Quarta-feira, 17 de dezembro de 2025
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O laboratório anglo-sueco AstraZeneca anunciou neste sábado (13/03) novos atrasos nas entregas de sua vacina contra a covid-19 na União Europeia (UE), alegando problemas de produção e restrições de exportação. A notícia chega em péssima hora para o Executivo europeu, que sofre duras críticas pela lentidão na vacinação. Além disso, o governo da Áustria acusa vizinhos, sem citar nomes, de terem fechado “contratos secretos” com farmacêuticas.

Segundo a AstraZeneca, os atrasos decorrem da escolha de recorrer a unidades de produção fora da UE para o abastecimento do bloco. Porém, “infelizmente, as restrições de exportação reduzirão as entregas no primeiro trimestre” e “provavelmente” no segundo, disse um porta-voz do grupo.

No fim de janeiro, o grupo anglo-sueco, que desenvolveu sua vacina com a Universidade de Oxford, do Reino Unido, informou à UE que só poderia entregar 40 milhões de doses até o fim de março, do total de 120 milhões que havia prometido inicialmente para os três primeiros meses do ano. Para o segundo trimestre, de abril a junho, a promessa era de fornecer 180 milhões de doses aos europeus. 

A Comissão Europeia, que negociou os contratos em nome de seus 27 países membros, tem sido muito criticada pelos atrasos da farmacêutica e pelos impactos na distribuição. Nos últimos dias, os governos do bloco buscaram transmitir mensagens de confiança à opinião pública, acreditando que as entregas iriam aumentar no segundo trimestre.

Se os prazos da AstraZeneca fossem honrados, a UE poderia contar em média – incluídas as demais vacinas – com cerca de 100 milhões de doses por mês no período de abril a junho, ou seja, 300 milhões de doses no trimestre, para uma população estimada em 447,7 milhões de habitantes. Os imunizantes são distribuídos para cada país segundo uma quota proporcional à população. O plano elaborado inicialmente pela Comissão Europeia previa vacinar 70% dos europeus até o fim do verão, em setembro. 

Agora, o novo atraso da AstraZeneca tende a agravar as tensões internas. Hungria e Polônia, por exemplo, decidiram não esperar pelas entregas da UE e negociaram diretamente com a Rússia e a China o fornecimento das vacinas fabricadas nesses países, apesar das rivalidades políticas e comerciais entre Bruxelas, Moscou e Pequim. A Sputink V está sendo aplicada em países do bloco antes de obter a aprovação da Agência Europeia de Medicamentos.

Segundo o laboratório, atrasos decorrem da escolha de recorrer a unidades de produção fora da UE para o abastecimento do bloco

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Segundo o laboratório, atrasos decorrem da escolha de recorrer a unidades de produção fora da UE para o abastecimento do bloco

Áustria fala em “contratos secretos” e amplia tensão no bloco  

Nesta sexta-feira (12/03), o governo da Áustria abriu uma nova frente de atrito. O chanceler austríaco, Sebastian Kurz, acusou alguns Estados membros da UE, sem especificar quais, de terem fechado “contratos secretos” com laboratórios farmacêuticos, além de criticar uma distribuição desigual das doses entre os países.

Áustria, República Tcheca, Eslovênia, Bulgária e Letônia estão pedindo a realização de uma reunião de cúpula do bloco para discutir o que consideram “enormes disparidades” existentes no tratamento da crise sanitária. Kurz e os líderes dos outros quatro países enviaram uma carta à presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, alegando que “o fornecimento de doses da vacina pelas empresas farmacêuticas aos países da UE não acontece de forma igualitária”. Se as coisas continuarem assim, “no verão serão criadas enormes disparidades entre os Estados membros, com alguns que terão a imunidade coletiva e outros que estarão muito longe de alcançá-la”, afirmam na carta divulgada neste sábado (13/03). “Portanto, pedimos (…) uma reunião entre os líderes (da UE) para debater este importante assunto o mais rápido possível”, acrescentaram.

Kurz já havia denunciado esta situação na sexta-feira à imprensa. “Há indicações segundo as quais existe uma instância, um mercado onde foram fechados acordos suplementares entre Estados membros e laboratórios farmacêuticos”, afirmou. “Muitos não acreditariam nisso, porque isso contradiz claramente o objetivo político da UE” de uma distribuição igualitária, destacou o chanceler austríaco.

França mantém meta e critica atrasos

A França espera ultrapassar a meta de 10 milhões de pessoas vacinadas contra a covid-19 em meados de abril, segundo o primeiro-ministro Jean Castex. Em visita neste sábado a um posto de vacinação na região oeste do país, Castex reiterou que o país receberá um grande lote de doses em abril.

Em seguida, em visita a uma escola para suboficiais do Exército, na mesma região, ele comentou os atrasos. “Estabelecemos a meta de 10 milhões de injeções até 15 de abril e não duvido que iremos superá-la. Mas temos que ter cuidado porque os laboratórios nos dão alguns problemas em respeitar os prazos de entrega. Temos de nos adaptar”, acrescentou.

Um ano depois do início da epidemia, a França ultrapassou a triste marca de 90.000 mortes pela covid-19 na sexta-feira.