BRICS: Bolívia, Chile e Cuba defendem construção de nova ordem global mais justa
Sul Global, genocídio em Gaza e reforma da governança global foram destacados em declarações
No Rio de Janeiro, onde participam da Cúpula dos BRICS, iniciada neste domingo (06/07), os presidentes Gabriel Boric do Chile, Diáz-Canel de Cuba e Luis Arce da Bolívia defenderam ressaltaram o papel do multilateralismo na construção de uma ordem global mais justa e representativa; e defenderam o papel central da articulação do Sul Global em meio às disputas geopolíticas.
Em longa postagem na plataforma X, o presidente Boric destacou o “compromisso inabalável do Chile com o multilateralismo, o direito internacional e os direitos humanos, em todos os momentos e em todos os lugares”.
Ele fez um apelo para que a comunidade internacional trabalhe de forma conjunta na busca por soluções para problemas globais como o crime organizado, a crise climática e os fluxos migratórios. Segundo ele, “é essencial reformar a governança global de forma a refletir as vozes do Sul Global, com base em um padrão comum de respeito ao direito internacional”.
Boric afirmou que não se pode repetir a lógica da Guerra Fria, em que as violações cometidas “na própria esfera de influência” eram ignoradas. Ele também condenou “o genocídio que o governo israelense está cometendo na Palestina” e “a agressão unilateral da Rússia contra a Ucrânia”. E reiterou: “o Chile não legitima a agressão unilateral contra nenhum país, mesmo que nós e o país atacado tenhamos profundas diferenças de valores e sistema político”.
Ao relembrar a posição histórica do ex-presidente Ricardo Lagos contra a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, Boric reafirmou o papel do Chile como defensor de uma política externa coerente e baseada em princípios. Ele ressaltou que o país tem muito a contribuir na busca por soluções coletivas, especialmente na transição energética e na cooperação em temas como comércio, cultura e proteção ambiental.

Chefes de Estado do Chile, Cuba e Bolívia destacam papel do BRICS na construção de ordem global mais justa
Fernando Frazão / Agência Brasil
Diáz-Canel
Já o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, iniciou seu discurso agradecendo a entrada do país nos BRICS como parceiro, ressaltando que o bloco representa “a esperança de que o multilateralismo seja salvo do caos e da ineficácia” em que a ONU se encontra, em função da “arrogância de alguns”. Ele denunciou a fragmentação da ordem internacional e a erosão do multilateralismo, apontando os riscos disso para a paz e a segurança globais.
Em seu discurso, Díaz-Canel criticou duramente os Estados Unidos por sua política externa baseada na “diplomacia pela força” e por agir com “total desrespeito aos princípios e normas do direito internacional e da Carta das Nações Unidas”. Ele condenou os ataques dos EUA e de Israel contra o Irã, reiterou a solidariedade cubana ao povo iraniano e denunciou “o genocídio em curso contra o povo palestino”, com apoio dos EUA e a conivência do Conselho de Segurança, paralisado por vetos.
Segundo Cuba, enquanto essa barbárie persistir, “viveremos na pré-história do que um dia criou algo tão promissor para a paz quanto as chamadas Nações Unidas”. Diáz-Canel destacou, ainda, o papel do BRICS como alternativa, elogiando o grupo por promover “ideais comuns de paz, diálogo, respeito mútuo, cooperação e solidariedade”. Ele defendeu reformas urgentes na arquitetura financeira internacional e na governança da inteligência artificial, propondo mais inclusão, democracia e acesso equitativo à tecnologia.
O líder cubano também condenou a renovação do bloqueio econômico imposto pelos EUA a Cuba, “um novo ato de arrogância imperial”, afirmou. “Nenhum outro país teve que construir seu projeto social e de desenvolvimento sob a aplicação prolongada, cruel e sistemática de um cerco econômico […] pela maior potência da história”, complementou ao frisar que os Estados Unidos “não têm autoridade moral nem mandato internacional para certificar Cuba ou qualquer outro país”.
“A humanidade não precisa de bloqueios, falsas supremacias e apetites de dominação e exploração”, e sim de respeito, cooperação e integração”, afirmou.
Luis Arce
Durante sua participação na cúpula dos BRICS, o presidente boliviano Luis Arce convocou os países a formarem um bloco em defesa de um “enfoque de justiça climática em todas as decisões da próxima COP30”. A proposta boliviana inclui ações em áreas estratégicas como energia, saúde e enfrentamento de desastres naturais.
Entre as iniciativas apresentadas está a criação de uma Aliança energética que promova a integração e a transição energética sustentável entre os países do bloco. Arce destacou que, juntos, eles representam “uma potência energética global, cujo papel devemos assumir com responsabilidade”.
A Bolívia sugeriu a fundação de “um centro de ajuda e cooperação para enfrentar os impactos dos desastres naturais, com contribuições dos países de maior desenvolvimento para os que já estão sofrendo os efeitos mais graves da crise climática”.
No campo da saúde, ele avaliou positivamente o uso de inteligência artificial “na atenção sanitária, para melhorar a infraestrutura de saúde e promover a sustentabilidade nesses sistemas”. Para isso, enfatizou, “a cooperação internacional em saúde, entre os BRICS e o âmbito multilateral, segue sendo uma aliada estratégica nesse esforço e é mais necessária que nunca”.
Arce também apelou para que os países trabalhem juntos no enfrentamento “dos desafios globais, como as doenças não transmissíveis e as doenças infecciosas. Empreendamos o caminho para garantir um futuro mais saudável e sustentável para todos”.
No domingo, o líder boliviano participou de uma entrevista à emissora russa RT, onde defendeu a multipolaridade. “Não queremos um só país mandando no mundo”, declarou, ao refirmar o compromisso boliviano com a construção de uma ordem internacional mais equitativa. Arce também criticou o que chamou de “velho bloco decadente dos EUA e da Europa”, ao destacar o protagonismo dos BRICS.
Durante a entrevista, ele destacou o potencial econômico da Bolívia, citando as reservas naturais do país. “Temos terras raras, temos minerais, temos produção de alimentos, importantíssimo como para poder compartilhar com os países membros, os países BRICS, e, a seu turno, nós nos beneficiarmos da transferência tecnológica que esses países têm para melhorar a produção”, afirmou.























