquia se reuniram ao meio-dia na Avenida Istiklal, em Istambul, neste sábado (25/05). Centenas de ativistas de direitos humanos estiveram ao lado deles nessa edição.
A imagem permaneceu inalterada por quase trinta anos. Mães, filhas e irmãos segurando a foto de seu ente querido desaparecido e um cravo vermelho na mão, reunidos todos os sábados no mesmo local em Istambul. Suas exigências também não mudaram: saber o que aconteceu com seu ente querido, sobre o qual não têm notícias desde que foram levados sob custódia da polícia nos anos 80 ou 90, e levar os responsáveis à justiça, se ainda estiverem vivos.
Sua manifestação é a mais antiga da Turquia e uma das mais antigas do mundo. O movimento “Mães de Sábado” foi inspirado nas “Avós (Abuelas) da Plaza de Mayo” na Argentina, onde parentes de vítimas de desaparecimento forçado durante a ditadura militar argentina (1976-1983) se manifestam toda semana para exigir informações.
Não se tem notícias de Hayrettin desde que foi levado sob custódia em 1980. Seu irmão, Faruk Eren, acredita que “essa situação é uma vergonha para a Turquia”. “Estamos procurando os túmulos de nossos entes queridos e queremos justiça. Em vez disso, por mil semanas, o Estado tem negado isso! Ele continua a nos dizer: ninguém desapareceu sob custódia policial”, denunciou à correspondente da RFI em Istambul, Anne Andlauer.
Desde 2018, a manifestação “Mães de Sábado” tem sido proibida e regularmente reprimida. Para Faruk Eren, o que está em jogo em sua busca por justiça e verdade vai além das famílias dos desaparecidos. “Se o Estado turco não confrontar esse passado, não reconhecer a verdade e não for feita justiça, a Turquia nunca conhecerá a democracia”, afirma.

Twitter/Rosa Burç
Milésima reunião semanal do movimento ‘Mães de Sábado’, que tem exigido verdade e justiça sobre seus entes queridos desaparecidos pela polícia turca
O legado de um período conturbado
Nas décadas de 1980 e 1990, as forças de segurança turcas entraram em conflito com o grupo guerrilheiro curdo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), no sudeste, e com grupos da esquerda radical em todo o país. Várias ONGs acusam os governos da época de cometer inúmeras violações durante as prisões e no tratamento dos detidos, com recurso frequente à tortura.
Em 2011, quando era primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan se reuniu com um grupo de “Mães de Sábado” que pedia a criação de uma comissão de inquérito independente. Elas agora temem que o presidente turco não tenha pressa em desenterrar o passado. Nos últimos três anos, essas famílias que buscam justiça estão sendo julgadas, correndo o risco de serem presas por “violar a lei durante manifestações”.























