Sábado, 6 de dezembro de 2025
APOIE
Menu

As primeiras audições públicas na Corte Internacional de Justiça, em Haia, sobre medidas contra Mianmar devido à possível violação da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio serão encerradas nesta sexta-feira (13/12).

O caso foi levado ao principal órgão judicial da ONU pela Gâmbia, em nome da Organização para a Cooperação Islâmica, e refere-se ao ano de 2017, quando uma onda de violência forçou mais de 700 mil pessoas de minoria rohingya a abandonar o país.

A acusação apresentada, com o apoio dos 57 membros da Organização de Cooperação Islâmica, alega que “no contexto de perseguição e discriminação de longa data, as forças armadas de Mianmar começaram ‘operações de limpeza' contra os rohingya [minoria muçulmana] a partir de outubro de 2016”.


FORTALEÇA O JORNALISMO INDEPENDENTE: ASSINE OPERA MUNDI


A acusação afirma que “atos genocidas” ocorreram com o objetivo de “destruir os rohingya como um grupo, total ou parcialmente” e ainda descreve assassinatos em massa, estupros e a “destruição sistemática” de aldeias, “geralmente com moradores trancados dentro de casas em chamas”.

A conselheira de Estado do país, Aung San Suu Kyi, que participou das audições, se defendeu e disse que “se crimes de guerra foram cometidos, serão processados dentro do sistema de justiça militar.”

Acusação alega que 'forças armadas de Mianmar iniciaram operações de limpeza' contra minoria muçulmana

UNPhoto/Frank van Beek

Acusação alega que ‘forças armadas de Mianmar iniciaram operações de limpeza’ contra minoria muçulmana

Suu Kyi ainda pediu que o tribunal avaliasse a situação “de forma desapaixonada e com precisão”. Ela disse que o caso sendo apresentado é “incompleto e enganoso”.

A representante disse ainda que “não se pode descartar que o Tatmadaw [como são conhecidas as Forças Armadas de Mianmar] tenha usado força desproporcional”. Segundo ela, “a intenção genocida pode não ser a única hipótese”.

Suu Kyi, que recebeu o Nobel da Paz em 1991, respondeu descrevendo décadas de tensões no estado de Rakhine entre a comunidade rohingya, de maioria muçulmana, e seus vizinhos budistas.

Segundo a ONU, em 25 de agosto de 2017, as forças armadas do país realizaram uma grande ação de repressão contra essas comunidades rohingya, em resposta a ataques a delegacias de polícia e postos de segurança.

Como resultado, mais de 700 mil pessoas fugiram da violência para Bangladesh, país vizinho. Investigadores independentes nomeados pela ONU descreveram ações de “extrema brutalidade”.

O alto comissário da ONU para os direitos humanos à época, Zeid Al Hussein, afirmou que os vários relatos de abusos seguiam “a definição textual de uma limpeza étnica”.

De acordo com o relatório da Missão de Pesquisa da ONU sobre Mianmar, os militares do país foram responsáveis pelo “assassinato generalizado e sistemático de mulheres e meninas, selecionando de forma sistemática mulheres e meninas em idade reprodutiva para estupro”.

A pesquisa destaca ainda outros ataques a meninas e mulheres, descrevendo ações contra grávidas e bebês e mutilação de órgãos reprodutivos. Segundos os investigadores, o objetivo era deixar as mulheres “incapazes de ter relações sexuais com seus maridos ou de engravidar”.

*Com ONU News