Terça-feira, 16 de dezembro de 2025
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O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, rebateu nesta quinta-feira (29/04) as acusações de difamação feitas pela fabricante da vacina Sputnik V e afirmou que o órgão regulador “não mentiu” nas justificativas apresentadas para negar a importação do imunizante russo ao Brasil.

“A Anvisa foi acusada de mentir, de atuar de maneira antiética e de produzir fake news sobre a identificação do adenovírus replicante (RCA). Não há nesta instituição nenhuma pessoa que tenha qualquer interesse ou júbilo em negar a importação de qualquer vacina”, disse Barra Torres.

O pedido para importação do imunizante anticovid Sputnik V foi rejeitado de forma unânime pelos cinco diretores da Anvisa na última segunda-feira (26/04).

Exibindo documentos que teriam embasado o veto à vacina russa, o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, afirmou que os números sobre “segurança específica deveriam estar zerados”, mas indicam “não mais do que 1 x 10³ adenovírus replicantes (RCA) por dose”.

“Os dados que nós avaliamos, que foram apresentados pelo Instituto Gamaleya, são dados que mostram que há presença do vírus replicante e há uma especificação; há uma aceitação do limite de produto de adenovírus replicante apenas eficaz no produto acabado. E essa especificação é definida trezentas vezes maior do que o maior limite regulatório. O esperado em vacinas é a ausência de vírus replicantes”, disse Mendes.

Pelo Twitter, a conta oficial da fabricante da Sputnik V comentou a coletiva realizada pelos representantes do órgão e disse que o pronunciamento “confirmou que [a Anvisa] não encontrou nenhum adenovírus replicante (RCA) na Sputnik V, mas se preocupou com o limite regulatório teórico russo para esse parâmetro”.

“Em carta enviada à Anvisa em 26 de março, o Instituto Gamaleya confirma que os controles de qualidade garantem que nenhum RCA esteja presente na Sputnik V”, disse o fabricante.

Ainda segundo os desenvolvedores da vacina russa, “o RCA não foi detectado na Sputnik V por todos os controles de qualidade, o que corresponde aos padrões mais rígidos, incluindo FDA e outros”. 

“Que bom que a Anvisa está começando a esclarecer a confusão que criou”, concluiu.

Em tom conciliador, o presidente do órgão chegou a dizer que rejeitou a importação do imunizante “com grande tristeza” e que a Anvisa está aberta “para avaliar novos estudos e informações que podem ser enviadas pelo desenvolvedor da vacina no processo de autorização de uso emergencial ou no pedido de importação”.

“Não estamos fechando a porta. Os dados apresentados podem ser revistos, corrigidos e reapresentados, mas a decisão do regulador é o retrato do momento”, disse.

Antônio Barra Torres respondeu acusações feitas pelo fabricante da vacina russa e disse que órgão regulador brasileiro não espalhou 'informações falsas'

Wikicommons

Presidente da Anvisa refutou acusações de que órgão regular brasileiro teria espalhado ‘informações falsas’

Fabricante diz que vai processar Anvisa por difamação

A fabricante da vacina Sputnik V havia anunciado mais cedo nesta quinta-feira que iria processar a Anvisa do Brasil por difamação por espalhar o que diz serem “informações falsas” sobre o imunizante russo.

“Após a admissão do regulador brasileiro Anvisa de que não testou a vacina Sputnik V, a Sputnik V está iniciando um processo judicial de difamação no Brasil contra a Anvisa por espalhar informações falsas e imprecisas intencionalmente”, escreveu a conta oficial da vacina no Twitter.

A fabricante afirma que o gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, teria admitido um “erro” na avaliação do imunizante, dizendo que o órgão não recebeu “amostras da vacina para teste” e que “não se fez teste para adenovírus replicado”.

No entanto, o Fundo Russo de Investimento Direto não disse onde e quando Mendes teria proferido a frase. Por outro lado, à rádio CBN, Mendes afirmou que a agência tem sofrido pressão para aprovar o imunizante, e classificou de “lamentáveis” as críticas do Fundo Russo. 

A Rússia acusa a rejeição do imunizante pela Anvisa de ter influências políticas.

Por que a Anvisa rejeitou a Sputnik V?

O pedido para importação do imunizante anticovid foi rejeitado de forma unânime pelos cinco diretores da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que alegaram problemas de ordem técnica e científica.

A agência constatou a presença de adenovírus replicante na composição da vacina, o que poderia acarretar riscos à saúde. A fórmula utiliza dois vetores adenovirais, um para cada dose, contendo sequências genéticas do coronavírus Sars-CoV-2, causador da covid-19.

Geralmente, adenovírus utilizados como vetores em vacinas são inativados para evitar sua reprodução dentro do organismo humano, mas isso não foi verificado nos lotes analisados, segundo a Anvisa.

“Um dos pontos críticos foi a presença de adenovírus replicante na vacina. Isso significa que o vírus, que deve ser utilizado apenas para carregar o material genético do coronavírus para as células humanas e promover a resposta imune, ele mesmo se replica. Isso é uma não conformidade grave”, disse Mendes.

Segundo ele, um adenovírus replicante poderia causar viroses ou se acumular em tecidos específicos do corpo humano, como o dos rins. Além disso, a diretoria da Anvisa alegou falta de documentos essenciais para a aprovação, inclusive de controle de qualidade, e problemas na fabricação por parte das empresas russas Generium e UfaVITA.

“Neste momento, o risco inerente à fabricação não é possível de ser superado, tanto para o insumo fabricado pela Generium quanto pelos produtos acabados fabricados pela Generium e pela UfaVITA, então a nossa gerência não recomenda a importação da vacina”, afirmou a gerente de Inspeção, Ana Carolina Merino. 

A vacina já foi aprovada em 60 países de diferentes continentes, com uma população de três bilhões de pessoas. O imunizante é o segundo com maior número de aprovações no mundo.