Cortex vem ao Brasil mostrar porque Troupeau bleu é um dos melhores discos de jazz de todos os tempos
Banda de jazz Cortex, formada em 1974, fará show em São Paulo em novembro
Formada em em 1974, originalmente pelos integrantes Alain Mion, Alain Gandolfi, Mireille Dalbray e Alain Labib – e posteriormente, contando com a entrada de Jean Grevet –, a banda francesa Cortex nasceu em um encontro no Centre Américain, em Paris. No ano seguinte, o grupo se reuniu em estúdio, dando origem ao clássico Troupeau bleu, uma grande mistura entre funk, soul, bossa-nova e rock psicodélico. O disco, hoje cultuado como cult, é aclamado por todas as gerações de fãs de jazz pela sua qualidade rítmica, os instrumentais e arranjos.
Troupeau bleu alavancou o grupo, que tem em sua carreira seis discos, e ainda que vários de seus integrantes já estivessem envolvidos com a música antes e depois do seu Magnum opus, foi o álbum de capa azul e branca que se tornou o símbolo do poder da banda. A fusão de ritmos não é o único elemento chamativo: com três integrantes com nome Alain – muito comum no norte da África –, o principal deles, Alain Mion, nasceu em Casablanca, importante centro comercial do Marrocos, que até 1956 era uma colônia francesa.
A importância de Troupeau bleu, como de grande parte dos discos de jazz lançados entre os anos 1960 e 1970 – década em que Eric Hobsbawm vai chamar de “uma experiência deprimente para o amante de jazz”[1]” – se dá não apenas pela popularidade que o estilo musical alcançou fora dos Estados Unidos – em especial no Japão, França e Reino Unido – em oposição à falta de mercado que o gênero enfrentou em seu próprio país, ocasionada principalmente pelo surgimento do rock, mas também em função de ter feito parte do resgate de discos esquecidos do jazz por rappers e produtores norte-americanos entre as décadas de 1990 e 2000.
Não é apenas o caso do Cortex: outros grandes artistas e bandas, como Arthur Verocai, Azymuth e Clyde Stubblefield viram o renascimento de suas obras graças às máquinas e baterias eletrônicas de gente como J Dilla, MFDOOM, Madlib, 9th Wonder, e uma infinidade de outros grandes produtores.
Mas não é apenas pela atmosfera cult que envolve o disco que, até 2022, Troupeau bleu foi sampleado ao menos 142 vezes. O álbum fala por si mesmo. Se na faixa de abertura chamam atenção os riffs de baixo e guitarra e o solo psicodélico de teclado de Alain Mion, na faixa Automne a cantora Mireille Dalbray, esposa de Mion, fala sobre o verão, a natureza, sobre o samba brasileiro e os “shows pop perto de Taboão da Serra”, bairro da zona sul de São Paulo, o que revela novamente o caráter cosmopolita de Cortex. O ponto alto do disco, a faixa homônima Troupeau bleu – não que o disco tenha grandes oscilações, muito pelo contrário – é uma aula sobre como a música pode sofrer mutações e aculturações que alimentam gêneros distintos. Se a bateria consegue seguir um compasso de tamborim da bossa-nova, o teclado chama novamente a atenção. O vocal de Mireille Dalbray volta a ser protagonista de uma sinfonia que mescla a França dos Condenados da Terra, o Brasil do samba que virou bossa, e a África que não se curvou ao colonialismo.

A banda de jazz Cortex. Da esquerda para a direita, Alain, Hideiko Kan, Adeline de Lepinay, Mohamed Quaraz.
(Foto: Edija Rouseau / Wikimedia Commons)
Outra importante faixa do disco é Huit Octobre 1971. Chamando a atenção de MFDOOM, Tyler the Creator, Jaylib (o duo entre J Dilla e Madlib), e mais uma dezena de produtores de rap, ela caiu no gosto dos rappers, que recortaram os vocais, bateria, solos de corda e outros elementos que compõem uma das mais belas demonstrações do poder que a improvisação do jazz tem.
Por todos esses motivos, e pelo clássico que Troupeau bleu se tornou, é que a Casa Natura, em parceria com o Jazz is Dead – que, em sua fundação, conta com nada menos que Ali Shaheed Muhammad, o eterno produtor do A Tribe Called Quest –, trazem, em novembro de 2024, a banda Cortex para tocar pela primeira vez no Brasil. O show promete ser uma celebração do bom jazz, e do clássico que, se é francês pelo solo em que foi criado, é também um pouco marroquino, e um pouco mais brasileiro.
SERVIÇO:
Show Jazz Is Dead | Cortex
21 de novembro de 2024
Abertura da Casa: 19h30
Show: 21h
Classificação: 16 anos
Casa Natura Musical
Rua Artur de Azevedo 2134
Pinheiros, São Paulo
Informações sobre ingressos























