Premiê da Índia promete ‘identificar, rastrear e punir’ responsáveis por atentado na Caxemira
Nova Délhi e Islamabade entram em crise diplomática com medidas de retaliação após episódio que deixou 26 mortos; acordo histórico sobre águas é suspenso
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, declarou nesta quinta-feira (24/04) que seu governo vai “identificar, rastrear e punir todos os terroristas e seus apoiadores”, fazendo referência ao atentado que deixou 26 mortos na última terça-feira (22/04), na Caxemira, região montanhosa reivindicada por Nova Délhi e pelo Paquistão, e palco de tensões étnicas e religiosas.
“Nós vamos perseguir eles até os confins da Terra. O espírito indiano nunca será quebrado pelo terrorismo”, advertiu o mandatário do país, em discurso no estado de Bihar, leste da Índia.
India will identify, track and punish every terrorist, their handlers and their backers.
We will pursue them to the ends of the earth.
India’s spirit will never be broken by terrorism. pic.twitter.com/sV3zk8gM94
— Narendra Modi (@narendramodi) April 24, 2025
As autoridades indianas iniciaram uma intensa busca pelos autores do ataque a armas, que também deixou 17 feridos. A polícia da Caxemira administrada pela Índia informou, também nesta quinta-feira, a identificação de três suspeitos que podem estar envolvidos no ataque. Dois dos três homens são paquistaneses.
A Frente de Resistência (TRF), um grupo armado da região montanhosa administrada pela índia, que surgiu em 2019 após o governo indiano revogar a autonomia da Caxemira, chegou a assumir a responsabilidade pelo atentado. Contudo, as autoridades de Nova Délhi acusam o Paquistão.
Segundo explica a emissora Al Jazeera, o governo indiano entende o TRF como uma “ramificação — ou apenas uma fachada” — do Lashkar-e-Taiba, grupo armado sediado no Paquistão. Enquanto a Índia denuncia que o país vizinho apoia a rebelião armada na Caxemira, Islamabade nega seu envolvimento com o grupo.
Neste contexto, o governo indiano aplicou diversas medidas que reduzem a diplomacia entre Islamabade e Nova Délhi: convocou o diplomata paquistanês em seu território; expulsou conselheiros militares e reduziu os funcionários de sua embaixada no Paquistão de 55 para 30 pessoas; fechou a fronteira de Attari-Wagah, principal passagem terrestre entre os dois países; e cancelou os vistos emitidos para paquistaneses emitidos pelo programa de isenção de visto da Associação Sul-Asiática para Cooperação Regional (SAARC).
Suspensão de acordo histórico
A Índia também anunciou a suspensão do Tratado das Águas com o Paquistão, em mais uma responsabilização do país vizinho pelo atentado na Caxemira.
O acordo, firmado em em 1960, remonta o passado colonial dos dois países. Após ambas as nações surgirem com soberania em 1947 com o fim do domínio britânico, o documento foi assinado porque os dois territórios compartilhavam do mesmo sistema fluvial.
O pacto prevê quais rios cada país controla, e segundo a Al Jazeera, caso ele fracasse, há riscos como “tensões crescentes, potenciais conflitos pela água e impactos econômicos severos, principalmente para o Paquistão”.

“Nós vamos perseguir eles até os confins da Terra”, ameaçou Narendra Modi sobre responsáveis do atentado na Caxemira
Prime Minister’s Office/Wikicommons
Paquistão anuncia medidas retaliatórias
Por sua vez, o governo paquistanês nega seu envolvimento no ataque. “A Índia tomou medidas irresponsáveis e fez acusações”, respondeu o ministro das Relações Exteriores do país, Ishaq Dar, sobre a acusação.
O ministro afirmou que a resposta indiana não usou de força militar, mas que qualquer medida deste tipo terá retaliação.
Já o ministro da Defesa, Khawaja Asif, denunciou que a Índia “está travando uma guerra de baixa intensidade” contra o Paquistão, e caso essa intensidade seja aumentada, seu país “está pronto para proteger seu território”.
Também nesta quinta-feira (24/04), as autoridades do país se reuniram no Comitê de Segurança Nacional para debater a situação. De acordo com a emissora catari, estavam presentes nessa reunião “importantes lideranças civis e militares, incluindo membros seniores do gabinete, o presidente do Comitê de Chefes de Estado-Maior Conjunto, chefes de serviços, chefes de inteligência e importantes ministros federais”.
Após a reunião, o gabinete do primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, divulgou uma declaração rechaçando as medidas anunciadas pela Índia desde o atentado. Segundo as autoridades do país, elas são “unilaterais, injustas, politicamente motivadas, extremamente irresponsáveis e desprovidas de mérito legal”.
“Na ausência de qualquer investigação confiável e evidências verificáveis, as tentativas de vincular o ataque de Pahalgam ao Paquistão são frívolas, desprovidas de racionalidade e lógica de derrota”, disse o comunicado, citado pela Al Jazeera.
Além de negar, mais uma vez, seu envolvimento no ataque, o governo paquistanês acusou a Índia de oprimir a Caxemira, uma região com maioria muçulmana. “A Índia deve resistir à tentação de explorar tais incidentes trágicos em seu benefício e assumir total responsabilidade por sua falha em fornecer segurança ao povo”, acrescentou o documento.
Sobre a suspensão do Tratado das Águas, o comunicado ainda rejeitou “veemente” o anúncio indiano sobre suspensão e advertiu que “qualquer tentativa de interromper ou desviar o fluxo de água pertencente ao Paquistão, conforme o acordo, será considerada um Ato de Guerra e respondida com força total”.
Em retaliação ao fechamento da fronteira de Attari-Wagah pela Índia, o Paquistão também anunciou o trancamento imediato do Posto Fronteiriço de Wagah. Já em resposta aos vistos revogados pelo governo indiano, as autoridades paquistanesas também tomaram medidas semelhantes:
“O Paquistão suspende todos os vistos emitidos a cidadãos indianos pelo Programa de Isenção de Vistos da SAARC (SVES). Os cidadãos indianos atualmente no Paquistão sob o SVES são instruídos a sair dentro de 48 horas, exceto os peregrinos sikh [migrantes religiosos]”, advertiu o comunicado do gabinete.
O Paquistão ainda considerou os conselheiros das Forças Armadas indianas em Islamabade como persona non grata; reduziu seu pessoal diplomático na Índia a apenas 30 funcionários a partir da próxima quarta-feira (30/04); fechou seu espaço aéreo para companhias indianas; e anunciou “suspensão imediata” de todo comércio com a Índia, incluindo de países que usam do território paquistanês para chegar a Nova Délhi.
(*) Com Ansa e informações da Al Jazeera























