'Manifestações são legítimas e vão continuar', diz CEO da COP30 após ato indígena
Em protesto pacífico, povos Munduruku bloquearam entrada de área restrita do evento nesta sexta (14); eles foram recebidos por autoridades
O pavilhão azul da COP30, onde estão as delegações internacionais do evento, foi bloqueado na manhã desta sexta-feira (14/11) por um protesto pacífico dos povos Munduruku, com cerca de 90 participantes. Eles foram recebidos sem violência pelos policiais e conduzidos por autoridades do evento para uma reunião extraordinária.
Durante o ato, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, a diretora-executiva Ana Toni e a líder indígena Alessandra Munduruku conversaram com os manifestantes na linha de bloqueio e os levaram para uma reunião emergencial, ao lado da Vila COP, com representantes da Defensoria Pública do Pará e das ministras Sonia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente).
Toni classificou os protestos como legítimos e disse que eles irão continuar. Ela explicou que os povos indígenas não teriam suas vozes ouvidas se a COP ocorresse em outro local. “A razão para ter uma COP na Amazônia é para ouvirmos as pessoas em situações mais vulneráveis, portanto, devemos abraçar as diferentes formas de protesto. Estamos dialogando com eles”, disse.
Ela também destacou que a edição brasileira da COP é muito mais inclusiva e conta com 900 indígenas credenciados, número três vezes maior do que nas edições anteriores.
“A manifestação que eles fizeram foi legítima. Eles pediram esclarecimentos sobre processos que dizem respeito não apenas à COP, mas também às políticas nacionais. Felizmente, ainda temos uma democracia muito forte [no Brasil], na qual as pessoas podem protestar da maneira que quiserem”, afirmou, ao garantir que a presidência do evento está conversando com os povos indígenas.
Protesto
Os Munduruku, que vivem no sul do Pará, reivindicavam uma reunião com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para pressionar pela revogação do Decreto nº 12.600/2025, que institui o Plano Nacional de Hidrovias. Segundo eles, a proposta abre caminho para dragagens, construção de portos privados e expansão da monocultura nos rios Tapajós, Madeira e Tocantins.
Eles criticaram as propostas de crédito de carbono e REDD+ jurisdicional, dizendo que elas representam “a venda da floresta” e ignoram as causas estruturais do desmatamento. Eles também cobram a retirada imediata dos invasores das terras indígenas e exigem o fim do Marco Temporal.

Em protesto pacífico, povos Munduruku bloqueiam entrada na COP e são recebidos por autoridades
Gabriel Corrêa/Rádio Nacional
Carta da ONU
O protesto desta sexta-feira foi o segundo nesta primeira semana de COP. Na última quarta (12/11), 60 manifestantes tentaram invadir a zona azul, mas não de forma pacífica como hoje. Houve quebra de equipamentos e um agente de segurança ferido.
Após o protesto, as Nações Unidas enviaram uma carta à presidência da COP30 e à Casa Civil do governo Lula, exigindo medidas de segurança. Segundo o secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, os manifestantes teriam entrado “desimpedidos” na área sob observação das forças brasileiras responsáveis pela segurança, que “falharam em agir ou seguir o plano de segurança combinado”.
O documento também mencionou preocupação com alagamentos, altas temperaturas e “portões de má qualidade”. Em coletiva de imprensa, a CEO do evento disse que governo brasileiro vem seguindo os protocolos de segurança e que respondeu a carta da ONU. “A comunicação é fluida com a ONU. Estamos debatendo”, disse.























