Segunda-feira, 15 de dezembro de 2025
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A jornalista Laura Mattos, colunista de educação do jornal Folha de S. Paulo, lança o livro Herói Mutilado – Roque Santeiro e os bastidores da censura à TV na ditadura (Companhia das Letras, R$94,90), que conta a história da novela de grande sucesso Roque Santeiro, do dramaturgo Dias Gomes. O livro percorre o caminho dos três momentos em que a obra foi censurada no Brasil: como peça teatral chamada Berço do Herói em 1965, quando novela em 1975 e, finalmente, exibida em 1985 na rede Globo, porém com cerca de 600 paginas subtraídas.

Em entrevista a Opera Mundi, a jornalista e mestre em comunicação social pela USP afirmou que seu livro “reconstitui” a história da censura e da ditadura através de Roque Santeiro. A obra de Dias Gomes, escrita em 1963, discutia a “necessidade de se acreditar em mitos”, segundo a autora.

Ainda no ano 1965, quando o diretor Antônio Abujamra fez uma “montagem provocativa” da peça Berço do Herói, a perseguição da ditadura civil militar à cultura já eram sensíveis, apenas um ano depois do golpe de 1964. Embora o texto da obra tivesse sido aprovado, a peça foi proibida após a visita do departamento de censura ao ensaio.

“Naquele momento, a censura não estava concentrada em Brasília, estava distribuída nos estados, eles estavam começando a montar a estrutura nacional de ligar ao Planalto à censura como ferramenta mais direta de controle”, disse.

Em 1975, a obra foi impedida de estrear como novela na TV, algo que até então nunca ocorrera. A jornalista explica que a a aprovação das novelas era feita a partir das sinopses enviadas pela rede de TV. No caso de Roque Santeiro o Departamento de Censura pediu também alguns capítulos com antecedência. Inicialmente, “os episódios foram aprovados para serem exibidos às 20h”, disse, “mas, na véspera [da estreia] eles falam que é para às 22h”. E o que significava exigir que fosse exibido às 22h e não às 20h? “Significava inviabilizar a estreia dessa novela”, diz Mattos pois, na grade da emissora, às 22h, já estava sendo exibida a novela Gabriela, inspirada na obra de Jorge Amado.

Jornalista lança livro que narra os motivos de a obra do dramaturgo Dias Gomes ter sido impedida de virar peça em 1965, novela em 1975 e, finalmente, exibida em 1985, porém com cerca de 600 páginas cortadas

Reprodução

Livro percorre o caminho dos três momentos em que a obra foi censurada no Brasil

“Os mesmos censores mudam assim, de forma absurda e injustificada, porque os episódios gravados são os mesmos do roteiro, que eles haviam liberado”, diz a autora. 

Mattos diz que, com o fim da ditadura militar em 1985, a rede Globo decidiu retomar o projeto de Roque Santeiro como “o símbolo da volta da liberdade de expressão”.

Em 24 de junho de 1985, já no governo de José Sarney – primeiro presidente civil após o regime militar – , a novela estreou com “a maior audiência da história da televisão”. No entanto, narra Mattos em seu livro, mesmo sob um governo civil, a novela começou a ser censurada e teve quase 600 páginas do roteiro cortadas.

“É uma demonstração de como a censura permanece em períodos democráticos e de que forma ela permanece. E de como na redemocratização os mecanismos de repressão não tinham sido desmontados”, afirma Mattos.

A autora estreou neste ano como colunista na seção de educação na Folha. Mattos, que já foi editora e gastronomia, tecnologia e dos cadernos Turismo e Folhinha., também produz reportagens especiais.

Censura na Bienal do Livro 

Mattos usou o exemplo de Roque Santeiro como referência para “pensar” nepisódio em que o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, mandou retirar um livro de história em quadrinhos que contém uma imagem de um beijo gay. 

“A censura é sempre política. (…) [Crivella] estava defendendo a moral que ele prega para construir o poder dele. É a defesa da base política dele”, disse. A autora ainda apontou que a censura não acaba e que a “defesa da liberdade de expressão tem que ser um movimento contínuo, estar sempre em alerta”.

Serviço
Lançamento: Herói Mutilado – Roque Santeiro e os bastidores da censura à TV na ditadura
Data: 22/10/2019 às 19h
Livraria da Vila – Alameda Lorena, 1731 – São Paulo