Sábado, 6 de dezembro de 2025
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Paralela à COP30 e reunindo cerca de 1.100 organizações de 62 países, a Cúpula dos Povos deu início à sua programação nesta quarta-feira (12/11) com o objetivo de resgatar o espírito de mobilização histórica que marcou o lado de fora da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio-92, realizada no Rio de Janeiro.

Naquele ano, paralelamente à conferência que ficou conhecida como a “mãe das COPs”, a sociedade civil e os movimentos sociais se organizaram em torno do Fórum Global, hoje também reconhecido como a primeira Cúpula dos Povos. O evento entrou para a história ao reunir mais de 10 mil organizações de diversos países no Aterro do Flamengo, região central da capital fluminense.

33 anos depois, a Cúpula dos Povos da COP30 busca fortalecer a articulação popular de movimentos sociais e organizações da sociedade civil de todo o mundo. “É a retomada da ação do povo ao lado de fora da COP. Uma mobilização da sociedade civil para tirar as lideranças globais da inação”, afirmou Caetano Scannavino, coordenador do projeto Saúde e Alegria, organização que integra a Cúpula, a Opera Mundi.

Para Scannavino, pensar medidas para combater as mudanças climáticas não é apenas “falar de carbono”, mas também “equidade de gênero, combate ao racismo, transição justa”. O integrante da Cúpula defende que ações desse tipo precisam começar revendo o “modo de vida que está nos levando ao fim da humanidade“.

A Cúpula dos Povos reúne coletivos, sindicatos, movimentos sociais e ONGs com o objetivo de articular a luta por justiça climática, soberania popular e uma transição justa. A programação é dividida em seis eixos temáticos, detalhados em um manifesto disponível no site da iniciativa.

Alguns representantes da iniciativa, porém, criticam a falta de espaço adequado para as demandas da sociedade civil. Segundo eles, a resposta aos desafios climáticos deve envolver a escuta dos povos que vivem nos territórios mais afetados pelas mudanças e pelos conflitos agrários. “É muito importante que as organizações que representam pessoas, de base, indígenas, trabalhadores, se envolvam na questão do clima, porque o clima impacta diretamente a vida das pessoas”, afirmou Tasneem Essop, diretora-executiva da Climate Action Network (CAN), maior rede internacional de coletivos socioambientais e integrante da comissão política da Cúpula.

A ativista sul-africana avalia que pouco tem sido feito para conter a emergência climática. De acordo com ela, os governos, especialmente os das nações ricas, “não estão fazendo o suficiente”. “As pessoas na linha de frente já estão sofrendo. Não se pode ignorar as mudanças climáticas. Elas têm efeitos diretos na vida cotidiana. Se você é um camponês, sua agricultura será afetada”.

Camila Araujo
Casa da Cúpula dos Povos está localizada no bairro Marco, em Belém (PÁ)

Ouvir os povos

A menos de uma semana do encontro em Belém, apenas 72 países haviam publicado suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), metas de redução de emissões de gases do efeito estufa e de adaptação às mudanças climáticas que cada país signatário do Acordo do País se compromete a propor e aderir.
A Comissão Política da Cúpula dos Povos vem trabalhando desde a COP de Dubai, em 2023, na construção do encontro.

“Os líderes precisam ouvir a Cúpula dos Povos, ouvir como os indígenas têm combatido a mineração ilegal e o extrativismo predatório que intensifica a morte dos povos. Devemos reforçar essa denúncia e apresentar soluções concretas. Queremos que os governos ouçam e coloquem em prática o que vemos como soluções reais”, disse Jacobo Ocharan, também da CAN.

Já o ativista Tyrone Scott, da organização inglesa War On Want e da Global Campaign to Demand Climate Justice, defende mudanças ao reforçar que a “temperatura do planeta não é negociável”.

“Quando os líderes mundiais falam em ‘1,5 grau’ ou ‘2 graus’, tratam como se fossem apenas números. Mas cada fração de grau significa mais vidas perdidas, mais casas destruídas, mais comunidades deslocadas e mais ecossistemas empurrados ao colapso”.

O estudo ‘2024 – O Ano Mais Quente da História’, realizado pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, analisou dados de 1991 a 2023 e constatou que cada aumento de 0,1 °C na temperatura média global do ar provocou 360 novos desastres climáticos no Brasil, com prejuízos de R$ 5,6 bilhões.

Entre 12 e 16 de novembro, a Cúpula dos Povos estará em Belém com uma série de atividades na Universidade Federal do Pará (UFPA), após ter iniciado a programação com uma barqueata que transitou da instituição universitária, no Rio Guamá, em direção à Vila da Barca, comunidade erguida há mais de 100 anos sobre palafitas às margens da baía do Guajará. No dia 15 de novembro, a Marcha Global Por Justiça Climática também vai mobilizar a capital paraense.