Sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
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A Comissão de Justiça e Direitos Humanos do Congresso peruano rejeitou na quarta-feira (16/11) o projeto que propunha a descriminalização do aborto em casos de estupro. A proposta foi arquivada depois de receber apenas um voto favorável, além de 12 votos contrários e 4 abstenções.

A autora do projeto, a deputada Ruth Luque Ibarra, do partido Cambio Democrático (Mudança Democrática, de centro-esquerda) apresentou um texto em que tentou destacar que uma grande parte dos casos de mulheres que engravidam em razão de casos de estupro são menores de idade, razão pela qual a iniciativa é parte de uma campanha cujo slogan é “Meninas, não mães” (“Niñas, no madres”).

“Somos um Estado laico, portanto, devemos ratificar que as políticas públicas são definidas pelo Estado, e que devem estar na linha de uma maternidade livre e desejada, que de forma alguma possa ser imposta por um crime como o estupro”, afirmou a parlamentar.

Contudo, seus argumentos não sensibilizaram os membros da Comissão do Congresso, tampouco a campanha que ela lidera ou o informe do Ministério da Mulher mostrando que o país realiza por semana cerca de 28 partos de menores de idade que engravidaram após casos de estupro e são forçadas seguir com a gravidez.

Aliás, entre os opositores do projeto estavam alguns membros do partido Perú Libre, pelo qual foi eleito o atual presidente do país, Pedro Castillo. 

País possui uma das leis mais restritivas da região; presidente Pedro Castillo é conhecido por posturas conservadoras em termos de direitos civis

Movimento Católicas pelo Direito de Decidir

Cartaz com o slogan da campanha a favor do direito ao aborto em caso de estupro

Por exemplo, o deputado governista Américo Gonza Castillo, do Perú Libre, foi um dos que se absteve, alegando que sua posição deveria estar sujeito a um parecer da Conferência Episcopal. Já o deputado Waldemar Cerrón, um dos líderes da legenda, votou contra o projeto.

Essa situação reflete a contradição que envolve o Poder Executivo peruano, já que o presidente Castillo, embora se apresente como uma figura de esquerda, se mostra um conservador em temas relacionados a direitos civis, sendo fortemente contrário à qualquer iniciativa para despenalizar o aborto ou para permitir o matrimônio igualitário, por exemplo.

No caso específico do aborto, o Peru possui uma das legislações mais restritivas da América Latina. O país legalizou o aborto terapêutico em 1924, ou seja, somente em casos em que a gravidez coloca em risco a vida ou a saúde da mulher. Contudo, grupos feministas e organizações de direitos humanos reclamam que até mesmo esse direito não é respeitado, já que a lei não é cumprida por aqueles que administram o sistema de saúde.

Uma pesquisa recente realizada pelo Instituto de Estudos Peruanos (IEP) mostrou que 48% dos cidadãos peruanos são favoráveis ao projeto de despenalização do aborto em casos de gravidez como resultado de um estupro. Na faixa etária entre 18 e 24 anos, esse apoio é ainda maior, de 56%.