Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A Terceira Corte de Assis do Tribunal de Roma decidiu manter no dia 9 de novembro a audiência do processo contra o torturador uruguaio Jorge Nestor Troccoli, acusado de crimes ocorridos nos anos 70/80, sob a batuta da Operação Condor.

A Justiça italiana chegou a adiar a audiência para fevereiro de 2024, em decisão anunciada na segunda-feira (23/10), porque a Argentina não havia ainda dado uma resposta à carta rogatória enviada pela justiça italiana em setembro passado na qual solicitava o depoimento por videoconferência de testemunhas do caso.

Em um comunicado enviado nesta terça-feira (24/10) aos advogados do caso, a juíza presidente da corte, Antonella Capri, informou que a resposta havia chegado e que manteria então a audiência de novembro.

Jorge Nestor Troccoli tem 81 anos e é um ex-oficial do serviço secreto da marinha uruguaia (Fusna). Ele fugiu de seu país para não ser processado, mas caiu nas garras da justiça italiana e foi condenado junto com outros torturadores de ditaduras do Cone Sul, a prisão perpétua em julho de 2021.

Troccoli está preso na penitenciária Gian Battista Novelli, em Carinola, na província de Caserta. Ele agora responde pelo assassinato e desaparecimento do casal ítalo-argentino Rafaela Filipazzi e José Agustín Potenza e pelo desaparecimento da professora uruguaia Elena Quinteros, militante do Partido da Vitória do Povo (PVP).

Tortura era uma condição de rigor

Quando ainda vivia no Uruguai, Troccoli escreveu e publicou A ira de leviatã, onde, além de reivindicar seus crimes e pretender ser reconhecido como um homem a serviço do Estado, ele tenta justificar a repressão e a tortura.

Processo tinha sido adiado para fevereiro de 2024 devido ao atraso das autoridades argentinas em enviar carta solicitada pela Justiça italiana

Sitios de Memoria Uruguay

Militar uruguaio fugiu da América Latina para para não ser processado em seu próprio país e reside atualmente em solo italiano

Para o uruguaio, “a tortura era uma condição de rigor e era um procedimento normal na Fusna. Consistia em manter por várias horas os prisioneiros em pé, encapuzados, sem beber e sem comer. Mas torturar sadicamente e perversamente, não”, declarou em depoimento anos atrás.

As vítimas

Elena Quinteros foi sequestrada em Montevidéu em 24 de junho de 1976 e levada para um centro de detenção clandestino. Em 28 de junho, ela fingiu que entregaria um companheiro numa zona próxima à embaixada da Venezuela. Quinteros conseguiu escapar e entrar nos jardins da sede diplomática, onde pediu asilo, mas oficiais uruguaios entraram na embaixada e a prenderam.

O fato gerou uma ruptura das relações diplomáticas entre os dois países. Quinteros era militante do Partido Vitória do Povo (PVP) e foi levada para o centro de tortura chamado “300 Carlos – o Inferno Grande”. Depois disso, nunca mais foi encontrada. Em uma ficha dos arquivos do Fusna ela aparece como morta entre os dias 2 e 3 de novembro de 1976.

O casal Filipazzi e Potenza foram seqüestrados em Montevidéu em 27 de maio de 1977 no Hotel Hermitage e entregues à unidade S2 dos Fuzileiros Navais (Fusna). Tempos depois, foram transportados de avião para Assunção e recebidos por agentes da ditadura de Alfredo Stroessner.

Segundo as investigações, eles foram assassinados no Paraguai, onde seus restos mortais foram encontrados, em março de 2013.

Opera Mundi é o único veículo da imprensa brasileira, que desde 2015, acompanha os julgamentos na Itália dos crimes cometidos por torturadores do Cone sul no âmbito da Operação Condor.