Com ômicron e corrida por terceira dose, OMS teme que faltem vacinas para países pobres
Corrida mundial pela terceira dose preocupa OMS, já que poderia perturbar o sistema Covax; ômicron já foi detectada em ao menos 77 países
A nova variante ômicron poderia se tornar a cepa dominante na Europa até janeiro, alertou nesta quarta-feira (15/12) a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, insistindo que o bloco contava com vacinas para todos os europeus. Mas a propagação da variante a um ritmo acelerado e o aumento de campanhas de vacinação preocupa a Organização Mundial da Saúde (OMS), que teme a queda da solidariedade internacional na repartição dos imunizantes.
“Visto a atual progressão rápida de casos de Covid-19, a ciência nos diz que devemos esperar que a ômicron seja a nova variante dominante na Europa em meados de janeiro”, declarou Von der Leyen ao Parlamento Europeu em Estrasburgo. A nova variante já foi detectada em ao menos 77 países, segundo a OMS.
A hipótese sobre a capacidade da variante de burlar o esquema vacinal de duas doses, causou uma corrida mundial pela terceira dose. Mas a ideia preocupa a organização, já que poderia perturbar o sistema Covax, para favorecer a distribuição igualitária de vacinas, que começa somente agora a funcionar a pleno vapor.
“Vacinar as pessoas frágeis é mais eficaz que correr atrás de adolescentes de 16 e 17 anos para aplicar um reforço”, diz o responsável de operações de urgência da OMS Mike Ryan. “Eu não quero que as pessoas se sintam mal porque tomaram a terceira dose, mas existem milhões de pessoas no mundo que não receberam nenhuma proteção e devemos dar a elas prioridade”.
A África, por exemplo, no ritmo atual, poderia ter que esperar até junho de 2024 para conseguir vacinar 70% de sua população.

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No ritmo atual, África poderia ter que esperar até junho de 2024 para conseguir vacinar 70% de sua população
Ômicron circula na África
A República Democrática do Congo informou esta semana a presença da nova variante em seu território. O país passou de uma média de menos de 10 novos casos por dia, observados há vários meses, a mais de 600 infecções diárias no último fim de semana. A capital Kinshasa é mais atingida, com mais de 80% de casos contabilizados.
As autoridades não têm informações sobre a variante, inclusive como ela chegou ao território congolês. Mas para o chefe de operação contra a covid-19 no Congo, o professor Jean-Jacques Muyembe, não é necessário que os países ocidentais fechem suas fronteiras, porque o vírus já circula no mundo.
“Atualmente, a variante ômicron ocupa um lugar importante. Cerca de 29% das cepas que nós sequenciamos são dela. Sob o plano epidemiológico, sabemos que realmente é um vírus que é transmitido facilmente, mas não conhecemos nada sobre a gravidade clínica, sobretudo sobre seu impacto potencial. As vacinas vão ter uma ação de 100%? Não sabemos. Os tratamentos já usados vão ser eficazes? Também não sabemos”, diz.
“Esta variante será certamente dominante já no fim de dezembro, começo de janeiro. Felizmente, não estamos sobrecarregados”, afirma Muyembe. “Não podemos sancionar os países que declaram a circulação de uma variante. Isto seria como desacelerar a luta. No momento em que um caso é detectado, já existem 1.000 outros. O que vemos, o primeiro caso detectado, é a ponta do iceberg. O vírus já está aí, ele circula, não serve para nada fechar as fronteiras”, afirma.
Vários países ao redor do mundo fecharam suas fronteiras para várias nações Africanas, onde foi detectada pela primeira vez a variante ômicron.
*Com o correspondente da RFI em Genebra, Jérémie Lanche























