Kleber Mendonça Filho suscita debate sobre construção social e política do Brasil em ‘O Agente Secreto’
Diretor questionou ‘não fazer sentido chamar qualquer coisa que não seja da região Sudeste de regional’
Faltando poucos dias para que o O Agente Secreto esteja no circuito comercial de cinema em todo o Brasil, o cineasta Kleber Mendonça Filho, autor da obra, participou de uma coletiva de imprensa na qual ressaltou que fez “um filme sobre o Brasil, sobre certos elementos que contém muito do que é o Brasil, e que eu acho que precisavam ser ressaltados neste momento em que o nosso país vive”.
Segundo Mendonça Filho, que venceu o prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes com O Agente Secreto, “o Brasil é um país que tende a esquecer muitas coisas, e um filme diverte, mas também tem uma carga de informação sobre o lugar que a gente mora”.
A obra é ambientada nos Anos 70, durante a ditadura militar, e o diretor frisou que deseja criar no público uma necessidade por obter mais conhecimento sobre o período, principalmente nos mais jovens.
“Quero que o filme seja visto por um público grande no Brasil, mas eu tenho um desejo muito especial de que esse filme seja descoberto por gente muito jovem – como estudantes, meninos e meninas – que vão ao cinema e veem um filme brasileiro que conta a história brasileira”, comentou.
“Eu saí de uma sessão do filme Ainda Estou Aqui, no Recife, e na minha frente saíram duas meninas muito jovens que falaram uma para outra que não sabiam que o regime militar tinha sido tão ruim daquele jeito. Então, eu acho que são pequenas informações, pequenos sentimentos, que um filme, principalmente um filme brasileiro, pode trazer sobre o nosso país”.
Kleber também rebateu críticas do seu filme ser regional e sobre sotaques fílmicos, afirmando que “eu nunca me vi e me coloquei como regional. Eu sou parte do Brasil. Meu ponto de vista é brasileiro, com base em Recife, Pernambuco, então eu não acho que faz nenhum sentido chamar qualquer coisa que não seja da região Sudeste de regional”.
“Existe toda uma montagem do nosso país, que foi uma montagem econômica, política e cultural, que deu muita força ao que é feito no Sudeste, mas eu acho que o cinema é uma ferramenta, a televisão já devia ser assim, mas infelizmente não funciona dessa forma. Eu acho que o cinema corre muito mais solto, com mais liberdade”, explicou o cineasta, que emendou com uma provocação: “na verdade, para mim, regional eram as novelas da Globo que eu cresci vendo. Porque se passavam na Barra da Tijuca e eu não sabia o que era”.
O diretor do filme escolhido como representante do Brasil para o Oscar em 2026 também afirmou que “a cultura e a democracia andam juntas, mas a gente viveu um momento de ataque à lei de cultura e à arte, é tão ruim você ver um ataque coordenado, e desde que o Brasil voltou a ter tendências democráticas, a cultura voltou”.

‘O Agente Secreto’ chega aos cinemas brasileiros em 6 de novembro
Tabitha Ramalho
‘Obrigação de preservar a memória’
Por sua vez, o ator Wagner Moura, que interpreta o personagem protagonista do filme, defendeu as leis de incentivo à cultura e a importância de preservar a memória.
“A memória é importante, porque se a gente não tivesse, por exemplo, a lei da anistia, que foi uma lei que apagou a memória do Brasil, não teríamos o presente que tivermos, esse que está preso”, afirmou o artista, que também saiu premiado do Festival de Cannes deste ano, com a estatueta de Melhor Ator, por seu papel em O Agente Secreto.
Moura também comenta que “apesar da ditadura ter acabado em 1985, os ecos ficaram. A memória é uma coisa importante e não só a cultura, o cinema, o jornalismo, a universidade, a sociedade como um todo. Temos a obrigação de preservar a nossa memória, para que cresçamos como país, para que nos entendamos, para que nos vejamos”.
Mulheres e o etarismo
Aos 78 anos, a atriz Tânia Maria ganhou destaque ao se tornar a nova musa de Kleber Mendonça, pela atuação como figurante em Bacurau (2019) e agora como Sebastiana em O Agente Secreto.
Diante disso, a atriz Alice Carvalho, que também participa da obra, aproveitou para fazer um desabafo: “eu tenho 29 anos e sou atriz, para mim é um símbolo inefável ver dona Tânia começar a eu estou com 72 anos de idade”.
“Tenho algumas amigas atrizes com 38, 40, 41, 42 anos, que são muitas vezes tomadas pelo sentimento de que a carreira acabou. Ou que são muito novas para serem mães ou muito muito velhas para serem filhas de alguém. Para mim há um valor imenso saber quem é a dona Tânia e eu tenho certeza que ela vai fazer muitos filmes daqui para frente e isso será importante para a minha geração”, acrescentou.
Alice concluiu dizendo que espera que o exemplo de Tânia Maria sirva pra que as atrizes de sua geração “possam continuar fazendo testes, que continuem sendo chamadas para filmes e que tenham bons contratos, com boas condições”.
Sinopse e estreia
O Agente Secreto, protagonizado por Wagner Moura, mostra Marcelo que decide fugir de seu passado violento e misterioso se mudando de São Paulo para Recife, com a intenção de recomeçar sua vida.
Além de Wagner Moura, Alice Carvalho e Tânia Maria, o elenco conta também com Maria Fernanda Cândido, Hermila Guedes, Fernando Chirolli, Isabél Zuaa, Thomas Aquino, Roney Vilella e Gabriel Leone.
No Brasil, o longa chega aos cinemas em 6 de novembro, com distribuição da produtora Vitrine Filmes.























