Sábado, 6 de dezembro de 2025
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A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30) começou oficialmente nesta segunda-feira (10/11), em Belém, no Pará. No discurso de abertura, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva mencionou o alinhamento entre ação climática, combate à fome e redução da pobreza e a luta contra o racismo ambiental.

“A mudança do clima já não é uma ameaça do futuro. É uma tragédia do presente”, afirmou ele ao citar o furacão Melissa que fustigou o Caribe, o tornado que atingiu o Paraná, as secas e incêndios na África e na Europa, as enchentes na América do Sul e no Sudeste Asiático. “O aumento da temperatura global espalha dor e sofrimento, especialmente entre as populações mais vulneráveis”.

Lula destacou o significado político e simbólico de sediar a conferência no coração da floresta amazônica. “Fazer a COP na Amazônia é tão importante quanto enfrentar a poluição no planeta. É mostrar que, quando existe vontade e compromisso, nada é impossível. O impossível é a falta de coragem para enfrentar desafios”, disse.

Ele ressaltou a hospitalidade do povo paraense e disse que a COP30 deve ser uma janela para o mundo conhecer a região para além de estereótipos. “A Amazônia não é uma entidade abstrata”, disse ao lembrar que “o bioma mais diverso da Terra é a casa de quase 50 milhões de pessoas, incluindo 400 povos indígenas, dispersa por nove países que ainda enfrentam desafios sociais e econômicos”.

Fundo de Florestas Tropicais para Sempre

A abertura ocorre após o encontro da Cúpula de Líderes pelo Clima, na semana passada, com chefes de Estado, ministros e representantes da sociedade civil. Durante as discussões foram apresentadas a proposta de um Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, que mobilizou US$ 5,5 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões) em um único dia.

O presidente citou compromissos já acordados como o manejo integrado do fogo; o reconhecimento e garantia da posse da terra para povos indígenas e tradicionais; a quadruplicação da produção de combustíveis sustentáveis; a criação de uma coalizão internacional de mercados de carbono.

Ele afirmou que “sem o Acordo de Paris, o mundo estaria fadado a um aquecimento catastrófico de quase cinco graus até o fim do século”, e avaliou que, “no ritmo atual, ainda avançamos rumo a um aumento superior a um grau e meio na temperatura global. Romper essa barreira é um risco que não podemos correr”.

Destacando as assimetrias entre o Norte e o Sul Global, forjadas sobre séculos de emissões, o presidente disse que “a emergência climática é uma crise de desigualdade. Ela expõe e exacerba o que já é inaceitável” e “aprofunda a lógica perversa que define quem é digno de viver e quem deve morrer”.

Na abertura, Lula defendeu evento no ‘coração da Amazônia’
Bruno Peres / Agência Brasil

‘Era da desinformação’

Ainda durante a fala, Lula também mencionou o obscurantismo e a era da desinformação. “Os obscurantistas rejeitam não só as evidências da ciência, mas também os progressos do multilateralismo. Eles controlam algoritmos, semeiam o ódio e espalham o medo. Atacam as instituições, a ciência e as universidades. É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas”.

O presidente defendeu uma transição justa, com responsabilidade diferenciada entre países ricos e países em desenvolvimento. “As emissões que nos trouxeram até aqui não foram distribuídas igualmente. Não aceitaremos que a conta recaia novamente sobre quem menos emite e mais sofre”.

Lula também propôs a criação de um Conselho Global do Clima, vinculado à Assembleia Geral da ONU.

Mais de 50 mil participantes e delegações de mais de 160 países participam do encontro que ocorre até 21 de novembro, marcando o retorno do Brasil como anfitrião de grandes negociações climáticas, três décadas após a Rio-92, quando a Convenção do Clima foi inaugurada.