Sábado, 6 de dezembro de 2025
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O G20, grupo que reúne 19 das principais economias do mundo, além da União Africana e União Europeia, comprometeu-se nesta segunda-feira (18/11) com a adoção de medidas de combate à fome no mundo. O anúncio ocorreu na Cúpula do Grupo, que acontece no Rio de Janeiro, com a presença de chefes de Estado ou representantes de todos os países.

A fome é a expressão biológica dos males sociais”, afirmou Lula na abertura da reunião, na manhã desta segunda-feira, lembrando o pensador brasileiro Josué de Castro, autor de Geografia da Fome e Geopolítica da Fome. Cabe a este grupo, completou o presidente, executar esta “inadiável tarefa de acabar com esta chaga que envergonha a humanidade”. Segundo o presidente, 82 países aderiram à Aliança Global contra a Fome, além de 26 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 fundações filantrópicas e ONGs.

A Argentina, presidida pelo ultradireitista Javier Milei, aderiu à aliança de última hora.

Lula lembrou que o governo o Brasil havia saído do mapa da fome em seus primeiros governos, mas que voltou devido ao enfraquecimento do Estado de bem-estar social.

O presidente também criticou “os exuberantes” gastos militares e instou, na sua breve fala, outros países se juntarem à iniciativa do G20. “Nosso maior legado: não se trata apenas de fazer justiça, essa é uma condição imprescindível para construir sociedades mais prósperas e mundo de paz.”

A aliança contra a fome, proposta pelo Brasil, responde a um retrocesso, nos últimos anos, nas metas de desenvolvimento sustentável consensuadas pela Organização das Nações Unidas. Segundo dados divulgados durante o G20, cerca de 733 milhões de pessoas passaram fome em 2024. Isso significa que 1 em cada 11 pessoas no mundo sofre com a desnutrição.

Proporcionalmente, o número é pior na África, em que a fome atinge uma em cada cinco pessoas, de acordo com o último relatório “O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo” (SOFI). O levantamento foi realizado por cinco agências especializadas da Organização das Nações Unidas.

Há, no entanto, um problema a ser superado, que é a obtenção de recursos para isso. Por enquanto, a decisão é mais política do que prática, e há o risco de o compromisso esbarrar na falta de recursos para o efetivo combate à fome.

Uma das formas de financiar esta aliança seria a taxação global de bilionários – ou, mais especificamente, dos “super-ricos”, em 2% de sua renda. Isso arrecadaria, anualmente, entre US$ 200 bilhões e US$ 250 bilhões, e está baseada nas propostas do economista francês Gabriel Zucman. Parte dos recursos também seria usada na mitigação dos problemas do aquecimento global.

Haroldo Ceravolo Sereza
Lula discursou na abertura da 1º Sessão da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro

Estados Unidos, Alemanha e Argentina resistem a aprovar, na declaração final, a taxação. União França, Espanha, Colômbia, Bélgica e África do Sul, que assumirá a presidência rotativa do G20, defendem a medida proposta pelo Brasil.

Segundo este relatório, preparado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), houve um retrocesso nos últimos anos em relação à situação de 2008-2009. Isso significa que a meta de Desenvolvimento Sustentável estabelecida pela ONU, em 2015, de acabar com a fome em 2030 está longe de ser cumprida.

A persistir o ritmo atual, mais de 580 milhões de pessoas estarão, ainda, passarão fome. Os níveis globais de fome estagnaram por três anos consecutivos, com entre 713 e 757 milhões de pessoas desnutridas em 2023 – aproximadamente 152 milhões a mais do que em 2019, utilizando-se a média de 733 milhões de pessoas.

O objetivo da Força-Tarefa para uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza proposta pelo Brasil é estabelecer e obter fundos e construir meios de implementar políticas públicas e tecnologias sociais eficazes na redução da fome e da pobreza globais.

A coordenação desta Força-Tarefa é realizada pelos Ministérios brasileiros das Relações Exteriores, da Fazenda e do Desenvolvimento Social e Assistência, Família e Combate à Fome do Brasil.

A fome cresceu na África (chegando a 20,4% da população), permaneceu estável na Ásia (8,1%) e apresentou diminuiu na América Latina (6,2%). De 2022 a 2023, a fome aumentou na Ásia Ocidental, no Caribe e na maioria das sub-regiões africanas.

(*) Haroldo Ceravolo Sereza e Rocio Paik são enviados especiais ao G20.