Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, declarou nesta quinta-feira (24/04) que seu governo vai “identificar, rastrear e punir todos os terroristas e seus apoiadores”, fazendo referência ao atentado que deixou 26 mortos na última terça-feira (22/04), na Caxemira, região montanhosa reivindicada por Nova Délhi e pelo Paquistão, e palco de tensões étnicas e religiosas.

“Nós vamos perseguir eles até os confins da Terra. O espírito indiano nunca será quebrado pelo terrorismo”, advertiu o mandatário do país, em discurso no estado de Bihar, leste da Índia.

As autoridades indianas iniciaram uma intensa busca pelos autores do ataque a armas, que também deixou 17 feridos. A polícia da Caxemira administrada pela Índia informou, também nesta quinta-feira, a identificação de três suspeitos que podem estar envolvidos no ataque. Dois dos três homens são paquistaneses.

A Frente de Resistência (TRF), um grupo armado da região montanhosa administrada pela índia, que surgiu em 2019 após o governo indiano revogar a autonomia da Caxemira, chegou a assumir a responsabilidade pelo atentado. Contudo, as autoridades de Nova Délhi acusam o Paquistão.

Segundo explica a emissora Al Jazeera, o governo indiano entende o TRF como uma “ramificação — ou apenas uma fachada” — do Lashkar-e-Taiba, grupo armado sediado no Paquistão. Enquanto a Índia denuncia que o país vizinho apoia a rebelião armada na Caxemira, Islamabade nega seu envolvimento com o grupo.

Neste contexto, o governo indiano aplicou diversas medidas que reduzem a diplomacia entre Islamabade e Nova Délhi: convocou o diplomata paquistanês em seu território; expulsou conselheiros militares e reduziu os funcionários de sua embaixada no Paquistão de 55 para 30 pessoas; fechou a fronteira de Attari-Wagah, principal passagem terrestre entre os dois países; e cancelou os vistos emitidos para paquistaneses emitidos pelo programa de isenção de visto da Associação Sul-Asiática para Cooperação Regional (SAARC).

Suspensão de acordo histórico

A Índia também anunciou a suspensão do Tratado das Águas com o Paquistão, em mais uma responsabilização do país vizinho pelo atentado na Caxemira.

O acordo, firmado em em 1960, remonta o passado colonial dos dois países. Após ambas as nações surgirem com soberania em 1947 com o fim do domínio britânico, o documento foi assinado porque os dois territórios compartilhavam do mesmo sistema fluvial.

O pacto prevê quais rios cada país controla, e segundo a Al Jazeera, caso ele fracasse, há riscos como “tensões crescentes, potenciais conflitos pela água e impactos econômicos severos, principalmente para o Paquistão”.

“Nós vamos perseguir eles até os confins da Terra”, ameaçou Narendra Modi sobre responsáveis do atentado na Caxemira
Prime Minister’s Office/Wikicommons

Paquistão anuncia medidas retaliatórias

Por sua vez, o governo paquistanês nega seu envolvimento no ataque. “A Índia tomou medidas irresponsáveis ​​e fez acusações”, respondeu o ministro das Relações Exteriores do país, Ishaq Dar, sobre a acusação.

O ministro afirmou que a resposta indiana não usou de força militar, mas que qualquer medida deste tipo terá retaliação.

Já o ministro da Defesa, Khawaja Asif, denunciou que a Índia “está travando uma guerra de baixa intensidade” contra o Paquistão, e caso essa intensidade seja aumentada, seu país “está pronto para proteger seu território”.

Também nesta quinta-feira (24/04), as autoridades do país se reuniram no Comitê de Segurança Nacional para debater a situação. De acordo com a emissora catari, estavam presentes nessa reunião “importantes lideranças civis e militares, incluindo membros seniores do gabinete, o presidente do Comitê de Chefes de Estado-Maior Conjunto, chefes de serviços, chefes de inteligência e importantes ministros federais”.

Após a reunião, o gabinete do primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, divulgou uma declaração rechaçando as medidas anunciadas pela Índia desde o atentado. Segundo as autoridades do país, elas são “unilaterais, injustas, politicamente motivadas, extremamente irresponsáveis ​​e desprovidas de mérito legal”.

“Na ausência de qualquer investigação confiável e evidências verificáveis, as tentativas de vincular o ataque de Pahalgam ao Paquistão são frívolas, desprovidas de racionalidade e lógica de derrota”, disse o comunicado, citado pela Al Jazeera.

Além de negar, mais uma vez, seu envolvimento no ataque, o governo paquistanês acusou a Índia de oprimir a Caxemira, uma região com maioria muçulmana. “A Índia deve resistir à tentação de explorar tais incidentes trágicos em seu benefício e assumir total responsabilidade por sua falha em fornecer segurança ao povo”, acrescentou o documento.

Sobre a suspensão do Tratado das Águas, o comunicado ainda rejeitou “veemente” o anúncio indiano sobre suspensão e advertiu que “qualquer tentativa de interromper ou desviar o fluxo de água pertencente ao Paquistão, conforme o acordo, será considerada um Ato de Guerra e respondida com força total”.

Em retaliação ao fechamento da fronteira de Attari-Wagah pela Índia, o Paquistão também anunciou o trancamento imediato do Posto Fronteiriço de Wagah. Já em resposta aos vistos revogados pelo governo indiano, as autoridades paquistanesas também tomaram medidas semelhantes:

“O Paquistão suspende todos os vistos emitidos a cidadãos indianos pelo Programa de Isenção de Vistos da SAARC (SVES). Os cidadãos indianos atualmente no Paquistão sob o SVES são instruídos a sair dentro de 48 horas, exceto os peregrinos sikh [migrantes religiosos]”, advertiu o comunicado do gabinete.

O Paquistão ainda considerou os conselheiros das Forças Armadas indianas em Islamabade como persona non grata; reduziu seu pessoal diplomático na Índia a apenas 30 funcionários a partir da próxima quarta-feira (30/04); fechou seu espaço aéreo para companhias indianas; e anunciou “suspensão imediata” de todo comércio com a Índia, incluindo de países que usam do território paquistanês para chegar a Nova Délhi.

(*) Com Ansa e informações da Al Jazeera