Ex-procurador-geral do México será julgado pelo desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa
Após oito anos de investigação sobre caso, relatório do governo declara que este foi um crime de Estado, destacando papel das autoridades mexicanas
Uma nova reviravolta acontece no emblemático caso dos 43 estudantes mexicanos de Ayotzinapa, sequestrados e desaparecidos na noite de 26 para 27 de setembro de 2014. O ex-procurador-geral do México Jesús Murillo Karam, em prisão preventiva desde sexta-feira (19/08), será julgado por um tribunal criminal. A decisão foi tomada nesta quarta-feira (24) por um juiz mexicano que considerou que existem elementos suficientes para o julgamento.
Jesús Murillo Karam, acusado de desaparecimento forçado, tortura e obstrução da Justiça, terá de responder perante a administração judicial. No momento do desaparecimento dos 43 estudantes do estado de Guerrero, como procurador-geral da República vinculado ao gabinete presidencial, ele era o encarregado de supervisionar a investigação.
Foi Karam, então, quem forjou o que se chama de “verdade histórica”, em suas próprias palavras: um cenário montado pelas autoridades da época que encena a morte dos estudantes e omite a implicação das forças militares.
A investigação já vinha sendo alvo de muitas críticas desde o início: muitas inconsistências e erros foram apontados por especialistas que também denunciaram, à época, a tortura de certas testemunhas. No entanto, mesmo após a decisão desta quarta-feira, o ex-procurador-geral continua sustentando sua versão, embora extremamente controversa e negada pelo último relatório sobre o caso, emitido por uma comissão especial.

Wikicommons
Jesús Murillo Karam é acusado de desaparecimento forçado, tortura e obstrução da Justiça
Jesús Murillo Karam, importante figura do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México por 71 anos ininterruptos, é a maior personalidade política presa neste caso. Em 2014, ele já tinha estado no centro de uma polêmica, quando encerrou uma coletiva de imprensa e recusou-se a dar explicações às famílias das vítimas sobre os fatos sob o pretexto de “estar cansado”, menos de três meses após o desaparecimento dos estudantes.
Crime de Estado
Após oito anos de mistério e investigação sobre este caso obscuro, em que as famílias exigem implacavelmente a verdade, um relatório do governo divulgado na semana passada declara que este foi um crime de Estado, destacando o papel das autoridades mexicanas nos assassinatos.
O desaparecimento dos jovens aconteceu na noite de 26 de setembro de 2014, quando eles se dirigiam à cidade de Iguala, no estado de Guerrero, onde pegariam um ônibus para irem até a Cidade do México, para participar de protestos. O sumiço dos estudantes constitui uma das piores violações de direitos humanos do México e gerou uma forte comoção internacional. Até hoje, apenas três restos mortais das vítimas foram localizados e identificados.























