Assassinatos de ex-combatentes das FARC colocam Acordos de Paz em risco na Colômbia
Desde 2016, foram registrados 355 homicídios de pessoas que assinaram os acordos que levaram ao fim da guerra civil no país
A imprensa colombiana deu pouca repercussão ao assassinato de Cristian Salinas, ex-combatente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), ocorrida no último sábado (07/01), na região do Vale do Cauca.
No entanto, uma reportagem do jornal espanhol El País, da jornalista Sally Palomino, cobriu o velório, conversou com alguns de seus ex-companheiros de Salinas e constatou o clima de incerteza que muitos sobreviventes da organização sentem diante da série de assassinatos de membros das FARC que assinaram os Acordos de Paz de 2016.
O de Salinas foi apenas mais um caso de uma lista que já supera os três dígitos: segundo um informe da Organização das Nações Unidas (ONU), já foram assassinadas 355 pessoas que assinaram os Acordos de Paz em Havana, no ano de 2016.
A reportagem do El País entrevistou Carlos Marín, companheiro de Salinas nas FARC, quem afirmou que “os que assinaram a paz estão em risco de sofrer um extermínio, como ocorreu com a União Patriótica nos Anos 80 e 90”.
A União Patriótica é um partido de esquerda colombiano que sofreu uma série de atentados contra seus dirigentes após o resultado das eleições regionais de 1988, quando elegeu dezenas de prefeitos e milhares de vereadores, se transformando na terceira força política do país – atrás do Partido Liberal e do Partido Conservador, ambos de direita.

Twitter / La Voz del Pueblo
Bandeira do partido Comunes, que representa as antigas FARC, estendida durante o velório de Cristian Salinas
Ainda segundo Marín, a banalização dos casos de assassinatos de ex-combatentes pode colocar em risco os Acordos de Paz, devido ao temor que esta situação provoca entre os ex-membros das FARC. “A morte de um ex-combatente era notícia há cinco anos. Agora já não é mais”, lamenta.
O último informe sobre os assassinatos de membros das FARC realizado na Colômbia foi produzido em 2020 pela Juizado Especial para a Paz (JEP), organismo criado pelos Acordos de Paz. O documento indica que a maioria dos ex-combatentes assassinados é composta por homens de entre 25 e 44 anos, que cumpriam papel subalterno dentro da organização.
O informe também detalha que os assassinatos ocorreram quase todos em zonas rurais da Colômbia, e utilizaram armas de fogo – as vítimas, geralmente, faleceram após serem atingidas por tiros na cabeça ou no tórax.
Ademais, se especificou que houve 11 assassinatos de mulheres ex-combatentes. Entre as vítimas também há 48 afrocolombianos e 33 de etnias indígenas.
A Colômbia assinou os Acordos de Paz com as FARC em 2016, durante o governo do ex-presidente Juan Manuel Santos, e atualmente, tenta chegar a um novo acordo, com o Exército de Libertação Nacional (ELN), em negociação promovida pelo atual presidente, Gustavo Petro.























