Quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
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Depender da divulgação de números dos casos e mortes causadas pela covid-19 pode ser um método pouco eficaz para convencer as pessoas a aderirem às medidas de distanciamento e prevenção da doença. Quem faz essa sugestão é um grupo internacional de cientistas que investigou como o comportamento das pessoas frente à covid-19 se relaciona com os níveis de confiança em governos, na ciência e nos cidadãos em 23 países.

“Em muitos países, a comunicação sobre as medidas tem se apoiado nas estatísticas sobre a extensão e severidade da ameaça à saúde. Nossos resultados parecem indicar que esse não é o jeito mais apropriado de induzir obediência às restrições e comportamentos pró-sociais”, afirma Stefano Pagliaro, professor do departamento de neurociência da Universidade de Chieti-Pescara, na Itália, e primeiro autor de um estudo publicado nessa quarta-feira (10/03) na revista científica PLOS One.

O objetivo do estudo foi identificar fatores que levam os indivíduos a adaptarem seus comportamentos para proteger não apenas a própria saúde, mas também a saúde coletiva de suas comunidades. O grupo de cientistas utilizou técnicas estatísticas para analisar as respostas de mais 6 mil pessoas a questões sobre comportamentos, experiências com o coronavírus, valores morais e confiança nas instituições. As respostas vieram de diversos países, como China, Chile, Bangladesh, Itália, Rússia, Coreia do Sul, Turquia e Estados Unidos.

Os dados foram coletados entre abril e maio de 2020, ainda na primeira onda da pandemia, e apontam que, além da ciência, confiar nos cidadãos e no governo frequentemente está associado à disposição para manter o distanciamento. E também para tomar certas atitudes altruístas voluntariamente, chamadas no artigo de comportamentos discricionários, como doar dinheiro para caridade ou se oferecer para fazer as compras de um vizinho que está em isolamento.

“O que está acontecendo no Brasil, assim como em outros países, em termos de mortes, é preocupante. Nós mostramos que as estatísticas publicadas de infecções e mortes em cada país não representam o único, nem o mais importante antecedente das reações individuais”, afirma Pagliaro, em nome de seus colegas.   

Pesquisa com cidadãos de 23 países indica que confiança na ciência é o melhor fator para adesão ao distanciamento social

Fotos Públicas

Pesquisa com cidadãos de 23 países indica que confiança na ciência é o melhor fator para adesão ao distanciamento social

O grupo de pesquisadores observou que, embora a relação entre confiança e os comportamentos relacionados à covid-19 estejam presentes em todos os países estudados, algumas características culturais influenciaram as respostas dos participantes da pesquisa.

“Os princípios morais que, segundo a literatura científica, se diferenciam de país para país representam antecedentes seguros de confiança. Por exemplo, quanto mais as pessoas endossaram os princípios morais de justiça e cuidado – tipicamente identificados com indivíduos e países progressistas – mais inclinadas elas estavam a acreditar na ciência e era mais provável que elas tivessem tanto comportamentos recomendados quanto discricionários relacionados à covid-19”, explica o primeiro autor do estudo.

Os dados do estudo não permitem estabelecer uma relação de causa e efeito entre a confiança nas instituições e o grau de sucesso de cada país no controle da pandemia. Mas os pesquisadores especulam que a promoção da confiança na ciência poderia ajudar nessa tarefa. Eles lembram da epidemia de ebola que ocorreu entre 2014 e 2015 na Libéria, onde a melhoria na confiança nos profissionais de saúde foi importante para aumentar a adesão dos cidadãos às medidas de saúde pública.

“Por outro lado, a desconfiança na ciência – geralmente relacionadas às teorias conspiratórias – representam um antecedente potencialmente dramático de comportamentos disfuncionais”, diz Pagliaro.