Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, deu sinal verde nesta sexta-feira (24/10) a um encontro com seu homólogo dos Estados Unidos, Donald Trump, no próximo fim de semana. Segundo o portal norte-americano Bloomberg, o brasileiro indicou a possibilidade de conversar com o republicano sobre os ataques norte-americanos no Caribe e as ameaças contra a Venezuela.

“Se o presidente Trump quiser discutir esse assunto comigo, terei imenso prazer. O mundo não pode continuar nessa lógica do bem contra o mal. Precisamos de diálogo, não de guerra”, declarou em coletiva de imprensa em Jacarta, Indonésia, antes de embarcar para Kuala Lumpur, na Malásia.

O brasileiro criticou as ações militares norte-americanas, afirmando que o suposto combate ao narcotráfico não pode se transformar em licença para execuções extrajudiciais. “Falta compreensão da política internacional. Você não está aí para matar as pessoas, está para prendê-las e julgá-las. É o mínimo que se espera de um chefe de Estado”, disse.

O líder brasileiro reforçou que o enfrentamento ao narcotráfico deve ser feito com cooperação internacional e respeito à soberania dos países, e não com violência unilateral.

“É muito melhor os EUA se disporem a conversar com o Ministério da Justiça de cada país, para fazer uma ação conjunta. Se a moda pega, e cada um acha que pode invadir o território do outro para fazer o que quer, onde vai ficar a respeitabilidade da soberania?”, questionou.

Lula também relatou que o Brasil adota uma estratégia baseada em inteligência, cooperação e operações coordenadas para enfrentar o tráfico de drogas, sem recorrer à violência desmedida. “O que o Brasil está fazendo há muito tempo, com a Polícia Federal e em parceria com os países amazônicos, é combater o narcotráfico dentro da lei”, explicou.

Ainda destacou que o problema das drogas não será resolvido com bombardeios, mas com políticas sociais e de saúde pública. “Toda vez que a gente fala em combater as drogas, possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente. Os usuários são parte do problema. Há quem vende porque há quem compra”, disse.

O presidente advertiu que ações como as de Trump representam risco à estabilidade internacional e advertiu que “se o mundo virar uma terra sem lei, sem respeitabilidade, vai ser muito difícil viver”. O que precisamos é de cooperação, não de intimidação”, acrescentou.

Já a emissora catari Al Jazeera relembrou que Lula e Trump “entraram em conflito” sobre comércio internacional e o processo do Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) por tentativa de golpe de Estado.

“Espera-se que Trump e Lula discutam a tarifa comercial de 50% sobre os produtos brasileiros que os EUA impuseram ao Brasil em agosto, em protesto contra o julgamento de Bolsonaro”, noticiou a emissora.

A Al Jazeera também apontou que apesar da guerra tarifária, Lula está “revigorado” e aumentou sua popularidade para disputar as eleições presidenciais de 2026, como anunciou na última quinta-feira (23/10).

Entre temas que Lula acredita que podem se tornar pauta da conversa, estão genocídio em Gaza, guerra na Ucrânia, materiais críticos e terras raras
Ricardo Stuckert / PR

Detalhes da reunião entre Lula e Trump

A reunião entre Lula e Trump pode acontecer no próximo domingo (26/10), às margens da 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia. “Como acredito muito na negociação e na relação humana, estou convencido de que a gente pode avançar muito nisso”, disse o líder brasileiro sobre o encontro.

Lula realmente indicou a intenção de debater o tarifaço dos EUA contra o Brasil, mas reconheceu que é difícil alcançar consensos imediatos sobre o tema. “Se eu não acreditasse que fosse possível um acordo, eu não participaria da reunião. Ainda que o acordo não seja fechado depois de amanhã, ele será construído pelos negociadores”.

Também disse que o presidente norte-americano sabe que as tarifas contra o Brasil encareceram a carne e o café nos EUA. “As pessoas vão descobrindo também que nem todas as medidas que a gente toma repercutem da forma que a gente queria”, acrescentou.

“Tenho toda a disposição de defender os interesses do Brasil e mostrar que houve equívoco nas taxações. A tese pela qual se taxou o Brasil não tem sustentação em nenhuma verdade. Os Estados Unidos têm um superávit de 410 bilhões de dólares em 15 anos com o Brasil”, disse.

Lula ainda afirmou que pretende abordar as sanções dos EUA contra os ministros do STF. “A tese de que não há direitos humanos no Brasil porque se está perseguindo um ex-presidente não tem nenhuma veracidade. Quem comete crime no Brasil é julgado e, se for culpado, é punido”, destacou Lula, em resposta aos argumentos utilizados por Trump para aplicar a Lei Magnitsky, vigente nos EUA, contra o ministro Alexandre de Moraes.

O líder brasileiro destacou também que a possível reunião com Trump “não contará com vetos”, porque deseja “ter a oportunidade de dizer a Trump o que o Brasil espera dos Estados Unidos e o que o Brasil tem para oferecer”.

“Não tem assunto proibido para um país do tamanho do Brasil conversar com um país do tamanho dos EUA. Não tem nenhum veto. Vai ser uma reunião livre, a gente vai poder dizer o que quiser, ouvir o que quiser e o que não quiser também”, acrescentou.

Entre os temas que Lula acredita que podem se tornar pauta da conversa, também estão o genocídio promovido por Israel em Gaza, a guerra na Ucrânia, os materiais críticos e terras raras.

Este pode ser o primeiro encontro entre os dois desde o breve contato entre eles na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, em setembro. Na ocasião, os dois se encontraram quando o presidente brasileiro deixava o palco e Trump seguia para fazer seu discurso.

O encontro foi breve, mas deixou boa impressão em ambos. Durante sua fala na Assembleia-Geral da ONU, Trump citou o rápido encontro com Lula, disse que o líder brasileiro parecia “ser um homem muito agradável” e que havia tido uma “química excelente” entre os dois. Dias depois, os dois presidentes conversaram ao telefone e Lula solicitou a retirada do tarifaço.

(*) Com Ansa, Brasil247 e Brasil de Fato